Querida quarentena,

Minha hiperatividade nunca soube a hora de parar. E até agora, com mais de um mês em isolamento em casa, ela insistia em não ceder, como uma criança que resiste ao sono depois de um dia agitado. Mas, assim como a criança, ela também foi vencida pelo cansaço.

Comecei a gostar de yoga.

Provavelmente, eu faço todas as posturas erradas ou bem mais desajeitadas do que deveria. Ao mesmo tempo, não tem ninguém em volta para me dizer isso. Por isso, prefiro focar em como me sinto ao fim de cada prática de yoga, assim como em todas as outras práticas aqui em casa.

Eu me sinto bem, sem forçar, sem doer.

Normalmente, eu tentaria fazer as posturas mais difíceis, provar que eu sou forte e todo aquele papo de superação. Mas eu não quero mais testar meus limites toda hora. Talvez em outro momento, quando eu precisar ou quando eu estiver pronta. Por ora, só quero continuar redescobrindo cada cantinho do meu corpo, cada memória que tenho em mim, cada mágoa que eu insisti em guardar.

E deixar passar.

Com calma.

Respirando.

Vai ver minha mãe está certa. Vai ver ainda tenha muito espaço pra gente se redescobrir.

"Às vezes, só é preciso achar o caminho de volta pra casa, filha. De volta pra gente mesma."

Querida QuarentenaOnde histórias criam vida. Descubra agora