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Bella

Aaliyah teve que ir embora pro hotel, tem um voo mais tarde, de volta pra casa.
Por pouco eu não contei do Peter. Foi tão pouco que eu suava frio. Um pequeno deslize e já era tudo o que eu fiz pra viver bem e criar meu menino tranquilamente, longe de toda essa ambição e dor que fazem parte desse mundo da máfia.

Fiquei com o coração na mão quando ela comentou o irmão dele. Ele vai ser pai de novo, como deve estar se sentindo? Será que está feliz? É filho dele, imagino que sim.

Pego o carro e vou até o restaurante de sempre, me encontrar com o Lucas.
Fui meio impulsiva ao telefone, estava brava e com ciúme, só espero que eu não me arrependa disso mais tarde.

Por que algo me diz que isso vai acabar mal? Não se aprende a amar alguém, simplesmente se ama. Não quero fazer ele acreditar que tem chance pra depois eu desistir dele.

Ele já está me esperando com vinho branco, um sorriso grande e os olhos brilhando.
Me abraça, beija minha bochecha. Sei que ele busca por mais que beijinhos de bochecha, mas eu não posso oferecer isso a ele. Ainda não.

"Que lindo."
Eu digo. Tem pétalas de rosas espalhadas e uma caixinha vermelha em cima, com rosas ao redor.
Olho pra ele, que sorri, pega minha mão e pega a caixinha, me dando.

Abro. É um anel delicado, mas muito lindo, com uma pedrinha no meio.
Olho de novo pra ele, impressionada. É muito linda.
"É pra você, Bells. Tudo isso."
Fico sem ar, encantada com tudo.
Me sento e tomamos vinho.

Deixo meu coração de lado e tento gostar dele de outra forma. Pego sua mão e ele me olha, entende que eu estou me esforçando bastante.

Meu celular toca. Ele sorri. Sabe que eu preciso atender. Vou para fora.
"Alô?"

"Oi, boa tarde, queria contratar os seus serviços para um casamento em Toronto."
Não contenho um sorriso. Em Toronto? Então realmente somos nível internacional.

"Agora eu não estou em casa, posso te ligar mais tarde para conversarmos melhor?"

"Claro, eu espero. Acompanho seu trabalho aí na Europa, e é incrível."

"Muito obrigada. Eu te ligo mais tarde. Até mais."

"Até."
Desligo. Ai Meu Deus!
Mas se eu fizer esse casamento, vou ter que fazer ele exclusivamente, já qu eu teria que viajar pra Toronto.

E é em Toronto! A chance de eu encontrar com o Shawn lá, por acidente, é muito grande. E eu vou ter que levar o Peter também, imagina se o Shawn, além de me ver, acaba vendo o bebê também?

Volto pra mesa, pensativa.
Lucas me observa e eu conto pra ele, quando sento.
"Bells, é o seu sonho. Se você conquistou isso, é porque se esforçou e se dedicou muito, agora aproveite. Sobre o Shawn, bom, Canadá é o segundo maior país do mundo, qual as chances de você acabar encontrando com ele? Vai deixar passar essa chance de realizar um sonho por causa dele?"

Suspiro. Claro que eu quero isso, trabalhar em outro continente vai ser essencial pra deixar a empresa ainda mais famosa, mas o meu passado todinho mora naquela cidade. Lucas tem razão, o Canadá é muito grande, talvez Shawn nem more mais em Toronto...

Me encosto na cadeira, sem saber qual caminho seguir. Eu queria muito fazer esse trabalho. Provavelmente, vai ser algo muito grande, vou ganhar muito com isso e vou poder, de certa forma, descansar. Planejar só um casamento por um tempo, vai me deixar ficar mais tranquila, vou poder passar mais tempo com o meu pequeno e rever alguns amigos antigos. 

Dois anos se passaram e o meu coração ainda acelera quando penso nele, em reencontra-lo. De qualquer forma, tenho algumas horas pra pensar. Comemos, tranquilamente. Mas a minha mente e o meu coração, acesos. Não, eu não vou me encontrar com o Shawn, é impossível. Tenho que pensar como profissional, é uma oportunidade incrível, vou ganhar muito com esse trabalho. E é só nisso que eu tenho que pensar.

