Essa Eu Fiz Pro Nosso Amor

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Narradora: Mari

Não tinha nem como explicar para a professora como tínhamos chegado àquela situação.

O técnico do laboratório ligava para a ambulância enquanto metade da turma ria.

Mas aquilo não tinha graça nenhuma.

Tínhamos passado o semestre sem qualquer acidente no laboratório. Hoje era a última aula prática, semana que vem começavam as provas finais.

A professora de Química Orgânica Aplicada tinha escolhido a extração de óleo essencial de cravo para terminar aulas com tranquilidade.

Passamos as horas da aula simplesmente regulando e anotando as temperaturas. Não tinha muito o que fazer além de esperar o óleo ser extraído.

Depois de 3 longas horas a minha equipe de bancada finalmente estava lavando as vidrarias enquanto eu terminava o relatório da aula.

- Esse óleo ficou com um cheiro muito bom - Elena, uma das garotas do meu grupo disse.

- Cheiro de cravo, ué - dei de ombros. Era bom, mas era só um cheiro normal de cravo.

- Será que tem gosto de cravo? - Elena virava o frasquinho de um lado para o outro. Eu nem acreditava que tínhamos gastado tantos cravos e tantas horas para conseguir pouco mais de 5 mL de óleo.

- Gosto de abacaxi é que não vai ter - eu falei enquanto passava a folha do relatório para ela - coloca seu nome aí e pede para os outros assinarem também.

Quando olhei para Elena vi que era tarde demais. Ela tinha virado quase todo o óleo (não que houvesse muito).

-Elena, qual o seu problema? - eu gritei, chamando atenção de todas as outras equipes do laboratório.

Antes de eu continuar narrando os acontecimentos trágicos que se sucederam, eu preciso dizer algumas regras básicas do laboratório que TODOS os alunos sabem e assinam um termo no começo das aulas:

1. Nunca cheirar nada.

2. Nunca experimentar nada.

3. Nunca comer no laboratório.

4. Sempre usar jaleco e equipamentos de proteção.

5. Nunca trabalhar sozinho em um laboratório.

...

Existem diversas outras regras, mas essas são as principais. E tem um motivo para isso.

Segurança.

Elena tinha chego 10 minutos atrasada na aula (o limite era 15) e por isso ela tinha perdido uma parte muito importante da explicação da aula de hoje.

Ela não sabia qual era o uso do óleo concentrado de cravo.

Você já alguma vez mordeu um cravo e tece a sensação de ficar com a língua dormente?

Se sim, devo te dizer que não foi só uma sensação. O óleo de cravo concentrado é usado como anestésico local por dentistas.

Anestésico.

Se um cravo é capaz de fazer sua língua ficar dormente, imagine então o que aconteceu com a Elena que engoliu o óleo concentrado de mais de 100 cravos.

A professora veio até a nossa bancada como um raio. Os acidentes em laboratório não eram tão raros, e pela cara de desespero dela ela já imaginava o pior.

É claro que ela não esperava por alguém tomando algo no laboratório - não com uma turma con alunos quase se formando que já deviam estar acostumados a trabalharem em laboratório e ter maturidade para não fazer coisas daquela.

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