Capítulo 3: Malael ficou maluco!

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Não preciso dizer que o negócio do sorvete foi tenso. Mal prestei atenção ao que estava fazendo, meu medo era muito grande para isso. Uma sombra humana queria jantar minha alma, um psicopata maluco queria me sequestrar e eu ainda tinha perdido um jogo, ou seja, meu dia estava incrível. Nem mesmo o maior sorvete de chocolate do mundo me acalmaria.

Luke estranhou meu comportamento, estava bem mais quieta do que o normal. Porém, acredito que ele pensou que só tinha me estressado com o jogo e não tinha vontade de falar - Fazia muito isso quando perdia em algo. Então, meu amigo disse algo inesperado:

- E... então, como vai seu amiguinho, o tal do Miguel?

- É Malael!

- Certo... você ainda fala com ele? - Para ele estar falando de meu querido Malael, a coisa estava feia, tanto Malael quanto Luke não iam com a cara um do outro. Meu rosto provavelmente mostrava minha situação de garota amedrontada

- Claro, ele é incrível.

Luke revirou os olhos, entediado.


*** *** ***

Cheguei tarde em casa, Luke me acompanhou. Fui dormir ainda mais tarde, lá pelas duas da manhã. Felizmente dormir tinha suas vantagens, Malael no caso. Sinceramente, depois do dia que tive, tudo que precisava era desabafar meu medo e minha raiva dos acontecimentos estressantes de meu dia deplorável.

Em meu sonho, estava em um palácio, mais especificamente no jardim de um palácio. Notei que não estava de óculos, mesmo assim enxergava. Nada como as vantagens de um sonho. Comecei a buscar Malael no belo lugar, cheio de fontes e lindas árvores grandes. O céu estava bonito, cinzento do jeito que gostava, parecia que ia chover.

Olhava para todos os lados enquanto caminhava, contudo, não encontrava o maldito garoto perfeito. Pensei em buscar por ele dentro do palácio, mas nunca combinávamos de entrar nas construções, podíamos nos perder o que não era muito bacana quando sombras medonhas tentam sugar sua alma toda hora.

Após alguns minutos, cansei de procurá-lo, ele que me achasse. De qualquer forma, meu querido Malael era só um sonho, não o veria para sempre, certo? Decidi sentar-me perto da maior fonte e observar os belíssimos gramados bem cuidados.

De repente, percebi, ao olhar para cima, que as nuvens estavam mais escuras. Não teria me preocupado com isso se Malael estivesse comigo. Não havia perigo com ele por perto, ninguém lutava tão bem como aquele garoto. Infelizmente, ele não se encontrava lá e eu estava mais apavorada que o de costume, pois havia LITERALMENTE visto uma sombra na vida real. A menos que fosse um delírio individual e esquisito, é claro.

Assim que o vento começou a surgir, as nuvens a escurecer e a chuva a cair, disparei para dentro do palácio sem olhar para trás. O medo me consumia.

- Cadê você, maldito Malael?!

Entrei no gigantesco palácio, subi escadas e mais escadas e acabei parando em um corredor escuro, as luzes oscilavam, como na escola. Elas estavam perto, chegando até mim, eu podia sentir e isso era o pior de tudo. Decidi, então, entrar no primeiro quarto que surgisse a minha frente. Felizmente, várias portas surgiram enquanto eu caminhava pelo corredor que ia escurecendo cada vez mais.

Tentei abrir várias das portas, mas nenhuma delas estava querendo cooperar comigo. Desvantagem de sonhos, portas não cooperam. Quando senti que as sombras estavam ainda mais próximas consegui abrir uma das malditas portas. Imaginei que acabaria em um lindo quarto espaçoso, mas acabei dentro de uma dispensa apertada.

Sonho maravilhoso! Eu mereço.

Comecei a sentir as sombras, ao passo que percebia como era estranho poder senti-las, saber que estavam perto, quando se aproximavam, o que queriam - no caso, a minha alma ou algo assim. Vi passos debaixo da porta e me movi lentamente para trás, instintivamente. De repente, encostei em algo, ou melhor, alguém. Estava prestes a gritar e me virar, porém, a pessoa não permitiu, colocando uma mão em minha boca.

Os caçadores de pesadelosOnde histórias criam vida. Descubra agora