Alvo Fácil (ruggarol)

Escolhas

Estou aqui observando o céu enquanto o meu universo se desfaz mais uma vez

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- Eu o conhecia - divago

- Quem ? - Ruggero questiona tamborilando os dedos sobre a perna

- Gaston. Eu sei como ele morreu, eu estava lá - ao fechar os olhos as recordações perpassam vívidas em minha mente

Mike trabalhou para o Gaston, e no dia em que o conheci, Gaston também estava lá. Michael fazia todo tipo de trabalho para ele, sabe, coisas ilegais que ele não poderia fazer mas poderia nos ajudar por causa do poder do seu uniformezinho

O primeiro trabalho para Gaston ao qual eu tive participação foi um roubo de diamantes, ele nos ajudou a exportá-los, mas sempre tínhamos menos da metade dos lucros e essa era a questão de quase todos os desentendimentos entre Michael e Gaston

Descrever somente como desentendimento seria um eufemismo.

Então nos tornarmos descartáveis para ele, Mike disse que se não o matássemos ele certamente nos mataria

- O que quer dizer com isso ? Está tentando justificar o fato de terem o matado ? - ele pergunta com a voz esganiçada

- Foi isso que você me ouviu dizer ? Está sempre tentando me pintar da forma mais desagradável que pode. É verdade que eu estava lá, mas eu não disse que fui eu quem o matei, eu não concordava com isso, mas sei também que nada disso me isenta da culpa. Para mim bastava Michael e eu encontrarmos um lugar novo, longe de tudo isso, mas não para ele.

Para ele nunca bastava

- Por que eu deveria acreditar em tudo o que me disse sobre o Gaston ? Eu o conheci a vida inteira, e a pessoa que você me descreveu não se parece em nada com ele - questiona cético

- Inacreditável - suspiro exasperada - por que me pede para te contar toda a verdade se a cada oportunidade que tem duvida de minhas palavras ? - retruco

- Tudo bem - Ele ergue as sobrancelhas sugestivo para que eu continue a falar

- Michael e eu iríamos embora logo após ele resolver o seu pequeno impasse, então estávamos no carro com tudo aquilo que julgávamos valioso. Ele pediu para que eu ficasse no carro enquanto ele conversava com o Gaston.
Eu sabia o que ele faria e eu não gostaria de presenciar nada disso então permaneci de olhos fechados até ouvir um barulho, seguido por outro, e outro

Busquei o olhar de Ruggero para verificar se ainda estava me escutando, seus olhos estavam voltados para o piso de concreto. Então mantive os meus olhos no teto para não fechá-los e ser obrigada a presenciar a cena descrita em minhas palavras

Inspirei e expirei uma, duas, três vezes antes de prosseguir

- Nunca havia julgado o silêncio como algo perturbador, mas quando não consegui ouvir mais nada além de um simples zumbido do motor do carro que eu havia ligado, entrei em completo pânico, desci do veículo e prossegui até encontrá-los.

- Gaston estava inerte no chão e Michael estava com uma barra de ferro pendendo entre os dedos, fitando o lugar onde o corpo estava como se não houvesse feito nada de grave, eu não queria nada além de ir embora, então ele devolveu a barra de ferro ao chão, fincando-a como se nunca houvesse saído de lá. Vocês estavam procurando algo que estava escondido, por isso não a acharam, ela estava lá sob a luz do sol o tempo inteiro - completei limpando uma lágrima sorrateira no canto dos olhos

- Por favor apenas não simule condolências - ele responde indolente

Inspiro profundamente, pelo que parece ser a milésima vez no dia, e tento afastar o nó em minha garganta, como soar minimamente coerente enquanto sente-se desintegrar em pedaços ?

- Na vida você machuca e é machucado, ninguém sai ileso. Eu não sei quantas vezes mais precisarei te dizer que sinto muito, sinto tanto, por ter sido você o alvo de uma pessoa odiosa  - pigarreio antes de prosseguir

- carregamos escolhas, e para todas há uma consequência. Boas ou ruins, você deve escolher sem nenhum arrependimento. Você tem sido a minha escolha e a única coisa pela qual não tenho arrependimento. Eu não quero lhe dar uma única opção, nem um ultimato. Contudo eu preciso que você me diga o que será de nós três ?

Descanso as mãos sobre a protuberância debaixo da blusa e o vejo direcionar o olhar até as minhas mãos, como se por um segundo houvesse esquecido o que ainda nos mantém ligados

Ruggero pasquarelli

Fito suas mãos sobre a barriga e o questionamento que vem me assombrando por todos esses dias preenche os meus pensamentos

Como ela deixou que isso acontecesse e por que ?

- Eu não sei se isso faz de você uma vadia ou estúpida - digo ríspido

Antes que ela tenha a chance acertar o meu rosto com a palma da mão eu a seguro

- você vai se arrepender de sequer ter cogitado isso - ela indaga com a voz embargada

- Não pretendo ter essa conversa novamente com você, essa e qualquer outra - retruco exasperado

Antes de ela ter a chance de falar, caminho a passos largos em direção à porta e desço as escadas

Preciso falar com o Agustin

Pesco o celular do bolso de trás da calça e ligo para ele

Desligado

Tento mais uma vez e antes de ceder ao bip irritante e insistente do outro lado da linha, sou golpeado com força na cabeça

A minha visão fica turva e as minhas pernas perdem a força me fazendo ir ao chão.

O meu cérebro não responde aos meus comandos e antes que eu possa tentar me reerguer sou golpeado outra vez com maior intensidade

Uma dor gradual e lancinante aponta em minha cabeça e começo a perder a consciência.