Querida quarentena,

Você me conheceu numa situação atípica. O isolamento fez tudo sair das sombras e sensações aflorarem como nunca antes. Esse negócio de sentimento é novidade até para mim mesma.

Mas nada é surpresa para quem realmente te conhece.

"Já tava na hora, Bia."

"Hora do quê? De superar ele?"

"Não, miga. De sentir."

A Jé me acompanhou em todas as minhas fases desde o colégio. Às vezes mais distante, às vezes mais próxima, mas sempre melhor amiga. Em todo "oi" ou "adeus", ela olhava fundo nos meus olhos até enxergar tudo que eu estava passando.

Mas eu mesma me recusava a enxergar.

Ainda assim, nosso abraço sempre consolou as minhas dores mais adormecidas. Mesmo que eu não tivesse coragem de admitir nem falar sobre isso, ela sempre esteve ali pra mim.

"É, a minha fase baladeira pós-término durou um pouco mais do que devia, eu sei, Jé."

"Muito antes disso, mulher... Eu não via você sentindo a si mesma desde quando aconteceu aquilo tudo com os teus pais."

E eu aqui achando que não tinha mais nada pra sentir dentro de mim.

Querida QuarentenaOnde histórias criam vida. Descubra agora