Héloïse

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Isabel

O médico que Plínio indicou já nos esperava no consultório. Era um homem idoso, que fez quase toda sua carreira na Europa e voltou ao Brasil há alguns anos. Foi muito atencioso com Rafael e parecia ter bastante experiência com crianças, assim como Plínio me garantiu.

Héloïse ficou ao meu lado enquanto o médico virava Rafael do avesso. O menino parecia gostar das brincadeiras que o homem mais velho fazia e não chorou em nenhum momento.

– Baronesa...

– Sim, Doutor. – Me aproximei da mesa que Rafael estava deitado.

– Me chame de Raul, por favor. – Disse sorrindo.

Concordei e continuou.

– Aparentemente o menino apresenta alguns sinais de atraso na parte motora, como Plínio já havia informado as senhoras. – Disse olhando para Héloïse também. Suspirei preocupada.

– Tem algum tipo de tratamento? – Disse aflita.

Ele brincou mais uma vez com Rafael e disse.

– Não é um estado irreversível, pelo menos não posso dizer isso em definitivo. Rafael, não respondeu aos testes que fiz, mas ele pode ter somente um atraso, ser um pouco mais lento para algumas atividades que outras crianças de sua idade. – Héloïse segurou em minha mão dando apoio.

– O que podemos fazer para ajudá-lo?

Rafael resmungou um pouco e ensaiou um choro. Doutor Raul o pegou no colo e olhou para Héloïse.

– Acho que ele quer a mãe dele... – Disse sorrindo e entregando Rafael a Héloïse.

Meus pensamentos foram diretos para Carmen. Era ela que deveria estar aqui comigo e Rafael.

– A senhorita não é mãe dele. – Falei sem pensar e Héloïse abaixou a cabeça triste. Me arrependi no instante seguinte.

Raul se desculpou com o olhar e Rafael se agarrou em seu pescoço, se acalmando rapidamente.

– Como ia dizendo Baronesa, preciso fazer outros testes no menino, mês a mês acompanhar sua evolução e com alguns exercícios incentivá-lo a reagir. – Ainda estava aflita, só conseguiria me acalmar quando realmente ele mostrasse sinais de que evolução.

– Podemos trazê-lo aqui no próximo mês ou o senhor pode ir até a fazenda se não for problema? – A viagem era cansativo para a criança.

Ele pensou um pouco antes de responder.

– Creio que não terei problema para atendê-lo na fazenda. Mas os exercícios podem ser feitos em casa, vou passar as senhoritas uma lista do que deverão fazer para estimular os movimentos do menino.

Raul nos explicou passo a passo dos cuidados que deveríamos ter com Rafael daqui para frente.

– Até o próximo mês, Baronesa. – Disse me esticando a mão.

– Muito obrigada pela ajuda com meu filho, Doutor Raul! – Apertei a sua mão e assim nos despedimos.

Andei na frente enquanto ela ainda se despedia de Raul. A carruagem estava à nossa espera em frente ao prédio. Olhei para a rua movimentada e meu coração parou por alguns segundos quando a vi. Carmen estava do outro lado da rua, me olhando intensamente e um sorriso tímido saiu de seus lábios. A vontade de correr até ela e a abraçá-la era imensa, mas a raiva e decepção ainda eram maiores.

Voltei a mim quando escutei a voz de Héloïse. Ela saía com Rafael em seu colo ainda agarrado em seu pescoço. Ajudei a moça a sair do prédio, ela sorriu lindamente como sempre fazia e mais uma vez me senti mal por tê-la deixado triste há minutos atrás.

A Cortesã e a Baronesa - Livro IOnde histórias criam vida. Descubra agora