¡ARRIBA!

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CARMEN

Passar duas semanas com a Baronesa foi um dos maiores e mais gostosos erros que já cometi em minha vida. Com o passar dos dias eu passei a me sentir mais atraída, mais ansiosa com sua chegada à noite, mais entregue aos seus toques do que jamais estive, mais empolgada com nossas conversas que por vezes duravam a madrugada inteira, com as risadas que dividimos. Me tornar sua acompanhante nesse tempo foi um erro tremendo e só tive dimensão disso quando passamos nossa última noite juntas antes dela voltar à fazenda. Enquanto me possuía na escuridão da madrugada, tive certeza de que sentiria falta dela e não só do prazer, como na última vez, mas de tudo. Tudo que ela me fazia sentir e que eu não entendia.

"Isabel chegou mais perto, deduzi que deixaria um beijo em meu rosto como fazia toda a manhã antes de sair daqui. Devagar ela se aproximou, senti o coração bater descompassado quando seu nariz tocou o meu em um carinho e diferente de todas as vezes em que ela tentou, eu não saí, não tive forças para resistir e fechei os olhos, queria aquilo tanto quanto ela. Senti seus lábios macios e não me afastei, nosso beijo foi calmo e intenso. Mexeu comigo. Mais do que deveria.

Até a volta, Carmen!"

Suspirei revivendo cada segundo daquele momento e me perguntando como deixei acontecer. Ainda estava lá, sentada na cama, nua e perdida. A única coisa que consegui fazer foi me jogar no leito em choque e com a certeza de que Isabel levou com ela um pedaço de mim.

***

Estava sentada na poltrona perdida em devaneios fumando meu cigarro e bebendo um vinho delicioso. Faziam quase duas semanas que a Baronesa tinha retornado à fazenda e decidi que hoje eu não desceria ao salão.

Isabel não saía um segundo sequer dos meus pensamentos e desde que foi embora, eu me joguei no ofício. A casa nunca lucrou tanto em tão pouco. E eu nunca me senti tão assustada. Procurei as sensações que ela me proporcionava em todos os homens que pisaram em meu quarto e não encontrei nem resquício em nenhum deles. Era desesperador. Eu sei que caí na armadilha que era aquela mulher e sair dela seria doloroso.

– Não vai mesmo descer, Criança? – Margot entrou no quarto me tirando dos devaneios.

– Sem condições, a semana foi cheia, eu enchi seus bolsos e hoje ficarei aqui. – Resmunguei sem tirar os olhos da taça.

Margot me conhecia a anos, desde que eu era uma menina e se algo estava errada ela, de uma forma ou de outra, saberia. E é claro que ela soube que eu não estava normal.

– ¿Qué pasa, Margot? – Perguntei em um suspiro enquanto revirava os olhos. A mulher estava na minha frente com as mãos na cintura me encarando.

– Sabes que no puedes esconderme cosas, Carmen.

– Esto no es asunto tuyo... – Fiz um gesto de desdém, mas ela não desistiu.

– Carmen, todo lo que te pasa es assunto mio. – A mulher sentou na cama, ela tinha um senso de responsabilidade comigo, me amava como sua filha e eu a amava muito também, mas não queria ouvir nada agora.

– No soy una niña, Margot. - Respondi irritada.

A mulher sorriu para mim e eu apenas desviei o olhar.

– No quería que trabajaras en eso cuando te traje de la España.

– Tu sabes que esta es mi vida. ¡Estoy aquí porque es donde quiero estar! Soy una mujer libre acá. – E era. Cada palavra que disse era a mais pura verdade.

– Solo ten cuidado, Carmen. Tu corazón puede ser tu única prisión, yo sé bien... – Suspirou pensativa, com um sorriso triste e nostálgico. – Tengo que volver al salón ahora, pero antes... – Margot se levantou para sair, mas virou para mim e eu sabia o que ela ia dizer. – Ten cuidado con la Baronesa de Vassouras, podrías lastimarte.

A Cortesã e a Baronesa - Livro IOnde histórias criam vida. Descubra agora