À Deus e ao mundo (O cego do prédio de filosofia)

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  Um dia, tarde na madrugada mas cedo na manhã, subi em um prédio, inofensivo, não acha? Bem, eu também achava, mas agora escrevo cartas, também achava inofensivo escrever, mas agora subo em prédios, inofensivo, não acha?
  Não responda, sei o que vai dizer, tolice e apenas isso...tolice. Mas até que a vista está linda hoje daqui de cima, não é? Ver a vista é algo inofensivo, não acha? Claro que é inofensivo, mas agora vejo até demais, vistas e visões que não me pertencem. Bem, agora eu subo em prédios, inofensivo não acha?
  Olho para baixo, não vejo a luz, olho para cima e vejo mais treva ainda, talvez meus olhos não funcionem corretamente, ou até mesmo todos sejam cegos e apenas eu veja de verdade, por isso me chamam de cego, inofensivo não acha?
  Claro amigo, faça um esforço e saia disso! Pense positivo! É só um drama!
Isso é falta de Deus!
  Nunca foi falta de Deus, aliás esta carta é para ele, por tudo que ele já me fez, esta pode ser uma carta de agradecimento e pedido, ou até de insulto ou xingamento, uma oração escrita assim por dizer. Mas talvez, só talvez, também seja uma carta histórica, ou de amigos que habitam no mesmo corpo, sinceramente, já não sei mais.
  Mas eu estou cansado, além de todas as categorias e tipos que uma carta pode ser ou ter, esta é uma carta de cansaço, eu escrevo-a cansado, e penso-a cansado, eu conto-a cansado e eu vejo-a cansado. Eu estou cansado de ficar cansado. Por isso eu subo em prédios, inofensivo, não acha?

Nota do autor: Não é coincidência o personagem ser do prédio de filosofia.

Pérfida FelicidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora