Eu ainda estava um tanto quanto consternado com tudo aquilo que acontecendo. A receita para o caos já havia sido cozida e estava sendo servida às minhas custas, para divertimento de meu inferno astral fora de época.
A preocupação era tanta que eu suava frio de ter Clarissa aqui. Agora, se o suor era de preocupação ou alguma outra coisa só o tempo dirá.
E de acordo com o relógio, ainda são 22:00 e estamos só no início.- Cara, você tá legal?
- Dedé... Se tem uma coisa que eu não estou nesse momento é bem.
- Eu acho então que é verdade. – de imediato, Dedé me olha vendo algo em mim que eu não queria ver.
- O quê?
- A presença dela te deixa nervoso. Que tal você começar a avaliar essa situação? Querendo ou não, você meio que muda na presença dela.
"Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça. É ela menina que vem e que passa. Num doce balanço, a caminho do mar". Ao mesmo tempo em que o som tocava Tom Jobim, Clarissa passava pela sala com um copo do que parecia ser um drink feito com morango.
Ao mesmo tempo, Dedé me olhava e quando eu notei seu olhar, ele soltou a verdade que eu precisava parar de esconder para mim mesmo.- Você gosta dela. Nem sua blusa preta consegue esconder as batidas do seu coração ao olhar para ela. Tá muito acelerado ou só forte?
- Cara... Eu nem sei por onde começar, Dedé.
- Que tal começar pedindo desculpas pela forma que você tem tratado ela devido a frustrações antigas? Está no passado. Coloca numa caixa e joga no fundo do oceano.
-Se eu fizer isso, Iemanjá devolve e me pergunta o que eu estava pensando!
- Carlos, se você se fecha, ninguém consegue ver suas cicatrizes. E se ninguém vê suas cicatrizes, todos tirarão conclusões precipitadas sobre seus atos. Ou pior, sobre você.
- Você está dizendo...?
- Ao se desculpar, ela pode mudar a percepção que você construiu nela.
Detesto quando os outros conseguem ver através de mim. Mas não com meus amigos. Sem eles, jamais teria sobrevivido às coisas que me fizeram, metaforicamente, sangrar.
Conselhos assim devem ser levados ao pé da letra. E eu deveria levar tudo isso em consideração nesse exato momento, uma vez que a Tati estava bem ocupada com o Fernando e o Diego conversava com Marina enquanto fumava um com Heloísa.
Lá vou eu... Por quê é que eu me sinto como se tivesse 15 anos novamente? E por quê eu parecia tão pequeno diante daquela menina mulher?Com isso em mente ,respiro fundo e vou em direção a ela, enquanto ainda tenho coragem:
- Posso conversar com você?
- Conversar ou gritar? Porque com o senhor é tudo muito confuso. Não que essa noite já não estivesse confusa o bastante.
- Olha, desculpa mesmo pela forma como eu tenho agido com você. Eu só não estou no meu juízo mais correto, e ainda assim, nada justifica te tratar da forma como eu trato.
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De todas as pessoas do mundo
RomanceA história de Clarissa, uma estudante de mestrado de 25 anos, frustrada profissionalmente, romântica (não por opção) e distraída. Que se vê um dia dividida entre a fascinação e revolta por seu professor Carlos, um homem metódico (com orgulho), organ...