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Bella
"Como sempre, tudo está perfeito, Isabella."
A mulher me abraça, os olhos cheios de água. Mais um sonho de uma pessoa está sendo realizado.

"Fico feliz que tenha gostado, aproveite muito."
Ela assente, sorrindo. As maquiadoras voltam a ficar ao seu redor, retocando rímel, batom e sombra.
Me afasto, enquanto meu celular toca.

"Srta Ferretti, teve um problema com o fotógrafo do casamento da Amelia e do John."
Uma das minhas assistentes avisa. Onde Ravi se meteu? Ele sempre me ajuda a não ficar louca, nessas maratonas de casamento. Sábado à noite devia ser considerado dia oficial do casamento, porque são tantos que eu fico louca.

"Estou indo. Gizelly, vou ir dar uma olhada nos outros casamentos, para não ter nenhum problema, talvez eu não consiga voltar. Se isso acontecer, eu te desejo agora mesmo toda a felicidade pra você e do Thierry."

Ela me abraça outra vez, agradecendo mil vezes. Saio quase correndo e vou para o outro casamento.
Pego o celular e ligo para o Lucas. Algumas semanas depois que o Shawn se casou, ele voltou pra minha vida e nos aproximamos.

Contei pra ele que ia ter um bebê e ele não precisou que eu dissesse para saber de quem é. Diferente do que eu imaginava, Lucas ficou comigo desde então, sendo uma companhia maravilhosa.

"Oi, princesa."
Ele atende, a voz rouca. Estava dormindo, imagino. Sorrio, ao imaginar. Mas é claro que a minha mente viaja para um outro alguém, em outro continente, longe de mim fisicamente, mas ainda com a metade do meu coração. O que você está fazendo da sua vida, Shawn? Será que é feliz?

"Você pode fazer um favor pra mim, gatinho? O fotógrafo me deixou na mão, você pode cobrir ele?"

"E o Peter?"
Suspiro. Claro, meu pequeno, meu bebê.
Como pude esquecer?

"Pode deixar ele com a Camila?"

"Ela saiu."
Faço uma careta. Não porque ela saiu, ela sempre foi assim, sempre gostou de curtir o momento, como ela sempre diz.

Lucas tem sido quase um pai pra ele, e eu sou muito grata pelo apoio e o carinho dele. E o espaço que ele me dá, também. Se eu disesse que deixei de amar o Shawn, eu estaria mentindo, e essa não é mais eu.
"Traz ele, então. Eu dou um jeito de cuidar dele."

"Ta, me manda o endereço que a gente chega em uns 20 minutos."

"Vou mandar, beijo."

"Beijo."
Desligo, suspirando.
Fico por ali, verificando se tudo vai ser perfeito. Olho no relógio. São 11 horas.

Alguém me abraça por trás.
"Oi, gata."
Ravi sempre chega um pouco antes da cerimônia, sempre para admirar seu trabalho. Dou um beijo em sua bochecha.

"O Phillip te soltou do cativeiro?"
Ele revira dramaticamente os olhos, servindo duas taças de champanhe.

"Estou solteiro de novo!"
Eu dou uma risada.

"Ai, Ravi, uma hora o amor vai te pegar de jeito e eu to doida pra conhecer uma versão sua toda apaixonadinha."

"Cruz credo, amar sempre faz a gente sofrer, Bells. Obrigada, mas eu prefiro menos complicação, menos coração."

Claro que ele me faz pensar no Shawn, quando diz isso. Tomo do champanhe, torcendo para que o líquido me aqueça e me faça sentir melhor.

"Chegamos, mamãe."
Lucas diz, fazendo voz fina. Meu bebê está todo arrumadinho, com um macacãozinho azul, dormindo no colo dele, com a cabeça no ombro dele. Lucas me dá um beijo na bocecha.

"Lucas, você é a melhor babá de todas. Cuidado que eu posso acabar te contratando."
Ele ri, enquanto eu pego o Peter.

Ele pega a câmera e eu passo as instruções das fotos que eles querem.
Me sento no sofá e deixo ele junto comigo, no meu colo.
"Deixa que eu cuido desse garotão aqui, pode ir lá curtir um pouco a festa."

