Ela é amiga da minha mulher

A caixa e o baque

ATUALMENTE

BIANCA

"De acordo com os meteorologistas, seria mais um dia de chuva forte." Só a Rafaella pra tirar do meu desenho e botar nessa baboseira de jornal.

- Bia, eu acho que já vou indo - disse ela levantando do sofá. Já havia colocado sua roupa limpa da noite anterior.

- Tudo bem - respondi. O que você esperava, Bia? Que iria começar um romance? Que ela iria trazer as coisas dela para morar aqui com você? Pelo amor de Deus, né? Se toca!

Ela veio caminhando em minha direção e entrelaçou os dedos nos meus. O que porra está acontecendo aqui?

- Olha, Bia... Não sei muito bem como as coisas vão acontecer... Sei que estamos fodidas - ela riu sem humor algum - mas queria dizer... Na verdade, não sei muito bem o que dizer, isso nunca tinha me acontecido antes, mas quero estar com você quando a Gi chegar e que a gente possa passar por isso juntas, ok? Só me desculpa pela forma como eu agi ontem.

Nos despedimos e ela me deu um beijo na testa, a fanfic já estava se idealizando em minha cabeça. Eu sabia que estava errada em tantos sentidos, de tantas formas e por tantas coisas e eu queria muito ver minha amiga feliz, não queria de forma alguma ser o motivo de sua infelicidade, mas eu já era. Minha mente era um turbilhão. A chuva caia lá fora e caia aqui dentro também... 

GIZELLY

- Gente, eu tô toda assada por Deus - disse Tábata.

- Você não se preserva, esse é o problema! Como é que a pessoa branca desse jeito dorme numa espreguiçadeira? No sol quente, Tábata? Pelo amor de Deus, né - disse Taís indignada.

Eu ria das besteiras das meninas, mas minha cabeça estava longe. Será que havia acontecido alguma coisa? Mandei mensagem pra Rafa e ela ainda não havia respondido. Sei que ela disse que tinha um trabalho hoje, mas nenhuma folguinha pra saber como eu estou? Nem uma mensagem de parabéns, nem nada sobre minha palestra... Já era de noite e eu estava realmente preocupada.

- Gente, amanhã tem uma palestra boa pra gente assistir, viu - disse Letícia.

- Pelo amor de Deus, eu só posso ir se for enrolada numa toalha, não tem condição de eu vestir qualquer coisa - dizia Tábata.

- Gente, tô sentindo que tem algo errado acontecendo - disse séria.

- Meu Deus, você tá se peidando de novo? - Ana Paula saltou da cama.

- Não, doida, eu ainda não sei o que aconteceu, mas tô com um pressentimento... - disse por fim e as meninas ficaram rindo, falando que eu estava muito sensitiva.

Tem alguma coisa errada, eu conseguia sentir daqui.

RAFAELLA

Eu estava tentando não chorar, desde que sai da casa de Bianca, mas toda vez que eu pensava sobre o ocorrido, lágrimas rolavam. Cheguei em casa e desliguei o celular, sem responder ninguém. Sabia que Gizelly havia me ligado, pois seu nome e um coração foram as últimas coisas que vi.

Como eu estava com saudades da minha menina. Minha?  Mas eu não podia falar com ela. A minha maior vontade era arrumar todas as minhas malas e ir embora e foi então que eu lembrei. 

 - "O seu presente é especial, Rafaella. Você só pode abrir quando estiver com muita, muita saudade de mim... É isso mesmo que você ouviu. No dia em que estiver morrendo de saudade de mim, pode abrir essa caixa, até lá, vai ter que ficar sem saber o que é."

Levantei aos tropeços da cama e fui em direção ao closet, a caixa estava guardada na segunda gaveta. Meu coração estava tão acelerado e eu sentia tanta culpa que tinha dificuldade para respirar, engasgando com meu próprio choro.

A caixa era um pouco tinha uns quarenta centímetros e era pesada. Junto ao laço de fora, havia um bilhete escrito com a letra dela "só abra quando a saudade de mim estiver maior do que sua cabeça ou maior que o seu pé' lágrimas escorreram dos meus olhos. Removi o laço e a tampa, no interior da caixa tinha um pequeno vinho, é o favorito dela. Uma carta e várias fotos com pequenas mensagens em baixo. 

"Meu amor, 

Primeiro, vá abrir esse vinho e imagine que estou ai, do seu ladinho. Espero que exista uma boa razão pra toda essa nossa distância e espero que você esteja bem. Não sou muito boa com palavras, mas eu amo você, Rafaella. Me liga ou vem me ver que se está ruim pra você, tá ruim pra mim também. Te amo."

Eu estava destroçada.