Escolhas

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FLAHSBACK - 7

RAFAELLA

Eu estava decidida. Iria pedir Gizelly em namoro. Desde o momento em que ela saiu do meu apartamento para ir jantar com a amiga que eu penso... Faço uma coisa romântica? Faço uma coisa simples? E se ficar muito simples? Será que ela vai aceitar? Eu estava nervosa e ansiosa. Pensei em fazer um jantar, mas ela já havia saído para jantar com a amiga.

Passei horas pensando em minha decisão. O mais complicado era assumir publicamente, não por Gizelly, mas pela forma como isso iria repercutir na mídia e consequentemente, nos nossos negócios. Um dos assuntos que mais incomodavam a Gi, era a questão do machismo em seu meio de trabalho. Liguei para minha mãe, que não ficou surpresa com a notícia e a conversa terminou da seguinte forma:

- Já estava na hora, Rafaella. Nos últimos meses você só sabe falar dessa menina... seu pai pediu para dizer que está orgulhoso e que está doido para conhece-la. Siga seu coração, filha. Sabemos que não vai ser fácil, mas estaremos aqui e a Gigi estará aí por você, só tome cuidado, ok? Amamos muito você, muito! Qualquer coisa, pode ligar.

Eu sentia como se fosse explodir de tanto nervoso. Apelei para o básico. Fui ao mercado, comprei a cerveja favorita dela e uns petiscos, voltando para casa, passei na floricultura e comprei um girassol, era lindo, dentro de uma redoma de vidro e voltei pra casa. Eu não sabia de que horas ela iria voltar, mas torcia para que logo. Botei as cervejas na geladeira, o plano era simples: estar cheirosa, beber umas cervejas com a mulher que eu gosto, pedir hambúrguer pra gente comer e fazer o pedido. Com ela bem alimentada o risco de ela não aceitar é menor - pensei.

As  horas se arrastavam e eu já tinha perdido as contas de quantas mensagens tinha mandado, perguntando se estava tudo bem, se ela demoraria, que eu estava com saudade. Eu já havia tomado banho, vestia uma roupa confortável: uma bermuda jeans e uma camisa preta simples,  também havia feito uma maquiagem levinha, só para não passar em branco e estava cheirosa. Pronta para pedir a mulher que eu gosto em namoro. O meu celular começou a tocar, mas era um número desconhecido, não atendi. Depois da terceira chamada, comecei a ficar preocupada, me perguntando se não era alguém conhecido que queria muito falar comigo e resolvi retornar.

- Alô?
- Eu sabia que você ia me ligar, Rafaella - disse uma foz familiar, mas eu ainda não havia reconhecido.
- Desculpa, mas quem é que tá falando?
- Sou eu - ah, não, hoje não - pensei.
- Flay? - perguntei só para ter a confirmação oficial, mas tinha certeza que era ela.
- Eu comprei um chip novo, já que você me bloqueou no outro... tá me ouvindo? RAFA?
- Flay, eu não quero falar com você - desliguei.

Eu ainda não havia conversado com Gizelly sobre a visita que recebi na noite passada, fiquei pensando se contaria ou não... acabou que não tivemos clima para que o assunto fosse colocado. Sentei no sofá e meus pensamentos foram vagando, até que meu celular vibrou e eram mensagens da Gizelly avisando que estava voltando para casa, meu coração transbordou de alegria e empolgação. Corri na cozinha, chequei as cervejas na geladeira, liguei pedindo os hambúrgueres, coloquei os petiscos na mesa da sala e voltei pro sofá.  Me sentia tão enérgica, com vontade de pular e dançar ao mesmo tempo, liguei o som baixinho e comecei a dançar sozinha na sala.

Três batidas na porta me fizeram parar com a dança. Meu coração disparou. Corri e abri a porta com o maior sorriso do mundo e...

- Eu sabia que você queria me ver, olha esse sorriso pra mim - Flay me abraçou e de longe, qualquer um conseguiria sentir o cheiro de álcool.
- Flay, me solta - disse afastando-a pelos ombros - vai embora, não quero te ver aqui.
- Você tá dando uma festa em casa e não vai me convidar?
- Eu não tô dando festa nenhuma, vai embora- só pode ser um pesadelo.
- Se você não me chamar pra entrar eu vou... GRITAR QUE VOCÊ NÃO ME QUER DE VOLTAA - disse ela berrando do lado de fora, era um pesadelo.
- Flay, Flay, shhhh, silêncio pelo amor de Deus - puxei ela pra dentro e fechei a porta.
- Esse lugar não mudou nada desde a última vez que estive aqui - apontou para a sala.
- Você tá estragando tudo, tudo! É isso que você sempre faz! Você sempre estraga tudo- estourei - qual a necessidade de tudo isso? Eu já disse que não quero mais você...
- Você está mentindo - disse ela sentando no chão perto do sofá e comendo alguns petiscos de cima da mesa.

