Capítulo 1: Maldito Malael perfeito

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Estava escuro, o vento soprava forte em meu rostinho lindo porque estava correndo mais que um coelhinho assustado. Na verdade, não sei se coelhos correm exatamente, tipo, eles pulam certo? Enfim, também não posso dizer que estava assustada, estava mesmo é irritada e acostumada a fugir toda hora em meus sonhos, ou melhor, pesadelos.

Tropecei em alguma coisa, não faço a menor ideia do que era, talvez uma pedra, talvez um galho. Isso não era novidade também, nos sonhos, especialmente nos meus sonhos, coisas estranhas surgiam e desapareciam aleatoriamente. Era só mais uma noite com os pesadelos conturbados de sempre. Levantei-me o mais rápido que pude, mas as sombras sinistras que me seguiam me cercaram, eram cinco seres feiosos feitos de uma espécie de fumaça cinzenta ao meu redor. Achei que dessa vez não ia escapar. Mas tudo bem, era só um sonho, né?

Felizmente, um único movimento me salvou, uma única espadada nas cabeças dos feiosos de olhos amarelos fluorescente foi suficiente para proteger a minha pele sensível dos devoradores de alma. E mais uma vez Malael me salvou. Meu incrível e corajoso garoto dos sonhos, literalmente, sempre o via em meus sonhos, somente em meus sonhos. Malael tinha dezenove anos, era dois anos mais velho que eu, contudo, assim como eu, parecia um bebê, seu rostinho lindo o fazia aparentar uns... eu não sei... quinze aninhos? Eu não tinha tanta sorte, podia ter dezessete, trinta ou vinte mil anos que sempre iria parecer ter doze anos no máximo. Pensando assim, talvez não fosse tão ruim. O problema era que minha cara de criança e minha altura não contribuíam com o fato de eu querer ser levada a sério de vez em quando.

Enfim, acabei me enrolando nos lances de altura, idade e blá, blá, blá. Voltando ao que interessa, meu querido Malael. Ele tinha olhos azuis claros e um cabelo tão preto quanto o meu, era engraçado, divertido, fofo, um sonho e estava literalmente preso em meus sonhos. Eu o encontrei quando tinha uns doze ou treze anos, estava vagando em meus sonhos perdida - Observação: meus sonhos não são como o de qualquer pessoa. Caso você tenha alguns parecidos com os meus, onde sombras assassinas querem sugar a sua alma, como já as vi fazendo com outras pessoas em vários pesadelos, então, creio que também tem sérios problemas. De qualquer forma, bem vindo ou bem vinda ao clube. Boa sorte. - Estava confusa, tentando achar o caminho de volta para o lago onde estava antes de tudo ficar escuro do nada, outra característica muito agradável de meus sonhos, e com bastante frio. De repente levei um susto e o encontrei, Malael saía de um canto ainda mais escuro, parecia emergir de uma sombra. Então ele disse algo como:

- E aí?

Então, conversamos por umas oito horas e ficamos muito amigos e tals. Porém, eu sabia que era só um sonho e que não o veria mais. E estava errada. O problema era que conforme o tempo passava sombras de olhos medonhos começavam a me perseguir em meus sonhos. Por sorte, meu querido Malael sempre aparecia para me salvar. Com o tempo, aprendi a chutar a cara desses troços esquisitos também.

Até hoje, Malael e eu, conversamos e nos adoramos. O triste é que ele é apenas parte de meus sonhos. Sempre quis que ele fosse real. A vida seria mais legal, os dias mais alegres, tudo seria mais fácil. Não precisaria me virar sozinha o tempo todo e teria mais companhia. Seria perfeito, encantador, um sonho em que você quer que um sonho seja verdade. - Confuso, porém bacana.

Malael estendeu sua mão para me puxar do chão que agora parecia estar molhado. Não hesitei em agarrá-la e ficar de pé.

- E aí? - Ele disse enquanto eu tentava limpar o meu vestido cheio de lama com as mãos.

- Por que raios eu estou de vestido? Isso aqui é um instrumento de tortura... não dá pra chutar, não dá pra pular, não dá pra...

- Bater, socar. Eu sei. - Malael sorriu. - É bom te ver também.

Os caçadores de pesadelosOnde histórias criam vida. Descubra agora