Capítulo 2: Loirinho esquisito

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Não sei como, não sei mesmo, mas conseguimos chegar uns poucos minutos atrasados.

- Garota! Como você demorou tanto? Já passaram quase trinta minutos! - Luke, meu melhor amigo, gritou enquanto entrávamos na escola. Tinha olhos e cabelos castanhos.

- Você conseguiu enrolar eles pelo menos? - Perguntei. Tinha pedido para Luke dar um jeito de atrasar o jogo, havia mandado uma mensagem enquanto estávamos no carro, indo até a minha escola, bem lentamente a propósito, Simone provavelmente queria piorar a minha situação ainda mais e por isso dirigiu o mais devagar possível. Sabia que só ele teria essa coragem. Na verdade, Malael certamente teria feito isso por mim também, contudo, ele não existia de verdade.

- Claro! - Respondeu com um sorriso, enquanto eu andava apressadamente em sua direção para abraçá-lo.

- Obrigada. - Respondi aliviada. - O que você fez exatamente?

- Escondi as bolas. - Disse meu amigo com um sorriso quase que cruel.

- Não. Você não fez isso, seu monstro! - Falei. Estava me segurando para não rir. - E... como...

- Agora não! - Ele disse, apontando para a quadra.

- Faz sentido. - Assenti e disparei.

Entrei na quadra mais atrapalhada do que imaginei que entraria, tropecei e dei de cara com o chão, não esperava que esse encontro ocorresse tão cedo nesse dia.

- Por que você demorou tanto? - Marcela me perguntou, era uma das jogadoras do meu time. Também pude ver o treinador furioso em um dos cantos da quadra, não sei se era por causa de meu atraso ou porque tinha esquecido de colocar as lentes de contato - Isabela estava prestes a te substituir!

Olhei para Isabela, estava sentada na arquibancada, encarando-me com uma expressão medonha. Não sei dizer se estava com raiva ou com medo. Espero que a segunda opção porque ninguém pega o meu lugarzinho especial de levantadora!

- Sai fora Isabela! - Disse, apontando o dedo para a garota. Se eu estava errada em estar brava se a culpa do atraso era minha? Com certeza estava! Mas eu não ligo. A propósito, posso dividir a culpa com Malael.

*** *** ***

Eu poderia descrever cada detalhe do jogo, afinal ele realmente ocorreu, encontraram as bolas, mas, prefiro não comentar porque desperdiçaria muito de seu tempo. Mentira, eu adoraria contar, eu contaria certamente, se não tivéssemos perdido miseravelmente.
Não sei descrever como detesto perder, perdão se pareço uma criança mimada, porém, sei ser bem competitiva. Acredito que seja essa a razão de estar no time, o treinador deve ter enxergado minha determinação furiosa. É por isso que sou eu a levantadora, não a fura olho da Isabela. Bem... agora minha determinação não é relevante, não foi suficiente para irmos para a final.
Fui até a arquibancada no final depois do jogo encontrar Luke, meus irmãos e uma mulher chata.

- Você foi decepcionante. - Disse minha madrasta. Tipo, eu sei que ela é insuportável, não sei por que ela quer deixar isso ainda mais claro.

- Pelo menos eu sei jogar vôlei e estou em um time de verdade e não fico reclamando.

Meus irmãos se seguraram para não rir, Simone percebeu e os reprendeu com o olhar, um olhar horrível, o olhar da morte só pode.

- Bem... - Começou Luke, tentando melhorar a situação. Infelizmente eu só queria botar lenha na fogueira como sempre. Contudo, obriguei-me a ficar mais calminha. - Por que não vamos tomar um sorvetinho ali na esquina?

- Oba!!! - Meus irmãos gritaram em uníssono.

- Não! - Berrou Simone. Certamente estava se vingando de minha resposta genial.

- Mas mãe! - Protestou Antonie desapontado.

- Pra casa, já!

