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Dani

Eu poderia matá-lo daqui, mas estou muito exposta. A posição é péssima, poderia errar, e mesmo se acertasse, o companheiro dele está bem ali. Me mataria em dois segundos.

Ele parece ter se convencido que não há ninguém aqui e se afasta. Assim que ele recua, eu atiro. Levanto e atiro no outro também.

Camila logo está de pé. A adrenalina mantem a sua agilidade. Seguimos pelo corredor, com cuidado. Ouço tiros distantes e torço para que estejam todos bem.

Eu sinto antes de ver o tiro. Minha panturrilha lateja. Atiro e o homem cai, morto no chão. Arfo, mordendo com força o lábio.
A dor é muito intensa, a ponto dos meus olhos lacrimejarem. Olho para a direção da dor e vejo muito sangue. Meu estômago se revira. O cheiro é forte, mas tento ignorar a todo custo.

"Sente. Temos que fechar pra não sair muito sangue."
Obedeço, porque ela parece saber o que está fazendo. Ela rasga uma tira da camisa dela e amarra com força no local, me fazendo gritar de dor.
Camila me ajuda a levantar e seguimos pelo corredor.

Ela pega a arma de um dos homens que estavam mortos. Sempre olha pra mim, como se quisesse ter certeza de que eu estou bem. Tento parecer bem, mas eu sei que a dor me entrega e sai mais uma careta do que um sorriso.

Tento não olhar nos olhos dos homens que eu matei, para que não ficassem gravados na minha mente, mas falhei todas as vezes. Porque eu não consigo olhar para a vida escorrendo deles sem imaginar que talvez estejam deixando um filho em casa.

Chegamos no quarto da Isabella e eles estão lá, preparados. Ela franze a testa de preocupação quando vê meu estado. Shawn também fica alerta. Não gosto dessa preocupação.
"Não se preocupem comigo, vou sobreviver. Mas e os homens lá fora? Vão nos matar se não fizermos nada."

Shawn balança a cabeça, enquanto Isabella analisava o ferimento.
"Assim que o ataque começou, mandei seu pai liderar um pequeno grupo de homens para combatê-los."
Então meu pai está sendo herói mais uma vez.

Tento não pensar que ele está lá fora, se arriscando outra vez. Falho novamente.
"Ela entrou, mas não saiu."
Isabella murmura. Shawn se aproxima.

Estão falando da bala.
"Precisamos levá-la ao hospital antes que fique alguma sequela."
Shawn diz, pensativo. Ele olha pra mim e eu entendo: temos que sair em meio ao fogo cruzado.

"É muito perigoso."
Isabella diz, tentando conter a emoção na voz. Ele beija sua testa, e a cena é tão fofa.
"Vamos ficar bem, baby. Tenho que levá-la e preciso que fique aqui, segura, está bem? Cuide do nosso pequeno."
Ela assente devagar.

Shawn me deixa apoiar nele. Não diz nada, mas pelo seu olhar, sinto seu carinho, sua proteção. Temos uma ligação muito forte, me sinto segura com ele. Como se fosse meu irmão ou algo assim.

Sua expressão é pura concentração. Corremos muito risco.
"Como isso aconteceu?"
Sussurro. Achava que esse lugar era o paraíso, seguro, tranquilo. Com tantos soldados, achava que ninguém nunca poderia ameaçar a paz desse lugar. Estava errada.

"Um dos soldados é espião, pertence ao grupo rival e tinha levado alguns homens meus para o lado dele. E parece que planejavam isso há semanas, estavam esperando a minha chegada."

"Sinto muito."
É só o que eu consigo dizer.
"Eu também. Temos muito o que conversar."

Eu sorrio. A dor criou algo alucinógeno,imagino. Por qual outra razão eu estaria tão leve quando eu posso ser morta a qualquer momento?
"O que eu teria para conversar com o meu chefe?"
Há um que de realidade nas minhas palavras mas ele não as merecia. Shawn está arriscando sua própria vida por minha causa e eu agradeço assim?

"Obrigada por estar fazendo isso."
Ouço uma nova onda de disparos. Shawn abre uma das portas de um dos quartos e me põe na cadeira, com uma pistola que estava em sua cintura, além da que está em suas mãos.

"Me espere aqui e atire em qualquer um que tentar te machucar. Eu vou voltar logo."
Engulo em seco. Ele não pode fazer essa promessa. Essa é a vida que eu vou chamar de minha se eu decidir entrar nessa vida. Essa intensidade.

A dor aumenta a cada instante.
Mesmo assustada e com imagens terríveis de corpos e sangue na mente, me sinto viva de uma forma que eu nunca tinha sentido. Me sinto... enérgica, como se eu sempre tivesse dormido, até hoje. Como se tudo tivesse sido aos 20km/h e, hoje, foi aos 300km/h. Essa intensidade, essa adrenalina dopa meu corpo, me vicia e me acalma.

Preciso sentir isso. Quero sentir isso. Estou tão excitada quanto assustada com essa sensação. Tão perdida quanto completa. De certa forma, é tudo diferente.

Os tiros me atordoam. Pessoas que eu me importam estão lá fora, expostas. Não ter notícias é agonizante. Ouço gritos e tiros, mas não consigo saber de quem são. À essa altura, já estariam todos mortos. Será que poupariam o menino, pelo menos?

Então, o que pareceram horas, eu ouvi algo explodir no corredor. Tudo treme, porcelanas caem no chão e eu ouço o estrondo de alguém sendo atirado contra a parede do quarto e eu fico em silêncio.
Esteja vivo, Shawn. Por favor.

Notas:
Pra aguentar esses dois capítulos só a base de muito chá de camomila mesmo. Eu disse pra aproveitarem a calma enquanto podiam hahaha

Ruin ~ Shawn MendesOnde histórias criam vida. Descubra agora