Ruin ~ Shawn Mendes

95

Um ano antes...

Bella

"Parece um globo."
Camila diz, me ajudando a levantar.

"Meu filho não parece um globo."
Ta, parece sim. Que menino gigante.

"Eu devia fazer um vestido lindo pra quando você sair do hospital."
Ravi diz, enquanto folheava uma Marie Claire.

"Eu não vou sair do hospital vestida de anjo."

Ele faz uma cara de ofendido.
"Não é de anjo, é de rainha, meu amor. Anjo é esse gatinho que ta vindo."

Reviro os olhos.
"Já escolheu um nome, falando nisso? Essa ideia de escolher quando ver a cara dele é tão... Moderna."
Ele ia falar outra coisa, mas eu olhei pra ele com uma cara de assassina.

"Vou escolher na hora."
Camila me ajuda a sentar na mesa. O bebê chuta. Nos últimos dias, ele está bem agitado, a ponto de eu ter me acostumado com os chutes.

"Podia por Shawn Junior."
Camila diz e os dois palhaços caem na gargalhada. Mas, ao invés de agredir eles, minha mente viaja até ele. Onde ele estaria agora? Será que está feliz?

"Vocês são uns..."
Sinto uma contração.

"Pra Bella ter ficado sem palavrões, é porque tem algo errado."

"Bella?"
Finjo cara de dor, brincando com eles. Me levanto, rindo. Eles fazem careta, reclamando da brincadeira.
Sinto algo se romper, e um líquido descer. Paro e olho para o chão.

"A bolsa! Meu Deus! Eu vou ser tio!"
Sinto dores fortes. Me sento de novo.

Camila liga pra emergência.
Ravi segura minha mão, acompanhando a minha respiração. Mesmo calmo, percebo a preocupação nos seus olhos.

"Estão vindo, Bella. Respira, do jeito que a gente treinou."
Mas a dor é insuportável. Tento respirar, fechando os olhos. Dói muito. Tenho que morder o lábio para não gritar, parece que estou sendo destruída de dentro pra fora.

Logo os socorristas chegam, e me levam, com muito esforço. Cada movimento brusco, é uma dor violenta, sem contar as contrações constantes, que pioram a cada minuto. Mesmo com dor, eu só consigo pensar que o Shawn deveria estar aqui,segurando a minha mão, tentando segurar as lágrimas e sorrindo, bobo, sem acreditar que, em algumas horas, vamos ter um filho. O nosso pequeno. 

O caminho até o hospital parece eterno, mesmo com a ambulância a toda velocidade. Camila e Ravi estão comigo, mas a sensação de solidão, medo e angústia não me assombram. A culpa também. Estou tirando do Shawn a oportunidade de ver o filho nascer. Um dos momentos mais importantes na vida de uma pessoa, eu estou tirando dele, excluindo disso.

"Cami, liga pro Shawn."

Ela não precisa de explicações.  Ela sempre me lembrou do quanto eu estou sendo egoísta. Atende, Shawn. Atende, por favor. Mesmo que ele perca o momento, já que ele está em outro continente, quero ele aqui, para conhecer o filho. 

"Caiu na caixa de mensagem."

"Tente outra vez. Por favor."
Arfo. A dor aumenta a cada segundo.
Entramos no hospital, e eu ja não consigo conter os meus gritos. Minha testa está suada, só percebo quando Camila enxuga.

"Nada?"
Pergunto. Ela balança a cabeça.
"Então apague as chamadas."
Ela me olha, surpresa. Se ela fizer isso, Shawn nunca vai saber que eu liguei pra ele.

Quando dou por mim, já estamos na sala de cirurgia. Vejo enfermeiras e médicos conversando. Camila ficou comigo. Ravi não aguentou, mas eu acho que é porque ele vai arrumar o quarto para quando eu voltar, com o bebê, seja recebida.

Sinto uma dor estranha, com uma intensidade muito estranha. A doutora faz uma cara não muito boa para o que vê. Tem algo errado comigo e eu so consigo pensar que o meu pequeno tem que se salvar.

Grito de dor, quando uma nova contração começa. Respira, inspira.
"O que foi, doutora?"

"Não vamos poder fazer um parto natural, infelizmente. Ocorreu um problema com a sua placenta e vamos ter que fazer uma cesárea."

Tento respirar com calma, tentando controlar a minha dor.
"Faça o que for necessário para salvar o meu pequeno. Por favor."

Ela assente devagar. Me anestesiam, e eu seguro mais forte a mão da Camila, mais por medo, já que a dor parou.
"Obrigada por estar aqui."

"Isso não é uma despedida, Isabella,pode parar."

"Mas as enfermeiras disseram..."

"Bella, não. Você vai viver pra ver o seu pequeno, pra cuidar dele e pra ser feliz também. Nem pense em me deixar, porque se não eu te mato."

Rimos, e ela beija minha testa.
"To aqui, garota, não vou sair do teu lado. Nunca."

Mas aí, minutos depois, eu ouvi o choro estridente e o sorriso da médica, com um pacotinho nos braços. O meu pacotinho. Ali, eu me perdi.
Completamente.

A enfermeira me dá ele, só um tempinho.
"Oi, meu amorzinho. Você é tão lindo...Peter."

"Ele vai se chamar Peter? Tipo..."

"Sim, tipo o pai dele."
Meu bebê é tão lindinho, pequeno. Não sabia que o mundo poderia caber nos meus braços até que ele coube.

As enfermeiras pegam ele novamente.
E eu sinto a dor outra vez.
"Anne, me ajude aqui."
A enfermeira vai até ela.

"Cami, o que está acontecendo?"
Camila balança a cabeça.

"Desculpe, mas é melhor que você vá. Teremos que operá-la."
Uma enfermeira diz, para Camila.

"O que está acontecendo?"

"Uma hemorragia na placenta, como eu previa. Vá, ela vai ser muito bem cuidada, eu garanto."
Camila assente, soltando minha mão.

Em alguns segundos, colocam uma mascara em mim e me pedem pra contar até dez, e eu adormeço logo depois.

Acordo devagar, ouvindo uma coversa aos sussurros.
"Bella? Oi, minha linda, você está bem?"
Ravi pergunta. Pisco algumas vezes.

"Acho que sim. Só preciso de um pouco de água."
Ele pega, de uma garrafa que estava ao lado, e me dá.
"Obrigada."

Olho pro quarto, finalmente. Ravi deixou ele a coisa mais linda, com balões azuis, bichinhos de pelúcia e um "Peter" escrito em letras de madeira na mesinha do quarto.

"Ah, Ravi."

"Gostou? Nosso príncipe merece todo o conforto do mundo. Ai, eu vou ser o tio mais babão de todos."
Sorrio. Alguns minutos depois, trazem o meu pequeno, tão lindinho, dormindo.

Ravi pega ele, com cuidado, e me dá. Eu nem consigo acreditar no que vejo.
Meu menino é tão perfeitinho, com seus olhos claros iguais aos meus.
Dou um beijo na testa dele, com cuidado.

Agora, eu achei a força que eu precisava para enfrentar tudo. Meu pequeno está comigo, agora eu estou quase completa. Quase, porque a outra metade, está em algum lugar do mundo, muito distante para estar aqui.

Notas da autora:
Nem ia escrever sobre o nascimento do nosso baby, mas decidi dar esse mimo pra vocês❤