Mi Baronesa

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Isabel

Carmen adorou cada canto do quarto de Rafael. Eu cuidei de todos os detalhes, os brinquedos, os móveis, a cor do papel de parede. Foi uma felicidade imensa ver que minha mulher gostou da surpresa. Agora nosso filho tinha um espaço só dele.

Margot iria embora na manhã seguinte e como eu tinha assuntos para resolver na capital, resolvi acompanhá-la. A mulher mostrava uma fragilidade que era bastante preocupante.

Carmen me contou um pouco de sua história, foi a primeira vez que falou da vida antes do bordel. Eu não conhecia absolutamente nada de seu tempo na Espanha. Ela nunca tocou no assunto e eu achava melhor não forçá-la a falar sobre algo que era notoriamente sofrido e difícil.

Nos despedimos e partimos rumo a capital. Margot estava sentada à minha frente na carruagem e por vezes suspirava incomodada.

– Estás bem? - Disse preocupada.

Ela forçou um sorriso e suspirou.

– Bem, na medida do possível, minha querida... Somente com um pouco de dores nas costas. - Ela falou sem me encarar.

Fiquei em silêncio por alguns minutos observando-a.

– O que está acontecendo, Margot? - Ela me olhou e suspirou de novo.

– Foi um tombo... - Não deixei ela continuar.

– A verdade, Margot... - Falei paciente.

Ela me olhou triste.

– Como disse a Carmen, a velhice chega para todos, Querida! - Deu uma risadinha.

– Sempre foi uma mulher vigorosa, lembro de quando a conheci... - Ela sorriu.

– Estou cansada, Isabel... Já andava assim a algum tempo, antes mesmo de Carmen vir para a fazenda. Só nunca comentei nada com ninguém. Os meses foram passando e tudo foi piorando. O médico disse que tenho muitas tarefas para uma mulher da minha idade, que deveria repousar nessa fase e não tomar conta de uma pensão de luxo. - Disse rindo e revirando os olhos.

– Margot, deveria escutar os conselhos do médico... - Me ocorreu a ideia de dizer para ela o mesmo que comentei com a minha mulher e sei que seria do agrado dela. - Por que não vem ficar na fazenda? Lá terá o repouso que precisa, terá Carmen, Rafael... - Ela sorriu largo. - Cuidaremos de ti e tua filha ficaria radiante de ter tua presença na nossa casa. - Sorriu mais, pegou em minha mão e apertou de leve.

– Fico lisonjeada com o convite, Minha Querida! - Acariciava minha mão e me olhava com ternura. - Tu poderias ter sido minha filha... - Ela disse emocionada e via as lágrimas descerem em seu rosto cansado. - Não tem um só dia em minha vida em que não pense em Jorge... Em tudo que poderíamos ter vivido juntos. - Margot secava as lágrimas e me emocionei junto com ela. - Eu só quero encontrá-lo de novo, tenho tantas saudades... - Ela virou o rosto e olhou pela janela da carruagem.

– Eu sinto muito, Margot... - Ela sorriu em meio às lágrimas.

– A pensão é minha vida, Isabel! As meninas são minha responsabilidade, por mais que teu convite me seja tentador, não posso deixar tudo que construí para trás... Ficarei na minha casa, até o dia da minha partida. - Disse firme mas de um jeito doce.

Não insisti no convite. Era nítido que Margot não queria abandonar a casa e eu respeitaria a decisão. Também não abandonaria minhas fazendas e todo trabalho da vida de meu pai.

Doeu meu coração vâ-la naquele estado. Era difícil imaginar minha vida sem Carmen... Meu pai e Margot passaram a vida sofrendo pelo seu amor impossível e longe um do outro. Foi uma vida triste para os dois, não queria o mesmo para nós duas.

A Cortesã e a Baronesa - Livro IOnde histórias criam vida. Descubra agora