Algo inusitado aconteceu no meu dia, meu telefone fixo tocou. Geralmente ligam mais para meu celular, por ser mais fácil de me encontrar. E o medo tomou conta de vez do meu corpo. Não é possível que aquela mulher tenha conseguido meu telefone fixo.
- Carlos?
- Espera aí, que eu conheço essa voz... – respondo.
- Eu ainda estou custando a acreditar que realmente você virou pai e eu sou a responsável para encontrar o teu pequeno! – responde Carina, completamente emocionada.
- Eu acho que meu dia está três bilhões de vezes melhor de saber que você é a pessoa responsável por isso. – respondo – E aí a quantas anda essa história?
- Olha, eu não posso falar muito mas está sendo promissor. O investigador que você contratou é extremamente insistente. – diz Carina – Ele simplesmente procura embaixo de todo detalhe encontrado. É muito interessante.
- Ex-policial. Um dos poucos que não se rendeu a máquina corrupta.
A conversa seguiu por mais ou menos uma hora e meia até nos despedirmos e desligarmos. De imediato lembrei que estava na hora de mudar o número do meu celular. Pego o elevador e vou à banca em frente ao prédio. Compro um chip novo da Oi. Após a troca de chips, vou até o WhatsApp, reconfiguro o aplicativo com meu número novo e mando para minha família e meus amigos a seguinte mensagem:
[01/6 10:30] Carlos Maurício: Oi gente. Carlos aqui. Só para avisar que eu mudei meu número por questões pessoais. Espero que compreendam. Um abraço!
Na hora que estou voltando para o apartamento, lembro que me esqueci de avisar Clarissa sobre essa mudança. Procuro o número dela nos meus contatos e resolvo ligar. Após uma breve conversa começo a lembrar que essa é uma semana crucial para ela. Defesa de dissertação, mestrado em jogo e, no final de semana, eu vou conhecer meus sogros... Não sei se rio ou se fico nervoso. Acho que vou rir de nervoso. Resolvo tomar uma iniciativa drástica para não prejudicar Clarissa e muito menos a Tati. Por isso vou mais cedo até a UFRJ. Ao chegar lá, vou de encontro com o coordenador do curso de letras, a quem já tinha ligado previamente.
- Muito obrigado por me encontrar a essa hora. – digo – O que eu tenho a dizer pode não ser muito agradável.
- Pode falar, professor. Estou acostumado a ter notícias ruins – diz ele, com ar de graça.
- Infelizmente não posso participar como parte da banca examinadora da qual fiquei responsável. Acabei tendo alguns problemas e acho que não conseguiria julgar de forma imparcial as dissertações que serão apresentadas.
- Nossa, Carlos. Essa é a primeira vez que ouço você pedir dispensa das defesas dos alunos. Mas, já que é assim, espero que fique tudo bem e que você possa nos ajudar com as dissertações do próximo semestre.
- Com certeza, professor. Estarei aqui.
- Ainda tem alguma coisa a ver com o assunto daquela semana que você ficou fora? – pergunta ele
- Também. – respondo – As coisas resolveram entrar num turbilhão, sabe? É meio complicado. Além de todas as surpresas pelo caminho. Mas acho que a vida sempre será assim, no final das contas. Muitas surpresas, muitas tristezas e muitas alegrias.
- Se não fosse assim, não teria graça, meu caro. Resolva o que você tiver que resolver. Não tem sido um semestre fácil para você pelo que pude perceber, mas sua resiliência não lhe permite baixar a cabeça. – diz ele, com um sorriso no rosto e uma expressão de compreensão. Apertamos as mãos, entramos em acordo, e meu cu que estava na mão por conta dessa conversa voltou para o lugar certo. Tinha que fazer algo para compensar Clarissa pelo inconveniente de não me ter na banca examinadora na hora de defender a tese que ela trabalhou nos últimos dois anos. Já sei. Vou dar uma viagem de presente. Que tal Búzios? Vou marcar aqui e fazer surpresa para ela. Tomara que ela goste e me perdoe por não estar lá na quinta-feira. Melhor avisar que houve uma mudança nos planos. Leve, mas ainda assim, importante.
[01/6 12:40] Carlos Maurício: Amor, eu não vou fazer parte da sua banca no dia da sua defesa. Mas eu estarei lá torcendo por você. Sua dissertação é maravilhosa e você tem a capacidade e o potencial de fazer com que se tenha um maior entendimento a respeito do assunto tratado.
Após um dia corrido chego em casa e vou direto para o banho. Assisto um pouco de televisão, dou comida e carinho para as gatas e vou para a cama. Antes de dormir resolvo conversar com Clarissa. E ainda bem que ela está acordada. Durante a conversa, ela relata estar com muita enxaqueca e disse que estava tudo bem. Mas não acreditando nisso, dado que Clarissa tende a perder a visão, devido a alta intensidade de suas crises, eu saio das Laranjeiras e parto em direção ao Flamengo. Diego abre a porta para mim e diz que Clarissa foi dormir devido as dores intensas causadas pela enxaqueca. Eu entro em seu quarto, passo a mão em seus cabelos, dou um beijo em sua testa e a olho dormir por uns dois minutos. Pego seu celular, programo o despertador para tocar mais cedo, a fim de que ela não se atrase, e me deito ao seu lado.
