Capítulo 18: O Segredo

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Annie Cresta

   Na minha sincera opinião, o sétimo dia dos Jogos poderia acabar por aqui. Já testemunhei a morte horrível de dois tributos para uma névoa tóxica, escapei dessa enorme ameaça, rompi minha aliança e ainda é pouco mais que a hora do almoço.
Se, por um lado, me sinto menos segura de explorar essa nova porção da arena sozinha; por outro, estou muito contente de ter encerrado minhas relações com a dupla do 9. Depois do que disseram quando sobrevivemos, percebi que os dois só não me mataram para sobreviver porque havia Aaron para ir no meu lugar. Esse fato deixou a tênue linha de até onde posso me fazer útil ficar clara como o dia: quando não passo de um sacrifício em potencial, não é uma boa ideia permanecer com eles.
Até o clima daqui é diferente. Enquanto lá em cima era quente e seco, aqui parece ser um local bem mais úmido. Até as árvores são diferentes: possuem troncos menos retorcidos e mais compridos que os da savana, além de portarem muito mais folhas. Somando tudo isso à aparente abundância de fontes de água e alguns campos de flores esporádicos, tem-se o belo cenário que me cerca.                                         
      Como minha única companhia são os animais que me rodeiam, tenho mais tempo para me perder em meus próprios pensamentos.
Em meio a um dos meus devaneios, imagino que a intenção dos Idealizadores com a onda carmesim era não só causar um show (de horrores) para o público, mas também trazer os tributos para esse local. Quem sabe quais perigos novos me aguardam aqui?

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   A luminosidade começa a decrescer. Não dou uma hora para que o sol se ponha.
Um pouco mais cedo, ouvi um canhão. Será que foi Damon? Adalia? Não. Algum dos carreiristas? Também acho pouco provável. As opções que sobram me deixam aflita: pode ter sido ou Dean, ou seu aliado. Sinceramente, torço para estar errada.
Coloco de lado tais reflexões e passo a observar os arredores mais atentamente. Pude notar uma variedade muito maior de animais perambulando por aqui, como pequenos pardais e alguns lagartos. Arrisco pegar um deles para não começar a gastar meus preciosos recursos da Cornucópia e, apesar de minhas habilidades limitadas em caça, felizmente, sou bem sucedida na minha tentativa.
Preparo uma rudimentar e mínima fogueira para preparar o pequeno lagarto, tomando muito cuidado com a emissão de luz e fumaça: não quero ser encontrada. Enquanto saboreio a carne do animal, Page aparece para conversar comigo:
_ Meus parabéns, minha criança! Estou muito orgulhosa por você ter chegado tão longe!

_ Page! Não me assuste assim. Como chegou até aqui?

_ E quem liga? O que importa é que estou aqui. Me conte Annie, o que tanto está te preocupando? Posso ver pelo seu olhar que há algo errado.

_Acho que estou perdendo a cabeça, Page. Não consigo conviver com tantas mortes assim.

_Oh, minha criança! Quando você vencer, tudo será apenas um passado sombrio que deixará para trás. Poderá voltar para casa, me abraçar e dar um beijo em Neville. Além disso, tem o gatinho do Finnick também, hã?

Fico corada, mas logo caio na risada com ela. Page é uma das únicas pessoas nesse mundo que ainda me deixam de bom humor.
      Ofereço um pedaço do meu lagarto, mas ela desaparece antes de conseguir provar. Fico novamente sozinha, apenas com o som dos pássaros, do vento nas folhas e dos gritos de Belle e de Aaron.

••••••••••••

Depois de perambular pela floresta por um tempo, ouço um som diferente dos demais produzidos pela natureza. Conforme me aproximo, consigo distingui-lo com nitidez cada vez maior: é alguém chorando.
Ignoro a parte de mim que diz que é perigoso e corro exatamente na direção do som. Minha ansiedade dispara a cada passo, mas não posso evitar. Ajudar alguém que precisa é a única ação que ainda me deixa em contato com minha humanidade.
Quando finalmente encontro quem estava chorando, não consigo dizer uma palavra pela intensidade de meu choque. Ele, porém, se acalma o suficiente para dizer:
_ Annie...

70°Jogos Vorazes: Annie CrestaOnde histórias criam vida. Descubra agora