Querida quarentena,

Embora estejamos em confinamento, o mundo ainda dá voltas. As estações mudam. Os primeiros dias frios do ano começam a chegar. Tiro o cobertor do armário para esquentar meus pés, mãos e ombros, apesar de não saber mais se é por conta da chegada dos ventos gelados da primavera.

Isolada e desolada.

As mensagens dele caminham na linha tênue entre a educação e a frieza, e eu caminho na corda bamba entre a esperança e a culpa. Talvez nossa história mereça mais carinho e atenção. Talvez minhas ações mereçam alguma forma de punição.

"Eu não estou aqui pra julgar o que você merece", ele rebate.

Pois bem que deveria. Que tipo de pessoa puxaria altas brigas com o namorado na frente da família? Que tipo de parceira teria ciúme até dos amigos dele? Que tipo de namorada terminaria o namoro na véspera do dia dos namorados? Ah, verdade. Eu.

"Eu nem quero entrar no mérito. Só não tenho as respostas que você procura", ele envia.

Que se danem as perguntas, então. Só preciso de seus ombros largos para me abraçar, suas piadas sem graça para me distrair e suas mãos para me lembrar que eu não estou sozinha, que eu ainda sou importante para alguém, que eu ainda existo.

"Não é de mim que você precisa, Bia."

Querida QuarentenaOnde histórias criam vida. Descubra agora