Resolvo fazer uma graça, antes de dormir, talvez por me sentir culpado ainda por não estar na defesa de sua dissertação. Saio do apartamento de Clarissa, procuro um mercado ou padaria que tenham atendimento 24 horas. Vou encontrar somente em Copacabana um supermercado Zona Sul aberto naquele horário. Compro tudo que posso para fazer um café da manhã para ela. Até coxinha, daquelas grandes, eu encontrei. Voltei para o apartamento dela preparei tudo para que ela pudesse apenas acordar e comer. O celular de Clarissa toca, era o despertador. Bem a tempo. Preparo a bandeja com tudo que eu trouxe e fiz e levo até o quarto dela. Na porta, Diego, Tati e um praticamente sonâmbulo Fernando me aguardam para que eu seja o primeiro a entrar ali. Depois de toda a surpresa daquela madrugada ser revelada, Clarissa começa a chorar copiosamente, para meu espanto. Será que tinha alguma coisa errada? Mas Tati me acalma falando que era daquele jeito mesmo e que estava tudo bem. Era só a TPM de Clarissa batendo com força nela.
Para compensar a minha ausência na quinta-feira, ofereço minha casa para Clarissa ficar e se preparar para a apresentação. Da noite de terça até a manhã de quinta eu e Clarissa repassamos tudo o que ela precisava fazer, o que ela precisava dizer, quais pontos tocar durante sua apresentação a fim de que ela conseguisse esclarecer tudo e obter uma nota digna de um trabalho tão único. E quando tínhamos tempo, entre um banho e outro, a gente saciava a vontade que tínhamos de estarmos sempre juntos. Acho que nunca transei tanto em toda minha vida adulta.
O dia tão aguardado chegou, e Clarissa simplesmente não decepcionou: mostrou-se firme em cima do palco, soube responder as perguntas com extrema perspicácia e demonstrou amplo domínio sobre o assunto tratado. Acho que um "SS" nunca foi tão merecido. Consigo comparar o momento dela ao momento quando eu mestrei. Hora de sair dali e simplesmente celebrar o feito das meninas. Mas aparentemente o destino tinha outros planos para aquela noite. Os pais de Clarissa e Tati tiveram um acidente, e antes que pudéssemos sair direito da universidade recebemos essa notícia. Clarissa estava em um estado do mais puro choque, enquanto Tati se encontrava inconsolável. Nem mesmo Fernando conseguia fazer com que ela se sentisse melhor. Pedi para Clarissa avisar aos paramédicos que levassem ambos para o hospital que fica perto de minha casa, onde eu sempre ia quando tinha algum tipo de problema, e que qualquer despesa era por minha conta. Mas ao chegarmos no hospital, ao invés de uma cena de tristeza, encontramos dois senhores, putos da vida, brigando com os enfermeiros e falando que eles não precisavam de ajuda, que estava tudo bem e que havia exagero por parte das famílias. Para acalmar os ânimos, fomos com as meninas até o quarto onde eles iriam ficar. Não demorou muito e a conversa tinha que acontecer. Eu puxei o assunto.
- Então... Por onde eu começo?
- Começa dizendo porque você e minha filha parecem estar namorando. – disse meu sogro
- Certo! – respondo – Então, Seu Guilherme... Bom... Eu...
- Tá namorando minha filha, mesmo sendo professor dela. – diz meu sogro, me cortando e completando minha frase – A ética mandou um abraço fortíssimo, viu?!
Aquela situação me fazia tremer na base e tudo que eu conseguia fazer era falar frases pela metade. Isso quando eu conseguia formar um início de frase. Fernando ao meu lado estava tão besta quanto e estava extremamente preocupado com o que sairia daquela reunião hospitalar
- Você também é professor? – pergunta o pai de Tati para Fernando, ao mesmo tempo que o pai de Clarissa o fuzila com os olhos
- Sim, eu sou... – responde Fernando – mas não sou professor dela e nem da universidade onde a Tati estuda.
- Onde você dá aula? – pergunta meu sogro
- PUC. – responde Fernando
Um silêncio momentâneo se faz no quarto enquanto tentamos achar as palavras para seguirmos na conversa.
- Tem Fla-Flu hoje. – digo – Querem assistir?
Seu Guilherme e Seu Paulo se olharam e...
- Depende. – diz Seu Paulo
- Do quê? – respondo perguntando
- Se você pretende assumir minha filha e se não está tentando sacanear ela. – responde Seu Guilherme, com uma expressão séria
- O que eu tenho com a Clarissa é muito sério. – respondo – Eu a amo demais e a respeito no mesmo nível.
- E eu sou a mesma coisa com a Tati. – diz Fernando, se direcionando ao pai de Tati – Amor e muito respeito.
Outro momento de silêncio e
- Carlos, gosto de você – diz meu sogro - mas você tem que entender que eu...
- O senhor...?
