Eu posso me acostumar com isso

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FLASHBACK - 6

GIZELLY

Não dormi muito. Não posso me dar esse luxo - pensei. Era sempre muito satisfatório acordar ao lado de Rafaella Kalimann, ela vestia uma blusa larga e calcinha, uma de suas melhores combinações, na minha singela opinião. Me demorei um pouco avaliando cada parte de seu corpo e sua bunda descoberta chamou minha atenção. Peguei o lençol silenciosamente e a cobri. Os cabelos ondulados formavam uma cortina que contrastava com o branco da fronha do travesseiro.

Fui direto lavar o rosto e escovar os dentes... O corpo dela deitado, despreocupado e dormindo foi o último vislumbre que tive antes de fechar a porta do quarto. Fui para a cozinha, fiz um café rápido, peguei na minha mala uma pasta abarrotada com papéis de um processo e comecei a espalhar as folhas na mesa de jantar. Li quase quarenta páginas, sempre grifando e anotando as partes que mais me chamavam atenção, até que meu celular vibrou. Era Taís, minha amiga e parceira de trabalho aqui em São Paulo. Atendi.

- Gi, bom dia.

- Bom dia, safada - minha voz saiu rouca - ainda tô estudando os últimos detalhes do processo, a gente vai arrasar nessa defesa.

- Pensei que você já tinha acabado sua parte... Terça é o grande dia, liguei para saber se está tudo bem.

Já era para eu ter acabado essa parte, mas eu simplesmente decidi que não aguentava mais de saudade, comprei passagens de última hora, peguei um voo e voltei para São Paulo, tudo isso por uma mulher. Muito cadela, sim ou claro?

- Mais tarde passo ai na sua casa e a gente janta junto? Pra acabar de discutir sobre como vamos proceder terça ou prefere almoçar? - Taís parecia uma matraca antes das nossas defesas. Eu só sentia vontade de rir na cara dela e talvez ela me odeie por isso, mas já disse isso na cara dela mesmo.

- Jantar é melhor, tô na Rafa e não sei que horas vou sair daqui... - ela não me deixou terminar de falar.

- GIZELLY VOCÊ TÁ NAMORANDO? Tá namorando, tá namorando...- cantarolava do outro lado, ignorando totalmente o fato de que nem eram 7 da manhã ainda - Nem me conta mais as coisas, pensei que a gente ainda era amiga, sabe? Quero um depoimento sobre o status desse relacionamento em minha mesa. AGORA. - ela ria.

- Não vem querer dar uma de advogada do diabo pra cima de mim, Taís. Firma o rote aí que mais tarde a gente se encontra e eu te conto tudo.

- Nada disso, pode ir falando, doutora Gizelly - insistiu - te liguei ontem antes do almoço e você tava em Iúna com sua família, disse que só viria para cá na segunda e hoje é sábado. SÁ-BA-DO. Você saiu corrida de casa por causa dessa mulher e sei que você vai querer enrolar para me contar, pode ir falando!

- Eu não sei, Taís. E-eu não tenho certeza ainda. Sei que foi um pouco precipitado da minha parte sair desse jeito... Mas eu não vim pra cá semana passada e eu estava com saudade - enquanto falava passava as mãos no cabelo, nervosa - eu gosto dela, gosto de estar com ela, gosto de como ela dorme, da risada, do cheiro do cabelo... a gente já tá saindo há uns dois meses, acho e ela não é muito de falar sobre a gente ou sobre os relacionamentos passados ou sobre como se sente. Eu também não fico cobrando, sabe? Imagino que ela tenha passado por coisas difíceis também e bom, você me conhece, sabe o que eu já passei por causa de certos relacionamentos e agora eu estou... leve - suspirei.

- Pelo amor de Deus... Você é muito boiola - riu - mas você já disse isso a ela? - completou rapidamente.

- Ela vai achar que eu sou louca, Taís. Será que é possível se apaixonar em tão pouco tempo? Será que ela sente a mesma coisa? Eu sou muito emocionada, sabe? Agora, por exemplo, ela ainda tá dormindo e eu levantei primeiro para agilizar as coisas, mas eu poderia me acostumar com isso. Com acordar uns minutos mais cedo. preparar um café pra gente...

Ela é amiga da minha mulherOnde histórias criam vida. Descubra agora