Isabel
Saí de casa com o coração apertado. Carmen me pediu tantas vezes para que não fosse a reunião, um apelo sofrido. Eu fiquei perto de não sair, mas essa reunião era importante, eram alguns investidores e fornecedores novos que Louis me indicou. Amava meu amigo, mas os franceses conseguiam ser entediantes quando queriam.
Estava sentada com o olhar longe, meu pensamento estava na mulher aflita que deixei em casa e o aperto no coração não passava. Por fim, dei por encerrada aquela reunião. Subi no cavalo e junto com mais três empregados, fui rumo a plantação de cana. Tudo estava finalmente entrando no eixo e fazia parte da minha rotina passar longas horas verificando e auxiliando meu pessoal no plantio e organização do engenho.
Estava agoniada. Alguma coisa me dizia que eu deveria voltar para casa. Parei o cavalo e meus empregados pararam em seguida.
– A senhora está bem, Baronesa? – Um deles perguntou preocupado.
Parecia que algo me sufocava.
– Preciso voltar para casa! Sigam para a plantação, logo mais irei encontrá-los! – Eles se olharam confusos, mas concordaram e partiram.
Eu corri com meu cavalo como corri no dia do nascimento de Rafael. Quando avistei a casa, tudo estava aparentemente normal. Só podia ser coisa da minha cabeça.
Deixei Pérola no estábulo e me apressei para encontrar Carmen e Rafael. Meu medo era que alguma coisa tivesse acontecido a eles, mas se isso fosse real alguém já teria me tirada da reunião. Tanta coisa se passava na minha cabeça, mas o maldito aperto no coração não diminuía.
Tirei o chapéu assim que entrei na casa e corri até nosso quarto.
– Carmen! – Falei quando abri a porta, mas o cômodo estava vazio.
Corri até o quarto de Rafael e o menino dormia como um anjo.
– Carmen! – Chamei assim que entrei na sala do piano. – Onde essa mulher se meteu?
Procurei por cada canto daquela casa. Minha aflição foi aumentando. Ela sempre estava por perto, com nosso filho ou com Marta e Ana. Entrei na cozinha e assim que me viu Marta arregalou os olhos e em seguida me olhou com tristeza e ternura.
– Onde está Carmen? – Perguntei aflita.
Ela não respondeu de imediato. Olhou para Ana que abaixou a cabeça triste.
– Por Deus, mulher, onde está Carmen?! – Falei um pouco impaciente.
Ela me puxou pela mão até o quarto de Rafael e pegou, em cima da cômoda, um papel dobrado. Só reparei que estava tremendo quando segurei o que parecia uma carta em minhas mãos. Marta me fez um carinho rosto e saiu do quarto.
Meu coração batia forte. Eu não queria e não podia acreditar na ideia que se passava em minha cabeça. Ela não seria capaz de fazer isso comigo... Não faria isso a Rafael... Faria?
Fui até o meu quarto e criei coragem para abrir o papel. Logo nas primeiras linhas meu coração se despedaçou. Ela estava se despedindo...
"Minha Amada Baronesa,
Eu nem sei por onde começar, mas a primeira coisa que devo dizer é obrigada. Obrigada por me mostrar tantas cores, tanta luz e tanto amor. Obrigada por entrar naquela casa, por bagunçar completamente a minha vida e por me mostrar que eu era muito mais que uma cortesã. Obrigada, Isabel, por me mostrar quem sou e quem quero ser até o fim dos meus dias: Mãe e completamente apaixonada por ti.
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A Cortesã e a Baronesa - Livro I
RomansNum cenário pulsante do Rio de Janeiro Imperial do século 19, surge uma história de amor proibido e irresistível. Carmen, uma cortesã conhecida por sua beleza deslumbrante e sua personalidade ousada, encontra-se envolvida em um mundo de luxúria e se...