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Lola

Vou para casa. Não dormi a noite inteira. A insônia é terrível. Tomo um banho quente, lavando de mim a sensação ruim que Froy me trouxe. Não sabia que ele tem essa vibe tão sombria.

Ele não é só maldoso. Tem algo nele que me assusta profundamente, que me perturba. E por Yatra querer ajuda dele, é porque é do mesmo jeito. É tão doente quanto.
Não consigo parar de me perguntar o que eu fiz.

Ponho o pijama e durmo em instantes.

Acordo sem ar, o coração acelerado e o rosto molhado de lágrimas que eu derramei durante o sono. Lágrimas frequentes. Saio na cama. São 7 da manhã.

Sonhei com a minha mãe, que me acolhia nos seus braços, e eu chorava contra o peito dela, enquanto ela cantava baixinho, tentando me acalmar.

"O que eu estou fazendo, mama?"

Sussurro, baixinho. 

"Não pode se envolver com esses rapazes, mi amor. São maus e vão acabar com esse bom coração que você tem."

Suspiro, pensando no acordo que eu fiz com o Froy. Ele é um monstro, vi isso nos seus olhos. Mas eu estou arriscando tudo pela minha família. Absolutamente tudo. Não sei minha mãe vai me perdoar por ter feito tudo isso, mas só preciso dela, do meu pai, da minha irmã. 

Meu celular toca, e eu percebo que acabei adormecendo no sofá, enroscada no moletom da minha irmã, a única coisa que me ajuda a dormir. Yatra está me ligando? Vindo dele, espero qualquer coisa. Absolutamente qualquer coisa. Me envolvi nisso por saber que ele é frio e sem escrúpulos, ele vai achar meus pais, mesmo que tenha que derramar sangue no caminho. Talvez seja por isso que a própria irmã não quer se aproximar dele, mas eu já avancei muito pra voltar atrás.

"Te acordei?"

"Não, pode falar. Já pegou o menino?"

Minha voz falha. Eu senti arrepios na nuca pelo mínimo contato com Froy. Não quero imaginar o que ele vai fazer com ele nos braços. Não posso nem pensar nisso, eu nem preciso que minha mãe não me perdoe, eu mesma não me perdoaria. 

"Não, não é o momento, principalmente agora que eles estão seguros, rodeados de homens. Encontraremos o momento certo para pegar ele. Mas não é por isso que eu te liguei... Eu os achei, Natalie. Seu pai faleceu, infelizmente, mas sua mãe e irmã estão bem."

"O quê?"

Sussurro. Não sei o que sentir. Espero a felicidade por final,mente ter notícias ou a tristeza sobre o papai, mas nada vem. Estou morta por dentro ou algo do tipo, imagino eu. Talvez eu tenha sonhado tanto com esse dia que eu não acredite mais, que eu esteja esperando eu acordar e sentir a dor no peito de saber que eu me enganei, outra vez.

"Natalie, você está bem?"

Não consigo responder, não consigo raciocinar. Meu pesadelo acabou? Nunca mais vou acordar no meio da noite, completamente sozinha? Agora eu tenho algo que não tinha mais: esperança. E eu só consigo pensar que essa angústia, Isabella vai sentir, quando Froy tirar o menino dela. Mas vai ser ainda maior, maior que qualquer dor que eu tenha sentido. Maior que todas as lágrimas que eu derrubei e todas as noites de insonia, todos as memórias durantes os sonhos e as noites sozinha. 

"Estou. Tenho que ir."

Desligo, pego a chave do carro e saio do meu apartamento. Me lembro onde fica a casa de campo, já fui lá uma vez e preciso contar com a minha memória pra chegar até lá. Shawn precisa saber, não sei o que deu em mim de entrar nessa.

A brisa gelada me causa arrepios pelo corpo todo. Me arrependo de não ter pego um casaco, mas não posso demorar. Entro no carro, e pego a rodovia. A manhã é solitária e quieta, o que é acolhedor, de certa forma.

Tento ligar para o Shawn, mas a cai direto na caixa postal.
"Oi, aqui é o Shawn! No momento, não posso atender, mas deixe o seu recado e assim que puder, eu retorno."

Suspiro, desligando. Fico impaciente. A estrada está vazia, e o sol surge entre as montanhas. A vista é linda. Vejo um carro atrás de mim e me ajeito no banco. Ele vem muito rápido, como se ele não fosse frear. Fico tensa.

Tenho que entrar no acostamento pra ele não bater no meu carro. Meu coração batendo tão forte que eu preciso respirar fundo para me acalmar.

Ele acelera, me deixando pra trás.
"Que porra foi essa?"
Sussurro, sem acreditar o quanto minha vida esteve por um fio.

Sinto um arrepio. Tento ligar de novo e dessa vez, vou deixar mensagem na caixa postal.
Ouço o beep.

"Shawn, me escute, você tem que ter cuidado. Seu filho está em perigo. O Yatra o quer e Froy está com ele, os dois vão sequestrar pra..."

Sinto o impacto violentamente. Um carro veio com velocidade e me acertou.
Sou arremeçada contra o cinto.
Fecho os olhos com força, tentando evitar da imagem do impacto na minha mente. Minha cabeça se choca com o vidro e eu apago, me afogando numa mistura de dor e agonia. A última imagem que vejo na minha mente é a da minha família.

"Eu tentei, mama. Tentei fazer o certo."
Ela acaricia meu rosto, uma ternura infinita em seus olhos.

"Eu sei, mija. Eu estou orgulhosa de você, Nat."
Ela beija minha testa. Sinto seu perfume suave, os seus cabelos escuros como os meus cheirando a rosas. Meu coração se aperta de saudade.

"Sinto saudade, mama. Muita."

"Também sentimos. Vamos nos ver, prometo. Mas você precisa ser forte e passar por essa, meu bem. E buscar por justiça."

Adormeço nos braços da minha mãe, enquanto ela cantava uma música de ninar que ela cantava para eu dormir.

Notas:
Ain que dó da Lola, cara. Não merecia nada disso :(






Ruin ~ Shawn MendesOnde histórias criam vida. Descubra agora