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24 horas antes

Loren

As vezes, precisamos de um baque pra entender as coisas. Quando a Isabella me defendeu, se preocupou comigo, eu olhei nos seus olhos, esperando algo que me dissesse para não confiar nela, mas eu vi algo muito simples, sincero neles.

Eu fodi com a vida dela e ela ainda se preocupou comigo. Me senti tão frustrada com tudo o que eu fiz, que mal conseguia olhar nos olhos dela. Então bulbuciei a verdade.

Depois de tudo, isso é o mínimo que eu posso fazer. Subo para o quarto, tiro a aliança e boto em cima da cama. Arrumo minhas coisas, e decido escrever algo. É uma despedida, não vou mais ficar no caminho deles.

Minha vida pode ser toda errada e minha família pode me odiar e me desprezar por ser mãe solteira e divorciada, mas eu não vou mais machucar ninguém.

Querido Shawn,
Não sei por onde começar. Eu poderia passar a vida inteira pedindo desculpas por ter sido uma vadia com vocês dois, mas não seria suficiente. Eu só posso sentir muito por ter entrado na sua vida e ter te feito tão infeliz nesses dois anos.

Aqui, eu deixo o meu adeus. Já fiz de tudo para separar vocês, não vou mais fazer nada. Quero dizer que eu quero muito que você seja feliz, porque você merece muito ser amado e eu sei que ela vai te amar.

Sei que não parece, mas tenho muito carinho por você e digo com todo o meu coração que você precisa tomar cuidado com os seus inimigos. Porque eles estão aí fora, querendo a sua cabeça, e eu desejo que você possa vencê-los, que possa encontrar a paz e ter a família que sempre quis ter.

Loren

Deixo a casa. Não sei onde vou, mas preciso sair. Não sei como vou me sustentar, mas eu vou dar um jeito.
Pego o carro e vou para a estrada, dirigindo sem rumo, como se nada mais me segurasse.

A brisa leve é confortável e eu me sinto bem assim, muito melhor do que em muito tempo. Talvez, melhor do que nunca. Passei todos esses anos debaixo das regras machistas da minha família, cresci sabendo que eu tinha que casar com um homem rico e ter filhos. Que era a única coisa que eu poderia fazer, se quisesse uma vida respeitável.

Não mais.
Nunca mais.
Dirijo até parar de uma lojinha de estrada, para comprar uma água e algo para comer. Também para abastecer.
Abasteço e entro na loja, que está estranhamente vazia.
"Olá? Tem alguém aí?"

Nada. Nem um ruído sequer, como se nem sequer fosse habitado. Um mau pressentimento me toma mas eu tento ignorá-lo. Não deve ser nada.

Pego barrinhas e a água, deixo o dinheiro no balcão e saio. Pego a chave do carro e abro, mas sou puxada com brutalidade.

Grito, mas uma mão grande me sufoca e eu tento me desvincilhar.
"Sh,sh, fica quieta, Loren. Tenho planos pra você."
Froy, aquele doente, quer se vingar. Filho da puta. Quero dar um soco nele. Ele me amarra, apesar de eu tentar escapar. Ele é muito mais forte e os seus dedos machucam meus braços. Com certeza vão ficar hematomas. Ele venda meus olhos.

Froy me empurra, e me faz entrar num carro. Ele dirige e eu só imagino minhas mãos ao redor do pescoço dele. Que sensação deliciosa.
"Você é doente."
Digo, sentindo a fúria me dominando.

"Sou tanto quanto você, Loren."
O tom dele é muito calmo, revelando a podridão de alma que ele tem. Não há arrependimentos ou escrúpulos nele. Quero gritar porque eu sei que ele tem razão, porque eu sei que fui uma filha da puta que merece ser desprezada, mas não quero morrer.

"Me mate logo."
Debocho, sem paciência.

"Não vou te matar, Srta Gray. Mas você vai me ajudar na minha vingança."
O celular dele toca e ele atende.

"Que porra, Sebastian?"
Ele explode.

"Que? Caralho, como tu deixou ela escapar? Achei que tinha ela sob controle. Estou levando a loirinha, vou cuidar da Lola. Se você vacilar outra vez, Yatra, vai custar caro, você entendeu?"

Ele desliga, bufando de ódio.
Rio.
"Problemas no reino, princesa?"
Brinco. Adoro provocar e ele responde com uma risada intensamente venenosa. Me encolho. Ele está realmente com ódio.

"Me diga, Loren, já matou alguém?"
Tremo com o pensamento.

"Não."
Minha voz sai seca. Queria tanto matá-lo, seria muito bom.
Ele para o carro e eu gelo. Dirigindo, suas mãos estariam longe de mim. Não me machucaria assim, mas livre?

"Ótimo, agora dirija."
Ele sai do carro, abre a porta e me puxa. Tira minha venda e eu me sento no banco do motorista. Ele saca a arma, apontando para a minha cabeça.
"Dirija e bata no carro da Lola."

Ele ordena.
Tremo. Não, não quero... A arma apontada pra mim me causa arrepios. Obedeço, tentando não surtar. Quais as chances de eu matá-lo num momento de distração? O que eu poderia fazer, se ele tem uma arma apontada pra mim?

Aumento o rádio, cantando a música. Se ele pensar que eu estou bem com a situação, talvez relaxe. Mas, como eu não sei o quão perto Lola está, talvez não haja tempo de distrair.

A falsa leveza é leve, cobre o vazio do meu coração como um Band Aid cobre o ferimento. Por favor, não. Por favor, não desabe.

Ele começa a relaxar. Aproveito a minha coragem súbita e dou um soco no seu rosto, fazendo o seu nariz quebrar e ele gemer alto de dor.
"Sua puta!"
Sinto a bancada antes de vê-la. Na minha barriga. Ele atirou acidentalmente. Mordo o lábio, segurando um grito de dor e de pânico.

O sangue escorre. Meu bebê está morto.
Cometi um erro terrível. Vejo o carro da Lola e tento frear. Ele volta a apontar a arma para a minha cabeça.
"Se você não bater, eu te mato, loirinha. Juro por tudo que eu te mato."

Choro. Não posso morrer. Tenho muito medo. Fecho os olhos e acelero, pedindo que Deus me perdoe. O impacto me lança contra o vidro, a dor latejante na testa compete com a do meu útero perfurado e ensanguentado.
A dor é insuportável a ponto de eu desmaiar.

Notas:
Pqp tadinha da Loren, nunca achei que eu teria pena dela, não merecia :(
E essa música é tão perfeita, cara, sem condições

Ruin ~ Shawn MendesOnde histórias criam vida. Descubra agora