Miedo

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Carmen

" – ME TROCOU PELA VIDA DE CORTESÃ OUTRA VEZ! – Isabel gritava com raiva. – DEIXOU O NOSSO FILHO PARA SER UMA PUTA!

No, Isabel... no es lo que piensas... escúchame... - Tentei explicar.

Nem hoje, nem amanhã, nem nunca! Não quero ouvir o que tens a dizer. Jamais te perdoarei."

Abri os olhos assustada outra vez. Era sempre o mesmo sonho. Já se passaram duas semana. Há quinze dias que estou aqui e a saudade me mata. Suspirei triste e cansada, ainda era madrugada e Margot dormia um sono inquieto na cama. Eu estava sentada na poltrona ao seu lado lendo um livro quando cochilei. Meu sono se limita a isso. Pequenos cochilos durante a noite.

Olhei para a senhora que gemia durante o sono, desde que cheguei vejo ela piorar a cada dia. As dores, os tremores pelo corpo, a dificuldade para respirar. Me doía vê-la assim.

Levantei da poltrona, apaguei as lamparinas e me direcionei ao meu quarto. A música alta no andar debaixo me incomodava. Sentia falta do silêncio da fazenda. Entrei e tranquei a porta como fazia todos os dias. Tentaria dormir outra vez, mesmo sabendo que não conseguiria.

Admirei cada canto daquele cômodo, me sentia vazia. Isabel estava tão presente ali e a saudade que senti fez meus olhos se encherem de lágrimas. Pedi para as meninas manterem o cenário exatamente como estava: a cama perfeitamente arrumada com a manta de Rafael esticada sobre meu travesseiro, a camisa dela pendurada na guarda da cadeira em frente à penteadeira como se estivesse estado ali há poucos minutos. Pensei que ver isso me confortaria, mas só me trazia a lembrança de uma vida que talvez eu jamais vivesse novamente.

Ainda sentindo o peso de estar ali e com meus pensamentos na mulher que amava, afrouxei o laço do espartilho e desfiz meu penteado. Senti meus cachos caindo sobre meus ombros e o vestido escorregar devagar do meu corpo.

"– Tu és a mulher mais linda que já vi. – Isabel sussurrou com os lábios contra o meu pescoço enquanto descia a alça do meu vestido."

Fechei os olhos com a lembrança e senti as lágrimas quentes em meu rosto. Com o corpo nu, caminhei até sua camisa e levei-a ao meu rosto, seu cheiro ainda estava no tecido, mas aos poucos ia embora. Como eu sentia saudades da minha mulher. Vesti a peça de roupa, Isabel era maior e mais forte que eu, sua camisa batia em minhas coxas, as mangas compridas em meus braços e, mesmo com os botões fechados, ficava larga. Me trazia conforto e com seu cheiro ali eu quase sentia seu abraço.

Acendi um cigarro e fui até a janela, a noite estava linda. A lua iluminada. Sentei na beira da enorme abertura. Fiquei ali tragando o cigarro calmamente, ouvindo a algazarra do andar debaixo e pensando que essa não era mais a minha vida. Quando cheguei aqui algumas meninas me questionaram sobre quando voltaria a ser a cortesã que fui um dia. Nunca mais. Essa é a resposta. Não há espaço para outros toques em meu corpo que não sejam os da mulher que eu amo.

Quando o cigarro acabou continuei ali ainda observando a lua. Ouvi um movimento no corredor e senti meu corpo inteiro gelar, olhei aflita para a porta mesmo sabendo que ela estava trancada. Risadas masculinas encheram meus ouvidos e involuntariamente me encolhi dentro da camisa.

Venham, Queridos... – A voz de uma das meninas da casa se fez presente.

Vamos, Orlando. Já dividimos a bebida, vamos dividir essa bela mulher.

As risadas invadiram novamente o corredor, mas logo cessaram. Respirei finalmente, nem me dei conta de que prendia a respiração. A cortesã audaciosa, sem medos e intocada pelos traumas de uma infância medonha estava distante, em um lugar dentro de mim que eu já não conseguia alcançá-la. Sobrou aqui uma mulher frágil e amedrontada.

A Cortesã e a Baronesa - Livro IOnde histórias criam vida. Descubra agora