Querida quarentena,

Agora no isolamento, a gente para pra pensar em coisas que nunca pensaria normalmente. Tipo, "por que eu nunca aprendi a fazer bolo de cenoura?", "por que eu reclamava tanto de praia cheia de gente?" ou, no caso da minha mãe, "por que a gente gosta tanto de chamar mulher de guerreira?".

"Não sei, filha, sempre me chamaram assim, mas não consigo ver como um baita elogio."

De fato, eu sempre li "guerreira" em várias homenagens de dia das mães. Se bobear, até em algumas que eu mesma fiz, fazendo referência a essa mulher forte, heroína e até invencível em meio a todas as adversidades da vida.

Mas achei que era um elogio.

"É que nem sempre a gente se sente forte assim, mesmo vencendo a luta, filha."

Entendo bem isso. A Jé me diz que superei os obstáculos da minha adolescência e me tornei uma mulher independente, mas me sinto frágil, não importa quantas medalhas isso pudesse me dar.

Ainda é pesado. Meu coração ainda pede colo.

"Não te vejo como guerreira e nem quero isso para você, Bia. Mas te vejo como uma sobrevivente, que abraça o que tem de forte e de vulnerável, sem medo de lutar nem de se entregar ao amor."

Suas palavras aquecem meu braços, relaxam meus ombros e envolvem meu coração como uma onda do mar invade a areia da praia. Ainda assim...

"Não sei, mãe, acho que me entreguei mais ao amor dos outros do que ao meu próprio."

"É um aprendizado delicado e frágil para todas nós, filha. Mas nem por isso deixamos de ser fortes."

Querida QuarentenaOnde histórias criam vida. Descubra agora