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Dias depois...

Bella

"Já disse que você é a amiga mais linda e perfeita do mundo?"

Ravi chega com Peter no colo, e meu menino está todo arrumadinho e sorri quando me vê. Dou um beijo nele, botando as argolas.

"Tão falso, só lembrou de mim porque a cubana vai sair."

"Claro que não, você sabe que eu odeio essas festas de família anuais que a minha querida prima Loren organiza. É só pros meus tios ficarem perguntando sobre namoradas. Tipo eu sou o cara mais gay de todos, isso é tão... Festas de família."

Rio, calçando os saltos. Saímos do hotel, que, aliás, foi invadido pelo Ravi, que agora, dorme na cama que seria da Camila, e eu, ela e o Peter dividimos a cama gigante.

Chegamos quando o sol estava se pondo. Não sei por que eu deixei Ravi me trazer nessa festa, lidar com a Loren é estressante, pra dizer o mínimo. Imagine com uma versão velhinha, ambiciosa, a mãe de família, o tio que só diz coisas desconfortáveis, todos no mesmo estilo dela. Vai ser uma longa noite.

Abro aquele sorriso falso padrãozinho e enfrento o exército de Lorens. Abraço e deixo as pessoas brincarem com o Peter, mas sem estar muito a vontade com isso tudo.

"Você veio e trouxe esse fofinho. Posso carregar ele um pouquinho? Preciso treinar."

Ela sorri. Como seria esfregar essa cara rebocada dela no asfalto? Imagino a cena, o gostinho, e me sinto muito bem.

"Claro."

Ela pega ele no colo.

"Oi gata, que bom te ver aqui. E ainda trouxe esse lindinho."

Aaliyah me abraça por trás. Jesus, então o Shawn está aqui também. Ótimo.

"Oi, princesa."

Dou um beijo na bochecha dela. Ela me leva no bar, pra pegar uma bebida. Eu recuso, no início, mas aceito um copo de vodca, mas só porque eu vi que o Shawn acabou de chegar e está lindo, como sempre. Faz uns dias que não nos vemos, e eu confesso que já estava sentindo falta dele.

Até pensei em vistá-lo na empresa, mas por que? Pra dizer o que? A distancia é melhor, não posso correr o risco de me apaixonar por ele mais do que eu já estou. Vai ser muito difícil ir embora.

Vejo ele pegando Peter no colo. Praticamente viro meu copo, indo até lá. Aaliyah já tinha me deixado, pra ir no banheiro. Uhum, banheiro. Eu vi ela saindo com o noivo dela, nesse ritmo vai logo um novo Mendes vai entrar para a família.

Me aproximo, e trocamos olhares, mas as palavras ficam na garganta. Seguro a mãozinha do meu pequeno, sentindo a respiração dele no meu rosto.

"Magda, oi."

"Karen, que bom te ver! Como vão os meninos?"

"Bem, acho. Eu estava viajando, acabei de voltar. Deixa eu ir falar com o meu filho, a gente se fala."

Fico tensa. Eu já a perdoei, claro, e eu, agora que sou mãe, entendo porque ela fez aquilo comigo, mas eu ouço a sua voz e o meu corpo se arrepia, lembrando da voz dela pedindo desculpas, antes de eu perder a consciência. O frio da injeção sendo aplicada no meu pescoço, a dor da traição dela.

"Oi filho...Bella! Que surpresa te ver, você está tão linda! E esse menino lindo? É seu?"

"É meu filho, sim."

Ela se aproxima, me olhando, como se pedisse permissão com os olhos.

"Pode pegar nele, Dona Karen."

Shawn continua com ele nos braços, num instinto de proteção. Ela fala com ele, segurando seu pézinho. Ela fica séria, de repente.

"O que foi, mãe?"

"Nada, é só que... Ele me lembra muito você quando era dessa idade."- Gelo. Vou ser desmascarada aqui, na frente de todo mundo? Meu coração se acelera.- "Deve ser a emoção de saber que eu vou ser avó. Como esse lindinho se chama mesmo, querida?"

