Ruin ~ Shawn Mendes

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Bella

Peço um Uber. Ravi pode ir mais tarde, mas eu não quero passar mais nenhum segundo aqui. Foi uma péssima ideia.
Peter está mais calmo, agora, dormindo tranquilamente no meu colo.

Acaricio seu cabelo, macio e rebelde igual o do pai. Olho no relógio do celular. São 10 horas da noite, bem mais cedo do que o que eu esperava. Talvez porque, depois de tudo o que aconteceu nessa festa, o tempo pareceu ter voado.

Entro no quarto do hotel e ponho meu pequeno na cama. Tiro os saltos e os brincos, lavo o rosto e prendo o cabelo. Decido por um pijama de bananas.
Peço alguma coisa para comer, mesmo sem estar com muita fome.

Alguém bate na porta. Paro a tv e vou até a porta.
"Que bom que você chegou, estou com tanta fome..."
Mas não é o cara do IFood, é o Shawn, com o cabelo bagunçado, a camisa meio aberta, as mangas dobradas e meio bêbado. Ai era só o que faltava.

"Ah, ta com fome? Eu posso resolver isso agora."
Ele diz. Aiai, meu corpo já fica arrepiado.

Puxo ele pra dentro do quarto, fazendo sinal de silêncio e apontando para o Peter.
"Posso ficar com ele um pouquinho?"
Ele pergunta, beem baixinho, já sentando do lado do pequeno, que dormia tranquilamente.

"O que você quer?"
Sussurro, sentando do outro lado.

"Gostei do seu pijama."
Ele faz uma cara de safado.
Reviro os olhos.

"Shawn, pare de flertar comigo."

Ah, quem eu estou querendo enganar? Se não fosse pelo Peter entre a gente, eu já teria agarrado ele. Ele fica muito lindo de preto, não aguento. Ele fica me olhando, com aquela carinha de safado que só ele sabe fazer.

"Bella, você não sabe como eu quero tirar esse seu pijama e..."

"Você é impossível mesmo."

Ele ri, tocando meu rosto. Meu coração se aquece. Queria tanto poder ficar com ele, dizer tudo o que eu sinto, contar a verdade. Queria tanto enfrentar o mundo com ele do meu lado. Fui covarde, estava com tanto medo de que ele morresse por minha causa, que fiz isso com a gente. Agora, estamos distantes, infelizes e perdidos, querendo tanto ficar juntos que todas as minhas forças são consumidas.

Achei que ele iria embora e seria feliz, ficaria bem e protegido, com uma família, e que eu poderia realizar os meus sonhos, mas ele é infeliz. Vejo na sombra dos seus olhos, na leve palidez do seu rosto e nas olheiras leves. E eu senti tanta falta dele que tive que me apegar ao trabalho, terminar os estudos. Por isso a empresa se tornou tão grande.

"Ele é tão bonitinho, queria tanto que fosse meu filho. Queria tanto que você me desse um filho, e não a Loren."

Ele diz, num tom triste, enquanto olhava pro Peter, que segurava seu dedo dedo com a mãozinha dele. A verdade fica pesando nas minhas costas. Ele precisa saber a verdade, mas não agora. Ele vai me odiar por ter tido um filho dele e não ter contado. Não estou pronta pra pagar pelo meu erro, pra ser odiada por ele.

Agora que eu voltei a sentir seu toque, seus beijos e seu corpo, tudo o que eu senti que ainda estava adormecido pela distancia física entre nós, voltou com força, como uma onda quebrando na areia, arrastando tudo com ela.

Pego sua mão, acariciando-a.

"Eu sei que você não a ama, mas não pode deixar seu filho. É só um bebê, não merece crescer sem o pai. Você e eu sabemos o que é isso, perdemos os nossos quase na mesa época, e fazem falta."

A minha fala faz efeito mais em mim do que nele. Estou fazendo com o meu pequeno exatamente o que eu estou aconselhando o Shawn a não fazer, estou deixando ele crescer sem o pai. Nunca deixei de dar amor e carinho ao meu filho, mas é diferente. Shawn não é um babaca que me engravidou e não quis assumir a responsabilidade, ele é o amor da minha vida.

"Não vou deixar meu filho, Bella. Mas isso não significa que eu vou deixar de amar você."

Peter se agita, sonhando, e o Shawn põe a mão na barriga dele, que se acalma no mesmo instante. Fico observando a cena, encantada por essa conexão entre os dois.

Conversamos sobre tudo, principalmente sobre os nossos sonhos. Senti falta desses momentos sem pressa, sem dor, sem mágoas, só duas Pessoas que se amam muito conversando sobre coisas boas.

Convenci ele de assistir Meu Malvado favorito comigo, e ele acaba dormindo ali. Deixo ele dormindo. Tão lindo, como sempre.

Acaricio seu cabelo, sem acreditar em toda as chances de sermos felizes e que deixamos escapar. Dou um beijo em seu rosto, pagando meu casaco. Preciso de um ar.

Vou até o jardim externo, sentindo o vento agradável no rosto. Não posso mais viver com essa mentira. Não posso.

Shawn tem que saber que o Peter é filho dele, tem que saber que eu nunca traí ele, tem que saber que eu o amo mais que tudo e que se eu pudesse, não me separaria dele nunca mais.

"Tenho que contar."
Digo, sozinha.

"Que bom que eu te encontrei. Precisamos conversar."
Gelo. Não, eu devo estar sonhando, deve ser isso.
Continuo de costas para a voz. Estou ficando louca, claro que é isso.

"Agora vai me ignorar, irmãzinha?"
Yatra segura no meu braço e eu grito, me recuando. O que é isso?

"Você está morto!"

"Não estou não, gatinha. E precisamos conversar. Eu sei quem é que estava atrás de você, que matou nosso pai, quem fazia as ameaças. Eu sei quem causou as suas dores, Bella."

"Quem?"
Apesar do vento, do choque, minha voz sai firme. Ele ri, sempre enigmático.
Minha paciência esgota. Me viro pra ir embora, irritada. Ninguém vai me fazer de besta.

"Calma, calma, não fica bravinha não. Preciso que você confie em mim, não posso te contar agora."

Cruzo os braços.
"Então por que está aqui, Yatra?"

"Preciso que me proteja. Eu fugi, Bella, e estão atrás de mim. Se não me esconder, vão nos matar."

"E por que eu acreditaria?"
Não sou mais a menina que ele conhecia, a que ele fazia de boba. Sou uma mulher, e ele não vai aparecer dos mortos e me exigir nada.

"Porque eu vou te dar um nome que está fazendo parte disso tudo: Froy."
Congelo. Froy? Não entendo. Não acredito nele, claro. Mas vou mantê-lo por perto.

Afinal, minha mãe sempre me disse para manter os amigos perto e os inimigos mais perto ainda.