Onde você estava?

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Desvio de alguns carros no tráfego e ouço algumas buzinas soarem estridentes, mas não consigo manter a minha atenção nos automóveis com os sonidos agudos

Sinto meu coração palpitar freneticamente dentro do peito e me empenho em inspirar e expirar, como se eu já não soubesse como respirar e o oxigênio insistentemente escapasse das minhas vias respiratórias

A Karol me telefonou do hospital e me disse que estava no apartamento mudando algumas coisas de lugar quando caiu e aparentemente fez um pequeno corte na cabeça

Ela estava longe de mim e isso é culpa minha por ter sido muito rude com ela, sinto um aperto no peito só de pensar na ideia de qualquer coisa que possa machucá-la

Estaciono o carro em um solavanco e ouço o barulho do atrito do pneu em contato com o asfalto, desço e ando tão rapidamente quase a ponto de correr até a recepção do pronto socorro

- Pode me informar onde está a paciente Karol Sevilla ? - pergunto pouco me importando com os bons modos

A mulher de cabelos cacheados a minha frente me fita com clara impaciência antes de dedilhar sobre o teclado e encarar a tela do computador

- Informações somente para familiares senhor - me responde com os olhos ainda na tela á sua frente

- Eu sou o noivo dela e pai do bebê - informo e lhe entrego os meus documentos

Ela os analisa antes de me comunicar que a Karol esta sendo examinada por um obstetra no fim do corredor a direita

Me dirijo apressadamente até o fim do corredor e contorno algumas pessoas que parecem absortas de qualquer acontecimento ao seu derredor, chego à porta e não reprimo os punhos contra a madeira, sem me preocupar com os olhares curiosos direcionados a mim

Uma mulher pequena com uma expressão assustada se aproxima de mim

- O que o senhor está fazendo ? Terei de chamar a segurança se não se controlar

- Eu preciso ver a minha namorada ela está lá dentro - comprimo e abro as mãos para controlar o tremor

A porta do consultório se abre e um senhor de alguns poucos fiapos grisalhos no topo da cabeça e de jaleco branco me olha de cima a baixo

- O senhor é o Ruggero ? Eu sou o doutor Afonso - me estende a mão, que logo cumprimento

- Eu posso entrar, por favor - imploro

Ele abre passagem, dou alguns passos incertos até avistar Karol, ela não parecia ter simplesmente caído enquanto redecorava o apartamento.

Observo solícito cada pequena parte do seu corpo que dispõe de alguns arranhões diminutos, outros maiores e hematomas, até me prender em seus olhos, que pareciam amedrontados e a espera de qualquer reação vinda da minha parte

- Amor, como você está ? Me assustou - me direciono a ela a passos lentos e seguro a palma de suas mãos, deslizo o polegar por um arranhão e deposito um beijo casto em sua testa

- Não dói tanto - as palavras deslizam de seus lábios com alguma debilidade, o que me faz duvidar do que ela diz

Não seria a primeira vez que ela mente

Balanço a cabeça para me livrar desses pensamentos, eu não preciso disso agora, nem ela

- Aparentemente não há problema com o bebê, mas eu recomendo repouso, esse deslize poderia ter causado danos ao feto - o doutor Afonso adverte

Após algumas recomendações e orientações, eu asseguro ao doutor que a Karol irá ficar de total repouso.

Entrelaço nossos dedos para a ajudar a caminhar até o estacionamento.

A volta para a nossa casa foi feita de forma tácita, o único sentimento que me permiti ter foi de pura preocupação.

Um segundo sequer soltei a mão dela e temi que se o fizesse poderia perdê-la, então a segurei firmemente até que estivéssemos protegidos pelas paredes da nossa casa.

- Agora que estamos em casa, pode me dizer a verdade, onde você estava ? - pergunto cauteloso

Alvo Fácil (ruggarol) Onde histórias criam vida. Descubra agora