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Bella

Camila veio com Sabrina um pouco depois. Ravi e Daniella apareceram também. Enquanto Shawn se ocupava dos negociadores asiáticos, eu me divertia com eles, ouvindo histórias do Ravi de quando ele fez um Safari na África do Sul e acabou ficando com o Guia.

Em alguns minutos, o desfile começou. Apesar dos olhos famintos dos admiradores nos modelos, eu sei que rolava uma negociação por drogas e armas entre os representantes das famílias mafiosas presentes.

O desfile foi um sucesso, claro. Muitos investidores estavam dispostos a fazer negócio ali mesmo. Deixei Shawn com eles e fui ao banheiro, precisando tomar um ar. A mistura do cheio dos perfumes caros com dos pestiscos finos ameaçavam me fazer botar pra fora a pouca comida que ainda restava no meu estômago.

Não estou me sentindo muito bem, e eu evito demonstrar isso para o Shawn. Não quero deixá-lo preocupado desnecessariamente. Provavelmente foi algo que eu comi.

Jogo uma água no rosto, agradencendo pela make à prova de água que eu decidi passar. Me sinto um pouco melhor. Respiro fundo e devagar. Não posso passar mal no meio de um evento tão importante quanto esse.

O banheiro está vazio, o que é perfeito. Pelo cheio enjoativo no salão, pela mistura de perfumes, eu sei que exageraram muito e, num ambiente fechado, um cheio forte de perfume doce seria o bastante para revirar meu estômago e trair meu auto controle.

Decido sair, e até o corredor está vazio. Tem uma movimentação estranha, e fico em alerta. Uma festa desse porte é uma ótima distração.

"Isabella Ferretti, que bom te vê-la."
Giovanni diz. Ele é um primo distante, tem um olhar felino. Apesar de ser perigoso, tem muito carinho e cuidado comigo. Ele assumiu o comando do grupo, e, em troca, eu ajudo ele a tomar as decisões. É como se eu fosse sua conselheira.

Tive que ir na reunião para acertar os detalhes com o grupo e resolver o negócio dos polos em Toronto. A campanha, como eu já esperava, foi um sucesso. Vendemos 200% a mais nossos serviços do que era antes do anúncio com as fotos da Aaliyah.

Camila tem sido muito perfeita nesse processo, cuidando dos casamentos que contrataram os nossos serviços. Pro próximo mês, já tenho 15, só aqui em Toronto.

"Giovanni, como vão as coisas? O que faz por aqui?"
Pergunto, meio em dúvida. Sempre que o vejo, ele me enche de desconfiança. Talvez tenha aprendido a não confiar.

"Estão bem. Os russos estão muito interessados no carregamento de heroína, estão dispostos a pagar 15 milhões pelas 20 sacas de drogas."

"Uau. Bom trabalho."
Ele me avalia com os olhos. É um homem muito frio, mas um empreendedor. Meu elogio foi sincero, mas talvez ele tenha sentido uma pontada de ironia que não existiu. Não se irrita um italiano. Temos sangue forte. Somos muito teimosos e orgulhosos.

"Obrigada pelo seu trabalho. Meu pai ficaria muito feliz de ver um Ferretti no comando."

Digo, tentando arrumar a bagunça. Ele arqueia as sobrancelhas escuras.
"É um prazer."
Ele se afasta, mas eu sei que abri uma ferida que não pode ser arrumada. Deixo isso pra depois, tenho mais o que fazer.

Alguém me puxa. Tento lutar, em vão.
"Calma, Isabella. Torne isso mais fácil para nós dois."

"Caralho, Yatra, você tem algum tipo de obsessão por mim? ME ESQUECE! Puta merda."
Rosno, ainda tentando me desvincilhar. Ele me amarra, e tampa a minha boca com a mão. Mordo com toda a força, sentindo sangue. O sangue dele.

Ele arfa, vejo fogo nos seus olhos. Ele tampa a minha boca com um lenço. Por que eu escolhi o banheiro mais distante?
"Você é uma cachorrinha e tanto!"
Solta uma risada sarcástica.

Cachorrinha é teu cu.
Penso. Como não posso dizer nada, só o olho com a maior carga de ódio que eu consigo.

"Quer falar algo?"
Ele tira o pano.

"Quero! Quero QUE VOCÊ VÁ PRA PUTA QUE PARIU, SEU ESCROTO DE MERDA!"
Ele volta a tampar, sorrindo.

"Levanta."
Ele ordena. Eu balanço a cabeça. Ele não vai me dar ordens. Não mesmo. Não obedeço idiotas.

Ele pega a arma e aponta para a minha cabeça.
"Levanta, Isabella. Não teste a minha paciência."
Me levanto. Apesar de odiar isso, não quero morrer.

Ele me guia até um carro, depois de sairmos pelos fundos. Rezo para ser salva, que eu saia viva. Mas eu vejo Anabella ali e eu sei que acabou pra mim.

Toda a dor que ela causou, era pra chegar até mim e, agora, ela me tem.
"Me dê a bolsa dela."
Yatra obedece. Ela joga no canto. Meu celular está ali, a única coisa que poderia me rastrear.

Ela pega a arma e atira num dos seus homens. O sangue dele escorre e meu coração está disparado.
"Recolham o corpo dele e sumam com isso. Espalhem sangue por aqui, proximo da bolsa."

Vão fazer uma cena que induza à morte. Qualquer um que visse uma bolsa jogada e muito sangue, pensaria que eu fui assassinada. Me enfiam no carro, apesar de eu me debater para me soltar.

E, antes que eu possa tentar fugir, Anabella enfia uma injeção no meu pescoço, injetando um líquido que eu reconheço. Meu pai usava para dopar as vítimas, para investigá-las.

Tento lutar contra o sono, mas é em vão. Em pouco tempo, praticamente desmaio. Ouvindo só o barulho do carro acelerando e entrando na noite fria e escura e o meu coração acelerado.

Acabou pra mim?

Ruin ~ Shawn MendesOnde histórias criam vida. Descubra agora