Capítulo 22: Explosão

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Annie Cresta

As criaturas assustadoras, após perceberem que Farrah já havia morrido a muito tempo, finalmente somem nos becos. Depois de lutar contra aquele monstro e de testemunhar o assassinato a sangue frio de Farrah pelo próprio aliado, os pesadelos foram garantidos.
Acabei tendo um recaída no meu estado de temporária sanidade mental. Por mais que eu tenha recuperado parte do controle durante a tarde de ontem, não é como se eu já estivesse fora da arena na segurança do meu lar. Mesmo assim, não cheguei a delirar como das outras vezes, já que as palavras que Finnick escreveu para mim servem como uma espécie de âncora que mantém minha mente presa à realidade, ainda que não completamente.
      Pela posição da lua, consigo estimar mais ou menos o tempo que falta para o sol nascer, habilidade essa que meu irmão Neville me ensinou. É por isso que acho muito estranho quando passo cerca de duas horas tentando dormir, mas a lua parece ter se movido o equivalente a várias horas nesse meio tempo. Aparentemente, os idealizadores acham que os eventos seguintes precisam ser transmitidos com nitidez a toda Panem.

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      Como um pouco da comida que ainda resta e me mantenho hidratada. Energia será crucial para sobreviver a um possível encontro com o antigo aliado do 9 que sobreviveu e Marshall, os únicos inimigos restantes. Apesar de serem dois, não poderiam ser mais perigosos. Já vi do que cada um dos três possíveis inimigos é capaz de fazer. Se minha memória não está pregando outras peças em mim, por exemplo, sei que cada um matou ao menos dois outros jovens.
A manhã está bem clara. O céu está completamente azul, sem uma única nuvem no céu. O sol, em poucos minutos, passa da posição de onde costuma nascer até a posição de meio dia, deixando a arena consideravelmente quente. Ouço alguns pássaros cantarolando aqui e ali, mas nem um outro barulho além da melodia deles.
Cogito sair de meu esconderijo. Pode ser algo um tanto arriscado nessa altura dos Jogos, porém tenho a intuição de que, se eu não fizer isso, a Capital mandará algo pior que aquelas crianças-monstro para forçar nosso encontro. Para ser sincera, nem sei se isso é possível, mas prefiro não arriscar para descobrir.
Lentamente, equipada com a besta de Blair, as poucas flechas restantes, uma lança e o restante de meus mantimentos na bolsa, abro a porta desse meu abrigo e espio o lado de fora. Não há sinal de ninguém por perto. Ainda assim, hesito em sair desse modo apressado, uma vez que não sei se mais alguém também pretende perambular pela cidade. É difícil admitir, mas minhas chances em um confronto direto contra Damon são no máximo razoáveis; conta Adalia, baixíssimas e, contra Marshall, nulas. O elemento surpresa será indispensável nessa situação.
Eu ainda estava ponderando se sairia ou não quando ouço as palavras metódicas e calculadas de Claudius Templesmith:

"Meus parabéns, finalistas! A 70ª Edição dos Jogos Vorazes terminará ainda hoje. Em algumas horas; ou, quem sabe, minutos, um de vocês três será coroado vitorioso. Para que isso aconteça, ninguém tem permissão de deixar essa vila. O preço para quem quebrar essa regra será fatal".

Nem tenho tempo de processar essa informação, pois de repente ouço um forte som de algo explodindo. Quando subo até o segundo andar para ver mais de longe, percebo que, em uma raio de uns dois quilômetro da vila abandonada, um incêndio massivo tem início. Não tenho a visão daqui, mas posso imaginar que o fogo se espalha ao redor de onde estamos, formando uma outra arena dentro da própria arena.
Desesperada, recolho meus suprimentos que deixei de lado e parto o mais depressa possível para a rua. A provável intenção da Capital com o incêndio foi essa, não só porque tenho certeza que o público sádico já está suficientemente satisfeito com espetáculo de ontem, mas principalmente pelo fato de todas essas casas serem feitas de madeira e de terem uma estrutura frágil. Sob a mínima intempérie vão ruir, sem sombra de dúvidas.
Com cautela, caminho da rua principal a um beco adjacente. Tomo especial cuidado com os arredores, pois não quero que meu fim seja ser esmagada por casas desabando. Esgueirando-me belos becos, tento chegar ao centro da pequena vila sem ser notada. Todo meu esforço parece ter sido em vão assim que ouço um grito:
_ Ei, 4! Apareça!

70°Jogos Vorazes: Annie CrestaOnde histórias criam vida. Descubra agora