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Shawn

"Pegue a arma, Shawn."
Tremo. A voz do meu pai é forte e firme, como um trovão.

"Não, pai. Não me peça para matá-lo."
O homem olhava com uma calma absurda, atordoante. Eu já olhei nos olhos dele, já vi o sangue escorrendo pela pele dele e manchando sua camisa, os olhos verdes num tom orgulhoso. Ele se envolveu com a máfia para proteger sua família, não tem vergonha de nada. 

Meu pai sempre disse para nunca me importar com uma vida, que eu tenho deveres a cumprir, mas nunca consegui. Naquela dia, mais cedo, pesquisei sobre o homem que eu, aos 12 anos, executaria. 

Olho pra ele, e vejo mais do que um homem que foi humilhado, torturado e revirado psicologicamente  pelo meu pai, vejo um homem que tem uma família.

Jean Rosseau, 37 anos, pais de 6 filhos, órfão, cresceu em lares adotivos. Trabalhava com o que tivesse, vivia de bicos. Todo inverno, como as cidades ficavam mais fechadas, ele não tinha como arranjar tanto trabalho. A família passava necessidade, e era assim até o verão. O filho dele, Jaime, roubou um pão e, para não ser castigado, o dono da mercearia pedia muito dinheiro. Muito mais do que o que ele já teve.

Desesperado, ele fez um acordo com o grupo do meu pai: trabalharia pra eles e, em troca, não só soltariam o filho dele, mas nunca mais deixaria comida faltar na mesa. Mas, o que era pra ser trabalho braçal, começou a ser levado para o outro lado. Queriam fazer dele um mafioso, um cara sem escrúpulos, que faz o que for por interesse. Mas Jean se recusou a tirar vidas. 

E, agora, ele foi condenado a morte por traição. Minhas mãos tremem, não vou conseguir atirar. Não sabendo como ele foi humano em dizer não. Não como ele foi justo. Recuo, o coração acelerado. O senso de justiça gritando. Não posso matar um cara que se negou a matar e foi condenado a morte por isso. 

Meu pai está furioso, mas eu prefiro que me mate. Ele me criou pra ser um assassino impiedoso, e eu me recuso a ser. Ele segura meu braço. Vejo o perigo nos seus olhos. Meu pai não perdoaria que o filho dele fosse fraco. 

"Você quer destruir sua família, Shawn? Quer que sua mãe descubra a verdade?"

Gelo. Isso a destruiria completamente. Meu pai a traiu e tem uma filha, que ele esconde de todos. Eu sou a única pessoa que sabe, e ele usa isso para me ter em suas mãos. Eu jamais deixaria que algo machucasse a minha mãe e a minha irmã. Meu pai me ensinou a cuidar da família, a única coisa boa que ele me ensinou.

"Chame Karen aqui. E traga a menina também."

Prendo a respiração. Minha mãe está assustada, com dois homens armados ao lado dela. As armas muito próximas dela. Aaliyah tinha medo nos olhos. Não posso pensar. As armas estão muito próximas a elas. Meu pai as mataria para me castigar? Não, não pode ser. Ele não faria isso. 

Me pergunto quando ele deixou de ser tão carinhoso e se tornou tão seco e cruel. Ele as ama, eu sei, não as mataria, mas as machucaria. Atiro. O grito dele sufocante escapa da garganta. Eu o matei. Matei um homem inocente. 

Acordo atordoado, suado e com a respiração ofegante. Preciso de ar, preciso sair. Quase vejo o homem cair morto, os olhos ainda nos meus. Vi a vida se esvair deles, a vida que eu tirei. Por minha causa, os filhos dele são órfãos de pai, se é que sobreviveram. 

Saio do quarto e vou até a varanda, depois da sala principal, com vista para a flore que se estende pelas montanhas. A luz grande e soberana, iluminando a casa toda. Tiro a camisa e pulo na piscina, esperando que a água lave de mim essa sensação se sujeira, de dor. 

Bella está sentada na borda, me olhando. Nado até ela, apoiando os braços na borda. 

"O que faz aqui a essa hora?"

Pergunto e ela sorri.

"Eu deveria te perguntar a mesma coisa, mas acho que estamos aqui por motivos diferentes."

Sento na borda, numa distancia segura para não molhá-la, mas perto o bastante para poder conversar aos sussurros.

"O que tirou seu sono, morena?"

Ela mordisca o lábio, de um jeito muito natural, mas muito sexy. Se ela soubesse como é linda...

"Camila me contou sobre uma mulher..."- Ergo as sobrancelhas e ela fica agitada.-"Desculpa, eu sei que parece idiota, mas... Quem é ela?"

Rio, surpreso com o ímpeto de ciume na sua voz. 

"Bella, meu pai teve um caso há uns anos atrás. E eu tenho uma outra irmã, Daniella. Nunca a vi pessoalmente, mas eu sempre cuidei da minha família. Quando meu pai morreu, eu me tornei responsável por ela e isso nunca foi um problema. Sempre dei uma quantia pra ela todo mês, para que pudesse viver bem. Sei que um homem que era muito fiel ao meu pai a criou."

Ela fica quieta, processando a informação. 

"Ah."

Rio, acaricio seu rosto. 

"Estava com ciume, baby?"

Ela se aproxima, seu cheiro delicioso, os olhos brilhando de excitação.

"Estava, e muito. Porque, Shawn Mendes, você é meu."

Puta que pariu, eu quero tanto essa mulher. Não só fisicamente, quero ela inteira, quer o coração dela, os beijos dela, os abraços, cada pedacinho dela.

E eu não quero por 20 minutos, não quero por prazer, somente. Quero o amor dela, e para sempre. Quero passar a vida ao lado dela.

Ela olha pra piscina.
"E se a gente tomar um banho?"
Ela sorri pra mim. Ela se levanta e eu também e pulamos juntos.
Ela de roupas e lingerie.

Rio, jogando água nela, que joga em mim de volta. Ela fica tão linda assim, tão natural e sem as barreiras que ela ergue, pra se proteger do mundo.

Eu a puxo pro meu colo, as pernas dela ao redor da minha cintura. E eu beijo a boca dela, quase sentindo seu coração disparado de amor.

Ruin ~ Shawn MendesOnde histórias criam vida. Descubra agora