Capítulo 14: A Dádiva

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Annie Cresta

Estou aterrorizada. Sorrateiramente, Marshall Rives correu para trás de nós, atacando Damon enquanto estávamos distraídos com a morte da Raiden. Por sorte, se é que se pode dizer isso, apenas cortou a mão direita do garoto, fazendo não só com que uma grande hemorragia tenha início, mas também com que Adalia e eu gritemos desesperadas. Damon segura seu antebraço com força, não poupando lágrimas e berros de dor. O carreirista sobrevivente, secamente, diz:
_ Isso é pra você aprender a não sair atirando flechas nas pessoas. Quero ver você tentar me acertar agora.

_ Você é um monstro! -retruco, sem pensar nas consequências do que isso poderia trazer para mim.

Friamente, Marshall se vira em minha direção. Para, me olha de cima a baixo, e bufa:
_ E você é deplorável, 4. Tenho que dizer que me impressionaram conseguindo matar o Raiden. Por isso, e só por isso, vou deixar que vivam mais hoje. Estou cansado demais para torturar vocês.

_ E o que te faz pensar que vamos deixar você ir? -responde Adalia, com os dentes cerrados.

Ele não precisa dizer nem uma palavra, apenas abre sua espada-chicote na intenção de terminar de matar Damon. Adalia fica em silêncio total, assim como eu.
     Ele gosta do poder. Diz:
_ Vou partir só porque eu quero, pelo mesmo motivo que não termino de matar esse filho da puta aqui. Certeza que ainda quer pagar de corajosa, Adalia Wright?

Ela nada diz. É orgulhosa demais para responder.
_ Pensei que não mesmo. Podem me agradecer mais tarde pela minha misericórdia, mas não pensem que ainda não serei eu quem matará cada um dos três. Ou duas, se esse aí não aguentar.

Sem qualquer protesto de nossa parte, ele vai até a barraca e pega uma mochila e sua jaqueta vermelha para partir em direção à Cornucópia. Adalia e eu não fazemos nada, pois corremos até Damon para tentar estancar o sangramento.

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      Eu não sabia naquele momento, mas estava prestes a viver um longo período de puro desespero. Se nós não conseguirmos fazer com que esse sangramento pare nos próximos minutos, teremos mais que duas vítimas nessa noite do quarto dia.
     Cuidadosamente, coloco-o deitado na mochila que Adalia posicionou no chão. Sua regata, antes branca, está tão vermelha quanto a sua jaqueta. Considerando que, também pela explosão, ela já está destruída; retiro-a e a amarro no braço sem a mão, no ímpeto de manter o sangue dentro do corpo dele.
     Sua parceira de distrito vai até o cadáver de Raiden e arranca a regata dele: "ele não vai precisar mais dela mesmo". Não discordo da atitude; afinal, Damon ainda vai precisar de uma se sobreviver, já que será impossível ele usar a dele depois disso.
     Mesmo que o fluxo de sangue tenha reduzido bastante, ele não vai conseguir permanecer vivo no estado em que está: essa medida é completamente provisória.
     Conforme o sol do quinto dia começa a aparecer no horizonte, seguido da luminosidade baixa, nós começamos a ficar muito preocupadas, pois ele está ficando muito pálido, sem contar que desmaiou há algum tempo.
     Tiramos o foco brevemente da situação para ver a insígnia da Capital no céu. Logo depois, o rosto do garoto do Distrito 2 que acabamos de assassinar preenche o espaço antes ocupado pela insígnia. Na sequência, Hana Tennant surge com seu sorriso. Provavelmente, a última vez que o verei.
     Nós duas já estávamos perdendo as esperanças quando, subitamente, ouvimos uma melodia preencher o ambiente. É bem baixa, mas mesmo assim, consigo distinguir algo parecido com uma música do Distrito 4. Digo, ansiosa:
     _ Adalia, o que...

70°Jogos Vorazes: Annie CrestaOnde histórias criam vida. Descubra agora