                                                                                                   ●○●

GIZELLY

O jantar com Taís tinha sido interessante. Além de resolvermos os últimos detalhes para a defesa do caso, conversamos sobre nossas vida, planos futuros e claro, sobre Rafaella Kalimann. Minha amiga me fez perceber que nós precisávamos ter uma conversa esclarecedora, sobre o que queríamos e esperávamos desse relacionamento. Não era mentira, essa conversa realmente precisava acontecer, mas eu tinha medo. Não do que eu sentia ou pensava, mas da reação dela a respeito de tudo isso. O uber parou na frente do prédio e eu saltei, indo direto para o elevador. O andar estava uma festa só, uma música alta ecoava de algum apartamento e para minha surpresa, o som vinha do de Rafaella.

Antes de sair de eu sair de casa hoje, ela me entregou uma cópia da chave, alegando que na hora em que eu voltasse, ela poderia estar dormindo, o que claramente não era o caso, já que estava dando uma festa e eu não havia sido convidada. Passei a chave na porta e a cena me surpreendeu: Rafa deitada no chão com uma mulher de cabelos negros e lisos com uma mecha rosa deitada em cima dela, uma vasilha de petiscos em cima da mesa junto com duas garrafas de Heineken.

Rafaella empurrou a mulher de cima dela assim que me viu parada na porta, a mulher com a mecha rosa pareceu não se importar, nem tampouco pareceu se incomodar com minha presença. O interfone começou a tocar e eu passei pelas duas na sala para atender. Ouvia a voz da mineira me chamando, mas ignorei completamente. Era o pedido de dois hambúrgueres com bacon extra, o meu favorito, para a senhorita Kalimann.

- Pode mandar subir - falei e coloquei o interfone de novo na parede - Então ela come meu lanche favorito com as outras? - Eu estava cega de raiva.
- Gizelly - Rafaella estava em pé na entrada da cozinha, me olhava com cara de pânico.
- Eu só vim buscar minha mala - meus olhos já estavam cheios de lágrimas.
- Não é o que você ta pensando, Gi - tentei passar mas ela não saia da frente - Eu não chamei ela aqui... olha pra mim... ela apareceu de repente - ela me segurava pelos ombros.

Eu não queria olhar na cara dela, só queria pegar minhas coisas e sair correndo o mais rápido que conseguisse, até que eu estivesse distante o suficiente para poder chorar em paz. Eu só queria ficar sozinha.

- Eu só quero ir no seu quarto, pegar as minhas coisas e ir embora, não quero falar com você - enxuguei as lágrimas. Você não vai me ver chorar na sua frente, não te darei esse gosto!

Fomos interrompidas quando a campainha tocou, Rafaella saiu da minha frente e foi atender a porta, aproveitei e  corri para seu quarto e procurei minha mala, não estava onde eu havia deixado. Comecei a procurar pelo quarto e ouvia ela falando com a outra mulher.

- Pelo amor de Deus, vai embora, você consegue entender o prejuízo que tá me dando? Se você não for embora agora, eu vou chamar a polícia.

- Você está sendo ignorante comigo e eu não gosto de ignorância não, viu Rafaella - berrava alto.

Achei minha mala no closet, mas a mala estava vazia. INFERNO - pensei. Saí procurando minhas coisas e tudo parecia um filme de terror. Lágrimas quentes escorriam dos meus olhos, o que atrapalhava ainda mais na hora de procurar tudo. Ouvi a porta da sala bater, o som ser desligado e em menos de um minuto, uma Rafaella desesperada estava atrás de mim, explicando que eu estava entendendo tudo errado, que só queria uma chance para me fazer acreditar, que ela jamais queria me machucar, que a moça da sala era só uma ex bêbada... 

- Você poderia, pelo amor de Deus, me dizer aonde enfiou minhas coisas? Eu só quero recolher tudo e ir embora daqui - interrompi seu discurso fajuto de arrependimento.
- Gi, olha pra mim, deixa eu conversar com você, por favor - disse ela tocado em meu ombro.

Afastei seu toque com a mão e ela começou a falar de novo, mas eu não queria ouvir. Não queria ouvir da boca dela que tudo foi uma simples ficada, não queria saber nada a respeito da mulher que estava na sala... Na minha cabeça, só conseguia lembrar de todas as vezes que fui feita de trouxa. Toda vez que eu saia ela corria para os braços de outra? Quantas vezes isso aconteceu?  -Perguntas que obviamente ficariam sem resposta.

Ela é amiga da minha mulherOnde histórias criam vida. Descubra agora