Depois de seis aulas cansativas e um estômago dolorido de tanta fome, eu já havia perdoado o Diego, até porque já estava acostumadas com a suas piadinhas e a sua tendência a transformar toda e qualquer história a um romance perturbador de José de Alencar, porém, ele não conhecia a "sua excelência" Carlos Maurício e não sabe como é impossível e incabível a possibilidade de acontecer algo entre nós (ou entre ele e qualquer outro ser humano pensante), eu não aguentaria cinco minutos com aquele brutamontes, o que era uma pena, pois ele era até bonitinho e eu o respeitava como profissional, e se não fosse assim, não teria escolhido as aulas deles nos últimos dois semestres.
- Pensando em mim, baby? a voz do Diego me chamou de volta para realidade.
- Na verdade estou! Estava aqui me perguntando quando você apareceria para se desculpar pelo absurdo que me disse mais cedo.
- Vim justamente para isso, mas não se engane, não vim me desculpar pelas minhas palavras, vim em desculpar por te deixar brava. - disse com um certo tom de ironia e arrependimento.
Olhei pra ele querendo parecer a mais séria das mulheres, mas não consegui, simplesmente não consigo ficar brava com ele, então joguei a toalha e abri um sorriso e ignorei mais esse desaforo:
- Não consigo ficar brava com você por muito tempo, primeiro porque você me livra do caos que é o metrô do Rio de Janeiro, e segundo porque eu simplesmente te amo. Aliás, falando em carona, que horas você quer sair? Tenho uma palestra para assistir e você tem aula.
Ele olhou para o relógio e me respondeu com um sorriso:
- Se sairmos agora, dá tempo para eu te comprar aquele cachorro quente na chapa com o mate que você adora, aceite esse presente como meu pedido de desculpas oficial.
Nem esperei ele terminar de falar, já fui logo juntando minhas coisas e correndo para a porta da minha sala, nem louca que eu recusaria comida de graça, e ele sabia muito bem disso, por isso usava essa cartada sempre que os nossos gênios entravam em colisão. Assim que cheguei na porta, ele já se virou rindo para buscar as coisas dele, e assim era a nossa amizade, cada um conhecia demais o outro para saber quando consolar, quando puxar a orelha e quando saber que pisou na bola.
E assim cumprimos a nossa rotina, assinamos o ponto, fomos para o carro, buscamos a Tatiana (que fazia o mestrado comigo), e fomos todos comer nosso cachorro quente habitual que ficava ao lado da UFRJ, por algum motivo, a minha melhor amiga de infância e o Diego se deram bem logo de cara, e isso só se intensificou quando decidimos fazer nossos mestrados juntos, eu e ela com a vontade de não dar tempo para acomodação pós faculdade e o Diego querendo voltar a estudar depois de alguns anos parado após se formar. Eu amava o elo que crescia entre nós três, mas também odiava ao mesmo tempo pelo fato deles simplesmente adorarem se meter na minha vida (principalmente a amorosa), e era por esse motivo que hoje estava apavorada com o comentário que ele ironicamente soltou assim que ela entrou no carro.
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De todas as pessoas do mundo
RomanceA história de Clarissa, uma estudante de mestrado de 25 anos, frustrada profissionalmente, romântica (não por opção) e distraída. Que se vê um dia dividida entre a fascinação e revolta por seu professor Carlos, um homem metódico (com orgulho), organ...