Querida Quarentena,

Do que eu realmente preciso?

O que eu quero de verdade?

Se antes eu só me fiz as perguntas erradas, agora mal consigo respirar, imersa num mar de perguntas certas. Não importa quantas respostas eu cogite, nunca consigo chegar à superfície. Não sei por mais quanto tempo consigo segurar meu fôlego. Não sei se toda essa busca vai valer a pena.

Vou enlouquecer aqui se não conseguir respirar.

Saio de casa pela segunda vez em quase 30 dias, mas abandono a culpa de sentir que estou fazendo algo errado no meu quarto. Eu quero achar as respostas, mas preciso de uma pausa de mim mesma. Ponto final. E dane-se o que os outros pensarem quando me virem estirada no gramado, de pijama, contemplando o céu amanhecido.

A Lua me contempla de volta.

Ela mantém seu espaço no céu, mesmo que esse não seja seu momento de brilhar. Sol ou chuva, agora ou há 10 mil anos, ela sempre esteve ali, como um pontinho no meio do nada, nos observando em silêncio. Em comparação a todas as transformações que ela testemunhou a Terra passar, a pandemia é apenas mais um pequeno ponto da virada na história do planeta.

Ainda assim, o caos ainda é real.

Tudo é uma questão de perspectiva.

Em comparação a todas as transformações que esse caos está causando, minha busca interna também é pequena, mas nem por isso deixa de ser real nem dolorosa. O maior não anula o menor. O absoluto não é mais importante que o relativo. O macro é tão essencial quanto o micro.

Mas todos eles precisam de tempo, me diz a Lua.

Eu sorrio para a Lua.

E a Lua sorri para mim.

Querida QuarentenaOnde histórias criam vida. Descubra agora