Querida quarentena,

É estranho esse senso de necessidade ou obrigação que a gente adquire desde criança. Você precisa comer, minha mãe dizia. Precisa ir para a escola. Precisa passar na faculdade. Precisa encontrar um marido.

Preciso dormir? Preciso acordar?

Agora, sem ninguém para me impor nenhuma necessidade ou obrigação, voltei à estaca zero. Sou de novo uma criança livre, mas presa nessa casa, nessa cama, nessa pessoa que sou hoje.

Sou prisioneira de mim.

Não importa se alguém lá fora disser que preciso dormir, acordar ou comer; não consigo, não sinto necessidade. Para quê? Para trabalhar direito? Para alguém me ver? Para alguém me querer?

Nada disso faz sentido mais.

Abro e fecho os olhos, caindo no sono mais uma vez sem perceber.

E os sonhos ainda não se calam:

Quero. Quero. Quero.

Querida QuarentenaOnde histórias criam vida. Descubra agora