Querida quarentena,

Há mudanças que não têm volta. Não tem como fechar os olhos de novo. Não tem como voltar atrás. Mas também há erros que a gente insiste em repetir, como uma coreografia que precisa de várias repetições de um movimento apenas.

Tenho medo de voltar atrás.

A porta do apartamento me encara o dia todo,
me lembrando que um mundo inteiro me espera lá fora, com as mesmas pessoas e problemas de antes.

Quem eu era também me espera lá fora?

Às vezes, tenho a impressão de que aquela pessoa que eu era - desconectada de seus desejos, necessidades, força e valor - está à espreita, logo na primeira curva do corredor, aguardando seu momento de retornar e me tirar do eixo.

Não quero mais ser aquela pessoa.

Não sei se as minhas mudanças já não tem mais volta. Não sei quais erros ainda vou ter que repetir para aprender.

Não quero, não quero, não quero.

Mas, quando a porta abrir, será que eu tenho escolha?

Querida QuarentenaOnde histórias criam vida. Descubra agora