Lucas me deixa em casa, e eu falo pra ele ficar com o meu carro. Entro em casa, e o meu pequeno está vendo desenho. Camila está cozinhando, o que é um perigo, já que ela tem grandes chances de tacar fogo na casa. 

Peter se aconchega no meu colo, e eu fico fazendo carinho na sua cabeça, enquanto ele mama a chupeta. O cheirinho dele é de neném, que eu adoro. Ele logo dorme no meu colo. Eu pego ele e ponho na minha cama, voltando para a sala. 

Camila comia miojo, enquanto assiste Big Brother. Rio, sentando no sofá.

"ESSE ESCROTO TEM QUE SAIR!"

Ela nem pisca, me fazendo achar graça. Ela tem essa vibe boa, tranquila. Dividir o apê com ela foi a melhor decisão que eu poderia ter tomado. Camila esteve comigo durante todo esse tempo, ficando acordada até tarde, me ajudando a cuidar do Peter quando ele chorava de madrugada. E ainda sim, me apoiando sempre, desistindo dos seus sonhos pra viver os meus.

Ela olha pra mim, reparando no meu silencio atípico. Preciso ver a única pessoa que me entende e que vai me ajudar a decidir, mesmo que dizer uma palavra: minha mãe. Ver ela, mesmo que esteja totalmente diferente da mãe que eu conheci, me acalma, me ajuda. As memórias voltaram totalmente e só serviu pra eu perceber o quanto ela abriu mão de tudo pra mim, inclusive aceitou ficar longe do amor da vida dela pra me proteger. 

"Cami, fica de olho do Peter? Preciso fazer uma coisa." 

Ela me olha, mutando a televisão.

"Você está bem? E é claro que eu fico com esse bonitinho."

Balanço a cabeça, pegando a minha bolsa.

"Estou, só preciso vê-la. Quando eu voltar, conversamos."

Cami assente e eu saio de casa, indo a pé mesmo, já que a casa de repouso onde ela está, fica no final da rua. 

Entro lá, sendo cumprimentada.

"Ela está no jardim, querida."

Agradeço e vou para lá, onde ela cuidava dos girassóis. Me aproximo devagar, me agachando ao seu lado.

"Oi, mãe."

Ela me olha. Seus olhos brilham e ela logo volta a atenção para as flores.

"Os girassóis estão tão bonitos, não acha?"

Ela diz. Sorrio, tentando permanecer forte. Dois anos sem a minha mãe me reconhecer é uma facada diária nas costas. Mas ainda tenho esperança, porque ela me abraça, quando percebe como eu estou cansada e triste.

"Mãe, querem me levar pra Toronto pra fazer um casamento lá, mas eu não quero encontrar com ele."

Sentamos no banco e ela começa a cantar baixinho. Pego sua mão.
"Se o seu coração mandar, sua felicidade vá buscar. Os seus sonhos são estrelinhas, que brilham lá no céu, olha como são lindos, os sonhos seus. Siga as pedrinhas pelo seu caminho, siga sempre em frente que eu te dou carinho. Não tenha medo, sempre vou estar lá, segurando suas mãos, sempre que precisar."

Eu a abraço, enquanto ela continua cantando. Enxugo as lágrimas e beijo sua testa.
"Mãe, eu vou ficar um tempo fora, mas eu vou voltar. Vou te ligar todos os dias, está bem?"

"Está bem."
Ela me olha. Eu saio, me sentindo bem.
E eu disco o número da moça que me ligou.

"Alô?"

"Oi, você me ligou há algumas horas... Pode conversar?"

"Claro! Que bom que me ligou de volta!"
Começo a caminhar, quase ouvido minha mãe cantando baixinho, em italiano. A mensagem dela foi clara: siga seus sonhos e eu vou sempre está ao seu lado, para te apoiar.

Ruin ~ Shawn MendesOnde histórias criam vida. Descubra agora