Querida quarentena,
Não sou muito boa com plantas. Não sei ao certo quando precisam de sol ou de água. Eu só deixo o vaso ali e espero as folhas secarem, quase gritando pra mim que precisam de água.
Minhas folhas também secaram.
Busco o copo na cozinha e paraliso na dúvida entre tomar água gelada ou na temperatura natural. Quero sentir o fio se espalhar pela minha boca ou só a suavidade natural passando pelos meus lábios?
Uma dúvida tão pequena, um dilema tão grande.
Acho que desde pequena preferi água natural, nunca andar descalço pela casa e tomar banho logo pela manhã. E até agora, com 20 e tantos anos, só coloquei todas essas vontades e preferências no piloto automático e nunca mais questionei de novo.
Mas o isolamento questiona tudo.
Preciso matar minha sede. Quero descobrir como gosto da minha água.
Encho o copo com cubos de gelo até perder a conta e preencho com a água do filtro. Espero alguns minutos, aproveitando para tomar coragem como se aquela fosse uma poção mágica. Viro a água gelada na minha boca, que quase quebra meus dentes e dita um inverno na minha garganta.
Meu cérebro congela, e meu riso explode pela boca.
É a primeira vez em muito tempo que rio sozinha.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Querida Quarentena
General FictionQuerida quarentena, As pessoas vivem falando que você vai passar. Mas eu não sinto isso. Porque ninguém tem certeza. Ninguém realmente sabe. Do mesmo jeito que eu não sei se esses sonhos com ele vão passar. Ou essa vontade de estar nos seus braços d...