"Tem certeza, Ravi? Eu sei que você adora curtir as festas..."

"Vai logo, garota, vai se divertir. Ravi quer ficar com o pequeno Peter."
Ravi toca no pezinho do meu bebê.

"Obrigada, Ravi."
Mas ele não está mais prestando atenção em mim, e sim no bebê, que dormia tranquilamente.

Sorrio, indo para a pista de dança, me divertir um pouco. Fiz 20 anos há algumas semanas e isso foi um baque pra mim. Os últimos dois anos se basearam em ser mãe e planejar casamentos.
Quero - e preciso - me divertir, aproveitar.
E vou.

A noiva me abraça, suada e um pouco bêbada, mas o carinho me aquece, me faz sentir bem. Eu trato isso aqui como trabalho, mas eu realizei o sonho dela. Pra ela, é tudo menos trabalho.

Tiro os saltos, me divertindo.
Os garçons começam a servir o champanhe rose que eu tinha separado.
Tomo algumas (muitas) taças e danço muito.

Fico com uns caras, afinal sou solteira, bitches.
Odeio quando eu bebo muito, porque eu sempre penso nele. Será que ainda está tão bonito? Talvez já tenha um filho com a Loren. A ideia me deixa enjoada.

Decido parar de beber, antes que eu comece a pensar coisas que acabem me machucando. Já não basta ter um filho que é cara dele, não preciso ficar pensando como a vida dele deve estar foda.

Vou até Ravi, que brincava com o Peter, que ria. Eu sou viciada na risada dele, que coisinha preciosa.
Pego ele no colo e dou um cheiro no meu principezinho.

"Essa é hora do bebê da mamãe estar acordado, filho? Não, Não, hoje você vai dormir igual um anjinho."
Ele gosta de passar a noite fazendo bagunça, igual um cara que eu conheço...

Merda.
Shawn toma os meus pensamentos tão rápido quanto eu viro um copinho de tequila. E isso é tipo 2 segundos.
Isso que dá ir em muitos casamentos: sempre volto meio bêbada.

"Ravi, acho melhor eu ir. São 2 da manhã, tenho uma reunião amanhã cedo."
Ravi faz uma careta.

"Aquele investidor canadense é um mala, fica mancando representantes que acordam junto com o galo. 8 da manhã eu estou indo dormir."

Dou uma risada.
"Com um gato daquele, eu te entendo."
Dou uma piscadinha e ele faz cara feia.

"Ja que o assunto são ex, o seu também não fica muito pra trás, que eu sei. Queria ter te conhecido na época que você vivia na putaria."

Tampo os ouvidos do Peter, entrando na brincadeira.
"Putalia."
Peter brinca com o chocalho.
Eu olho para o Ravi, chocada.
Segundos depois, caímos na risada.

"A PRIMEIRA PALAVRA DO MEU FILHO FOI PUTARIA!"
Digo, entre uma gargalhada e outra.
O destino é cômico, mesmo.

"Filho, não pode dizer essas coisas, meu amor."
Mas ele nem está prestando atenção em mim, distraído com os brinquedos que o Lucas trouxe na mochila dele, pra ele brincar.

Pego meu pequeno no colo. Esse menino é a cara do pai, meu Deus.
"Dá um beijo no tio Ravi."
Ele dá, o que faz a gente ficar se derretendo nele.

"Qualquer coisa me liga que eu dou um jeito de vir correndo."
Ele assente, já bebendo de novo.
Eu peço um Uber e vamos para casa, com Peter ja dormindo outra vez.

Olho para a janela, enquanto passamos pela torre Eiffel, e ela me enche de lembranças que são como um soco no meu estômago.
Não achei que sobreviveria, depois de tudo, mas aqui estou eu, mãe solteira, dona de uma empresa famosa, rica, mas com o coração ainda partido.

Ver esse lugar, é como tocar na ferida aberta.
Quase posso nos ver no gramado, tão apaixonados e tão perdidos, tão normais.
Era inconsequente, imatura.
Fico me perguntando se Shawn também mudou, se ainda me ama.

Mas de pra quê isso importa? Nunca mais vou vê-lo de novo.

Ruin ~ Shawn MendesOnde histórias criam vida. Descubra agora