Medo

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O dia transcorreu de modo leve, todos dentro da piscina exceto eu que me mantive sentada o tempo inteiro na espreguiçadeira observando a todos. E principalmente a Eva que a todo instante tentava atrair a atenção de Ruggero, o que já estava se tornando incômodo.

Com a ausência de sol e calor todos se retiraram da piscina. Logo a noite depois de um jantar tranquilo com todos á mesa, me direcionei até a varanda da casa observando como o lugar ficava ainda mais exuberante durante á noite.

Caminhei até a área da piscina, retirei o meu vestido e o coloquei no chão, ajeitando o biquíni, os meus pés lentamente tocaram a água gelada e em um impulso submergi todo o meu corpo.

Permaneço imóvel flutuando sobre a água, observando o céu em toda a sua imensidão vasta de estrelas.

A água ganha pequenas ondas de euforia quando um corpo é submerso por ela, instantaneamente saio da minha posição puramente estática e observo Jorge emergir e se aproximar de mim com um sorriso pretensioso.

- O que faz aqui sozinha ?

- Eu gosto de ficar sozinha - me afasto abraçando o meu próprio corpo na tentativa de cobri-lo para desviar de seu olhar avaliador - Acho que eu já vou indo .

- Não vai por favor fica - segura a minha mão

- Karol, vamos ?

Olho para trás e encontro Ruggero com o meu vestido e uma toalha nas mãos, com uma feição séria. Me dirijo até a borda da piscina e ele me ajuda a sair, colocando em seguida a toalha sobre os meus ombros.

- Eu estava te procurando

- Eu sai pra tomar um ar e acabei vindo para a piscina - falo pausadamente pelo tremor que o frio causa em contato com a minha pele molhada.

- Tudo bem, vamos antes que você fique doente - entrelaça nossos dedos e percorremos o mesmo caminho feito por mim anteriormente de volta para casa.
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Me reviro algumas vezes na cama e ouço Malena emitir um barulho rouco e estranho na cama ao lado, acho que esse pode ser um dos motivos pelo qual insistiram tanto para eu dividir o quarto com ela.

Olho para o relógio de cabeceira que marca 2 horas da madrugada, decido me levantar para beber água, convencida de que não conseguirei voltar a dormir tão cedo.

Caminhando pelo extenso corredor, percebo a luz do último quarto acesa, e ouço um ruído vir de lá. Esse é o quarto do Ruggero.

Me aproximo e giro a maçaneta da porta lentamente, até que eu consiga ter uma visão clara do quarto.

Me espanto ao me deparar com o Ruggero sentado no chão do quarto com as pernas próximas a ele, e as mãos se agarravam aos cabelos e o puxavam enquanto ele soluçava freneticamente.

Meu coração acelera abruptamente ao vê-lo nessa situação. Eu não sei ao certo o que devo fazer, eu jamais presenciei Mike chorar, não sei se devo dar privacidade a ele ou ajudá-lo. Involuntariamente me aproximei dele  no chão e toquei seu braço, o que o fez se sobressaltar ao perceber que alguém estava no quarto.

Ele parecia estar em meio a uma crise, por um momento os seus olhos encontraram os meus, e pareciam perdidos e vazios, como eu jamais os vira. Ele movimentava os olhos o tempo todo, eu arriscaria dizer que ele estava com medo.

- Por favor Rugge me diz, tem algo que eu possa fazer por você

Não recebo qualquer resposta ou sinal de que ele está me ouvindo, apenas media o olhar entre todos os cantos do quarto até encontrarem novamente os meus olhos e várias lágrimas riscarem o seu rosto tão rápidas quanto um raio risca o céu

- Você está com medo de alguma coisa ? - pergunto receosa e novamente ele leva o olhar para algum lugar no quarto e em seguida apoia a cabeça nos joelhos

Me retiro do quarto vasculhando todos os cantos da casa apanhando travesseiros, retorno ao quarto e cubro todos os cantos da cama com travesseiros.

- Já assistiu algum filme de terror infantil, onde tem uma árvore assustadora que faz sombra no quarto ou bate na janela ? - seguro ele pelas mãos o ajudando a levantar - quando eu era pequena, a janela do meu quarto tinha uma árvore dessas. Todas as vezes que eu sentia medo dela, a minha mãe cobria todos os cantos da cama com travesseiros para que eu me sentisse segura - passo os polegares suavemente por seu rosto limpando qualquer vestígio de tristeza.

Nos deitamos, e ele se agarra a mim como se eu fosse um bote salva-vidas, eu sinto os seus batimentos cardíacos desacelerarem a medida que ele vai adormecendo. Seus soluços são o único som audível em toda a casa. As minhas mãos acariciam seus cabelos até que eu sinta os meu olhos pesarem.

Alvo Fácil (ruggarol) Onde histórias criam vida. Descubra agora