Capítulo 4: A Capital

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Annie Cresta

A viagem está perto de terminar. Por mais incrível que a ajuda de Finnick tenha sido até agora, não consigo mais ficar fechada nesse trem. Estamos a uma velocidade muito alta e, mesmo assim, parece que sequer estamos nos movendo, devido à tecnologia fantástica da Capital. De qualquer modo, nunca tinha viajado, e admito que não estou gostando da experiência.
Dentre as coisas que combinamos, a principal delas é sobre o treinamento que teremos lá. Geralmente, os tributos do 4 escolhidos já tem alguma habilidade com o manejo de armas, mas esse não é nosso caso. Por isso, Finnick sugeriu que dividíssemos nosso tempo de treino entre aprendizados práticos e técnicas de combate.
Tudo isso ainda parece estranho para mim. Acho que ainda não entendi completamente o que significa ser tributo dos Jogos Vorazes. Contudo, tenho poucas opções que não a de aceitar que terei que lutar até a morte com outros jovens como eu, inclusive com Dean.
Ainda que eu ache meu companheiro de distrito um tanto insensível às vezes, não quero ter que matá-lo. Na realidade, não sei se conseguirei matar qualquer pessoa; o que, para alguém em minha situação, é uma enorme fraqueza.
Vou tomar meu café, pois se tem algo que me trás algum prazer nessa história toda é poder comer tão bem. Provei várias coisas que só existiam em meus sonhos. Além disso, a companhia de Finnick também tem deixado as coisas mais aturáveis. Quando chego no vagão-restaurante, é exatamente quem encontro:
_ Bom dia, Annie! Espero que tenha dormido bem. Precisa ter bastante energia para o que está por vir.

_ Obrigada pela preocupação, Finnick. Dormi bem sim, na medida do possível.

_ Entendo melhor que ninguém. Sente-se, precisa comer alguma coisa. Logo mais estaremos na Capital e vocês terão muito o que fazer.

Resolvo seguir o conselho dele. Uma vez na mesa de café, encontro inúmeras opções, e não sei o que pegar. Olho perdida para todos aqueles sabores de bolo, para as bolachas, pãezinhos e afins. Finnick parece notar meu dilema:
_ Não sabe o que escolher? -diz ele, com seu brilhante sorriso no rosto. O modo que seus lábios se abrem deixam pequenas covinhas em suas bochechas, deixando-o incrivelmente fofo.

_ Está tão nítido assim? -respondo, com um sorriso tímido, já sentindo minhas bochechas queimarem.

Ele então reage com uma das risadas mais sinceras e doces que já ouvi.

_ Se eu pudesse apostar, diria que você iria adorar aqueles pãezinhos de mel.

Pego alguns, além de um chá bem quente de rosas. Nunca provei nenhuma dessas coisas, mas algo me diz que são deliciosas. Resolvo me sentar com ele.
Quando provo o primeiro pãozinho, fico com uma cara de boba. Mas não ligo: são muito gostosos, doces e fofinhos, tudo na medida certa. Em seguida, assopro um pouco a bebida e provo. De novo, um sabor tão encantador que não sei como nunca tinha ouvido falar antes. Antes de terminar de mastigar, olho para frente, e lá está ele: o garoto que vi no mercado da cidade, logo antes da Colheita. Definitivamente a energia que emanava daqueles olhos era a dele. Seus cabelos loiros caem delicadamente em seu rosto, com os olhos verdes como algumas das conchas mais bonitas que já encontrei. Ele parece nem perceber que sorri o tempo todo.
_ E então, o que achou?

_ São tão docinhos e fofos... obrigada por isso, estava precisando de algo tão reconfortante.

_ Imagina... fico contente que gostou.

Dou um risinho baixo. Como alguém capaz de matar pessoas para vencer os Jogos Vorazes pode ser tão gentil?

_ O que fazem ai, pessoal? - pergunta Dean, entrando no vagão.

70°Jogos Vorazes: Annie CrestaOnde histórias criam vida. Descubra agora