Narrador: Jão
Uma das coisas que aprendi a apreciar durante uma turnê:
Chegar suado no hotel e, todo feliz, pedir uma pizza no room service.
Estava virando quase uma rotina, uma pizza, eu e o Pedro.
Eu sorria enquanto ele comia o último pedaço da pizza.
- A turnê está quase acabando - eu falei.
- Isso é tão louco - Pedro disse enquanto comia.
- Algum dia isso vai parecer real? - Eu deitei enquanto olhava para o teto. Minhas costas geladas de suor me lembravam que aquilo era real.
E que eu precisava de um banho.- Acho que na próxima turnê temos que arranjar uma van - Pedro disse.
- Uma van? - eu perguntei.
- Uma van vai fazer tudo parecer mais real - Pedro me olhou com um sorriso.
- Uma van com o meu rosto estampado não seria nada mal - eu comentei jogando um travesseiro nele.
- Mas antes de ter uma van, você precisa de um novo álbum - ele jogou o travesseiro de volta para mim - ei, falando nisso, eu não tenho visto você compor como antes.
- Eu ando feliz demais para compor - eu volto olhar para o teto. Era verdade. Os shows e a minha nova rotina me deixavam tão animado e sem tempo que nem estava escrevendo ou compondo nada. Era como se eu só conseguisse compor quando estava cheio de tristezas - além disso, a rotina está louca demais para eu pensar em qualquer outra coisa.
- Eu já falei: A gente precisa de uma van para a próxima turnê, assim você descansa melhor. Falando nisso, tá quase acabando - Pedro me olhou com um sorriso cansado.
Isso me fez perceber que todos mereciam um bom descanso depois dessa turnê.
- Eu já disse isso - eu revirei os olhos - só mais dois shows.
- Dois shows, isso quer dizer que vamos ter que achar outra razão para nos encontrarmos - Pedro falava enquanto dava a última mordida na pizza - para comer pizza, eu quero dizer.
Eu sorri.
- A gente pode arranjar outros motivos para comer pizza - disse.
E eu fiquei ali conversando todo feliz sem nem saber que o motivo para o meu próximo álbum estava bem ao meu lado, com as mãos engorduradas de pizza.
Sem saber também que os momentos mais felizes poderiam resultar no álbum mais triste de todos.
Narradora: Mari
SÓ. PODIA. SER. OLHO. GORDO.
E dos fortes ainda por cima.
Não havia outra razão para eu ter passado o show inteiro (1h e 15 minutos para ser mais exata) dentro de uma ambulância. DESMAIADA.
Tudo bem, talvez você possa pensar que o fato de eu não ter dormido (qual tinha sido a última vez que eu tinha visto a minha cama mesmo, sexta ou quinta?) tenha algo em relação com isso.
Ou talvez o fato de eu não ter comido direito hoje.
Ou talvez o fato de a última vez que bebi algo ter sido dentro do avião. Às 3 horas da manhã.
Mas me diga, essas coisas realmente teriam acontecido se alguém não tivesse posto olho gordo no meu show do Jão?
A pior parte de tudo é ter ficado na ambulância que estava ali, BEM NA PORTA da casa de shows, preparada para atender qualquer um que passasse mal ou se machucasse no show. Qualquer um.
Por que tinha que ser eu?
Será que meu corpo desmaiado conseguiu escutar o Jão cantando?
Se eu fechasse os olhos eu conseguiria lembrar?
Eu já estava a 10 minutos escutando a socorrista me dizendo o que tinha acontecido. Ela me perguntava como eu estava me sentindo. Eu a observava tirando um saquinho (vazio POR QUE EU PASSEI 1 HORA DORMINDO NO MEIO DO SHOW DO JÃO) de soro do meu braço.
Ela perguntou de novo se eu estava bem.
Tinha como eu estar pior?
Peguei o meu celular e - adivinha? - ele estava sem bateria.
(me diga agora se isso não é obra de um olho gordo)(ou talvez sintomas de eu ter passado o dia todo escutando músicas nele)
- Eu estou bem - acho que eu nunca falei uma mentira tão grande - Muito obrigada por ter cuidado de mim. Sabe onde pego o ônibus para a rodoviária do Tietê?
A socorrista, além de me explicar certinho como eu faria para chegar na rodoviária, me deu um pacote de bolachas de água sal.
Eu nunca tinha comido algo tão bom quanto aquelas bolachas. (Se você é a bombeira que me atendeu e por algum motivo esta lendo isso, sério, MUITO OBRIGADA!)
Eu ainda tive que andar até o ponto de ônibus acompanhando vários fãs comentando do show, mostrando uns para os outros as fotos e vídeos que tinham feito. Falando dos melhores momentos. O dia só melhorava.
O universo ao menos tinha se redimido comigo (ou talvez seja pena) e eu tinha conseguido sentar no ônibus.
E ainda bem atrás de duas meninas que assistiam os vídeos que tinham feito no show. Nunca iria saber qual foi a ordem das músicas - elas estavam de fone.
Ao menos eu poderia dizer algo sobre o show caso me perguntassem, tipo a roupa do Jão.
Como ele estava lindo.
Como tudo o que eu escutei foi sua voz abafada por causa dos gritos dos fãs.
Assim que chego na rodoviária coloco meu celular para carregar. A minha vontade era passar a noite vendo todos as postagens no Instagram sobre o show do Jão.
Mas resisto (chega de sofrer por hoje), pego meu livro e começo a ler de novo - eu tenho prova segunda.
Dentro do ônibus aproveito para dormir (não que eu quisesse, mas tinha sido humildemente obrigada a desligar a luz do ônibus na madrugada para que os outros pudessem dormir e não me expulsassem dali).
PS: EU. ME. ODEIO.
(Ao menos agora eu durmo coladinha com o Jão, já falei que minha nova camiseta é maravilhosa?)
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Você já teve que tomar soro na veia alguma vez na vida?
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Lindo Demais ✔️
FanfictionStatus: Concluída, em revisão. Mari, uma estudante de engenharia química super organizada e determinada sofre um acidente fatal em seu coração. O diagnóstico? Um amor a primeira música quando escutou o Jão cantar. O remédio? Iniciar uma carreira de...