Querida quarentena,

Eu não sei o que responder quando me perguntam como eu estou. Porque eu estou bem, mas também não muito. Meu coração dança, redescobrindo pequenos prazeres do meu dia. Mas minha mente por vezes se perde no passado, insistindo na culpa.

"A gente não é uma coisa só. Tá tudo bem."

A Jé poderia patentear essa frase dela: tá tudo bem. Quase virou um mantra para ela nos últimos tempos, mas, sinceramente, não consigo acreditar de verdade. Porque "tudo" é tudo mesmo.

Tudo é frágil demais para estar 100% bem.

"Não é absolutamente tudo, Bia, mas é o que a gente consegue hoje. E já é suficiente."

Ah, é isso. Ela está inspirada hoje - quase uma
palestrante/poeta/coach de um daqueles vídeos motivacionais que a gente recebe no grupo da família. Mas eu não sei se estou com paciência para isso.

"Mais fácil falar do que fazer, Jé."

"Na verdade, não é não, Bia. É só o que aprendi com o meu terapeuta."

Terapeuta???

"Sim, tua mãe que me passou o contato dele..."

Minha mãe???

A Jé estava no fundo do poço desse jeito, a ponto de procurar um terapeuta? E minha mãe também, mesmo sendo a última pessoa do mundo a acreditar em terapia?

Ninguém está bem.

Só eu que não vi da minha janela.

Querida QuarentenaOnde histórias criam vida. Descubra agora