Ela já achou ele parecido com o Shawn, se souber se tem o mesmo nome, vai saber.

"Nicolas."

Pela primeira vez não foi uma mentira sem necessidade. Ela sorri, encantada com ele. Depois, ela nos deixa sozinhos, enquanto foi cumprimentar algum conhecido. Ficamos num silencio confortável, ambos cuidando do Peter. Meus instintos me diziam pra cair fora dali, mas meu corpo não obedece.

"A gente precisa conversar."

A voz dele é baixa, íntima, com um toque de sedução. Balanço a cabeça, desviando os olhos. Seu ficar olhando pra ele, vou esquecer de tudo e vou me entregar a ele, vou contar tudo e vou esquecer que algo nos separa.

Ravi se aproxima, terminando o copo de Whisky e botando na mesa.

"Me deixa ficar um pouquinho com esse principezinho? Peter precisa mostrar essa beleza pro mundo, coisa boa é pra ser vista mesmo."

Shawn entrega ele pro Ravi, enquanto eu faço uma careta. Onde aperta pra sumir agora?

"Peter? O nome dele é Nicolas, Ravi. Bebeu demais, foi?"

Olho pro Ravi, esperando que ele me olhasse de volta e entendesse que é pra ele ficar calado.

"Nicolas? Não, o nome dele é Peter. Quem te contou essa mentira?"

Sinto os olhos do Shawn em mim.

"Vou no bar."

Praticamente saio correndo. Shawn me segura antes, agarrando meu braço.

"Espera aí, você não vai a lugar nenhum antes de me explicar porque mentiu."

Bufo. Odeio que me deem ordens.

"Me solta, cara. Eu não me meto nos seus assuntos e você não se mete nos meus. Por que isso te perturbou tanto?"

"Porque só mente quem está escondendo algo, e você, definitivamente está. Me conta agora o que é."

Eu puxo meu braço, enfrentando ele.

"Baixa a bolinha, Mendes. Você não tem nenhum direito de me dar ordens."

Vou andando pra dentro da mansão, e acabo encontrando um banheiro. Jogo uma água no rosto, me olhando, em seguida, no espelho. As minhas mentiras vão acabar me afundando.

Abro a porta e o Shawn me espera e me puxa. Reviro os olhos. Ele me puxa até um quarto, parecendo irritado. Deixo ele se acalmar, achando graça disso tudo. Parece que a vodca está fazendo efeito, finalmente.

"Você é uma mentirosa."

"Uhum, concordo, agora posso ir? Tchau..."

Faço a menção de sair, mas ele me puxa, me fazendo encaixar no corpo dele. A proximidade, os rostos colados, me faz ficar sem ar. Ele passa a mão pelo meu corpo, me fazendo arrepiar. Preciso de mais que toque, preciso sentir seu gosto.

"Você não vai a lugar nenhum até eu beijar essa sua boquinha gostosa."

E nos beijamos. O gosto de saudade se mistura com as bebidas que tomamos. Nossas línguas travam uma guerra, eu passo os dedos no cabelo dele, e ele me puxa ainda mais, apertando minha coxa.

Meu celular toca.
Eu rio, me afastando nele, que morde o lábio. Era da empresa, lá em Paris. A minha assistente está com problemas pra mexer no sistema. A direciono, e ela consegue, pedindo desculpas pela interrupção.

"Acho melhor eu ir..."
Desconverso. Ele me segura.
"Bella, eu preciso de você. Pode ficar? Não vou tentar nada."

"Ta."
Conversamos, e ele me contou como a vida dele tem sido, as viagens, os negócios. Eu conto sobre mim, também, tendo cuidado ao contar sobre o parto, onde eu quase morri.

Seus olhos brilham, enquanto eu conto.
"Queria ter estado lá, com você."

Meu coração se doi. Por minha causa, você não estava, Shawn. Por minha causa.

Ruin ~ Shawn MendesOnde histórias criam vida. Descubra agora