Vi minha madrasta e meus irmãos deixarem a escola com cara de deboche. É claro que Simone estava fazendo drama, ela adorava fazer drama.

- Sorvete? - Perguntou Luke.

- Sorvete. - Assenti. - Ah..., mas antes, vou pegar meu casaco lá no armário.

- Ok. Quer que eu vá com você?

- Precisa não, já volto.

Cheguei no corredor dos armários, era perto de minha sala de aula. Estava escuro, as luzes do teto oscilavam sem parar. Abri meu armário calmamente, porém antes de retirar meu lindo agasalho vermelho senti um estranho frio na barriga, algo estava errado, a temperatura estava ficando ainda mais baixa e não sei como.
Então, percebi que estava sentindo algo familiar, uma sensação medonha, estava assustada era como... como em um de meus pesadelos, só que não tinha Malael para me salvar agora. Peguei minha blusa de frio e rapidamente a amarrei em minha cintura.
De repente, senti que algo estava ao meu lado esquerdo. Fechei lentamente o armário cinza e virei-me para a esquerda, preparada para um susto de filme de terror. Felizmente, não havia ninguém no corredor e atrás de mim só tinha uma parede, ninguém estaria...

- Ashley. - Uma voz me chamou e saltei de susto.

Virei- me e percebi que perto da parede estava um garoto que nunca havia visto em toda a minha vida, acho. Era loiro, de olhos verdes. Tão alto quanto Malael e provavelmente tinha quase sua idade, talvez fosse um pouco mais velho, ou talvez a cara de bebê de Malael tenha desconfigurado meu medidor de idades dos outros.

- É... eu... te conheço?

- Bem... tecnicamente... - Antes de completar, pensou um pouco e, seja lá o que fosse dizer, mudou de ideia. Então, continuou. - Bom, não temos tempo! Você tem que vir comigo!

- É... então... Não, obrigada?

- Não! Você não entende, está em perigo! As sombras... elas... vão achá-la.

Ótimo! Um maluco na escola. Eu mereço.

- Eu... tenho que ir. - Virei-me, mas o psicopata esquisito segurou meu braço, então, sem hesitar ou pensar duas vezes, chutei seu estomago com tudo e o fiz cair no chão.

Toma, seu trouxa! Não mexe com quem quieto!

O sinistro foi que, quando me virei novamente para sair de perto do lunático, deparei-me com uma sombra igual a de meus pesadelos, com os olhos amarelos e tudo, no final do outro lado do corredor.

- Mas gente... quanta coca cola eu tomei hoje? - Tentei zoar para dar uma descontraída. Meu medo era incessante, gigante e sem sentido. A sombra feiosa começou a se aproximar.

- Fique atrás! - Disse o psicopata que se levantou rapidamente, mesmo com dor depois do meu incrível chute de karatê, assim que viu o pedaço de fumaça ambulante.

Sinceramente, queria empurrar o maluco na sombra comedora de almas e sair correndo, mas não creio que isso seja algo muito bacana de se fazer.
Enfim, pensei que o cara ia sacar uma espada e furar a sombra como meu heroico Malael, porém, Malael é outro nível de menino e o loirinho esquisito foi conversar com a sombra.

Mas é um maluco mesmo! Não importa, tenho que sair vazado daqui.

- Eu achei primeiro! Vá perseguir outros seres especiais. - Disse o provável psicopata.

- Você não tem mais direito para usar essa lei! Seu traidor...

- Beleza então. - Respondeu o loiro doido. Então, ele sacou uma espada, não vi de onde, e furou a sombra.

Felizmente, quando se virou para me olhar, já estava correndo o mais rápido que conseguia, quase virando o corredor.

Esbarrei com Luke.

- Ai! - Disse eu. Meu coração estava disparado, meu rostinho devia estar assustado.

- O que foi? - Perguntou meu amigo, preocupado. - Você demorou.

- Sorvete! - Falei e o empurrei para fora da escola.

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