- Eu sou o macacão da bola azul, tá entendendo bicho?!
- Como é que é? – respondo, junto de Fernando. Ambos bestas tentando entender aquela analogia
- Macacão. Da. Bola. Azul. – responde o sogro de Fernando, pausadamente para um efeito de ênfase
- O que seria o macacão da bola azul? – pergunto
- Por hora, não interessa. Só liga a TV para assistirmos o jogo.
Eu ligo a TV e meu sogro, quase que de imediato, fala:
- Já tem menos um ponto comigo.
- Por quê? O que eu fiz? – pergunto
- Você é flamenguista.
Olhei para ele e
- Agora o senhor está sendo invejoso. Só porque temos um Mundial de Clubes?
- Tá vendo, Guilherme? – diz Seu Paulo – Talvez assim, com essa, a Clarissa aprenda a torcer pelo Mais Querido!
- Eu deserdo ela! – responde Seu Guilherme para gargalhada geral minha, de Fernando e de Seu Paulo.
Só de pensar que os dois estavam bem me deixava mais aliviado. E junto vem uma vontade estranha de ligar para meu pai, apenas para saber como ele está. Tomara que seja igual aquelas vontades que dão e passa. Com a mesma velocidade. Enfim. Está tudo bem. Bom, mais ou menos. O pai de Clarissa quebrou o tornozelo em duas partes e o pai de Tati quebrou o braço em quatro lugares. O acidente cobrou um preço, ainda que nada de tão grave. Aproveitei aquele momento para conversar sério com meu sogro.
- Seu Guilherme, brincadeiras a parte, gostaria de pedir a benção do senhor para namorar sua filha. Ela é extremamente especial para mim e eu a amo por demais. Se o senhor não me achar digno, vou entender. Só quero que saiba que, mesmo o senhor não gostando de mim, a escolha ainda é da Clarissa. Mas estou lhe pedindo a benção sobre o meu relacionamento com sua filha, para que tudo ocorra bem.
- Sabia que minha filha escolheu bem. Eu sei que a escolha é dela, mas o que você fez aqui hoje, especialmente agora, mostrou quem você realmente é. Fico feliz que a Clarissa tenha encontrado alguém como você. Mesmo sendo flamenguista.
Rimos muito. Flamengo 2 a 0.
Saímos do quarto e vimos que as mães das meninas haviam chegado. Fomos até elas e ao tentarmos nós apresentar fomos envolvidos por um abraço coletivo e quem puxou foram Dona Ana, minha sogra, e Dona Gabriela, sogra do Fernando. Pois é... Parece que teremos um jantar e tanto de agora em diante.
Saímos do hospital e fomos em direção a antiga casa de Clarissa, em Campo Grande. A casa ficava bem localizada, perto do WestShopping e a alguns metros da estação de trem. Chegamos, nos acomodamos e garanti a Clarissa que eu ajudaria com o que fosse necessário e ficaria ali até tudo se acertar e normalizar. Apesar dos pais delas estarem bem, Clarissa seguia bem nervosa e só queria dormir. Eu ofereci fazer alguma coisa para ela comer, mas ela disse que ficaria melhor se apenas fôssemos para o quarto.
- Tem certeza? – pergunto – Não te vi comer em nenhum momento do dia.
- Eu sei. – responde Clarissa – Mas agora só quero ficar com você.
- Entendi.
- E não me leve a mal, nem ache que sou esquisita ou coisa do tipo. Mas eu estou com um tesão enorme, por algum motivo inexplicável.
- Amor, tem certeza? – pergunto.
- Mais certeza impossível. Isso ainda vai me ajudar com...
Antes que ela pudesse terminar de falar eu já estava beijando sua boca. Eu a coloco em meu colo e a levo para seu antigo quarto. Chegando lá, eu a deito em sua cama, tiro suas roupas, peça por peça. Resolvo começar fazendo sexo oral nela, e suas unhas cravam em meus ombros. Eu fico ali até ela gozar. Achando que ela iria se dar por satisfeita, ela sobe em mim, pega uma camisinha, coloca no meu pau e senta. Agora ela segura minhas mãos em cima de minha cabeça, enquanto vai fazendo movimentos vagarosos, alternando entre algumas reboladas e algumas sentadas. Aquilo tudo vai me fazendo querer explodir, em um momento de puro tesão, ela solta minhas mãos deita em cima de mim e morde meu pescoço, enquanto eu aperto bem forte dia bunda. Nós estamos fazendo de um tudo para manter o silêncio. Eu gozo e após terminarmos, ela me abraça e põe a cabeça em meu ombro.
- Eu te amo. – diz ela
- Eu também, meu amor. – respondo.
Vamos dormir mais leves, e Clarissa parece ter um pouco de paz naquele que parece ter sido um dos dias mais impactantes de sua vida.
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De todas as pessoas do mundo
عاطفيةA história de Clarissa, uma estudante de mestrado de 25 anos, frustrada profissionalmente, romântica (não por opção) e distraída. Que se vê um dia dividida entre a fascinação e revolta por seu professor Carlos, um homem metódico (com orgulho), organ...