Eu quero ser como você

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- Manhê, sabia que eu te amo?- eu comecei.

- Iiiih... Lá vem. Fale logo o que você quer - a minha mãe é um amor.

- Não posso mais nem dizer que te amo? - eu tentei de novo.

- Claro que pode, mas fale logo o que você quer - ela foi direta.

- Não vim pedir nada, só dizer que te amo mesmo - eu continuei, ela só revirou os olhos e continuou a tricotar - e dizer que vou no show do Jão sábado, lá em São Paulo - falei bem baixinho.

- O quê? - ela levantou os olhos do tricô.

- Vou no show do Jão, mãe. Eu já comprei tudo, passagens, ingresso - falei super rápido, olhando pro lado.

-Se não se preocupou em me avisar ANTES de comprar porque está me falando agora? O que eu posso fazer? - ela voltou a tricotar - Você já é maior de idade, não é mesmo? Já tem seu próprio dinheiro? para quê avisar seus pais de algo...

- Mãe, calma, deixa eu explicar o que aconteceu - eu falei.

- Não quero saber, só sei que vai ser você que vai dar a notícia pro seu pai. Eu não tenho nada com isso. Eu não quero nem ver, tu não consegue nem andar nesta cidade sozinha, imagina em São Paulo. Era só o que me faltava mesmo. Agora deixe eu tricotar - ela falou, encerrando o assunto.

Uma nota sobre mim:

Nunca viajei sozinha antes, nunca tive um motivo para isso, minha vida sempre foi faculdade, casa e alguns rolês aleatórios com os amigos (até o Jão aparecer).

Segunda nota importante sobre mim:

Me perco na minha própria cidade. Eu não ser usar o google maps (ou qualquer aplicativo de GPS). Setas e direções não são fáceis de decifrar.

Talvez eu possa colocar a culpa no meu celular que já está velho e ruim demais para me ajudar. (E agora que gastei todo meu dinheiro com o Jão, não será tão cedo que eu terei um novo)

Assim como a minha mãe, eu perdida em outra cidade rondava a minha cabeça.
Mas eu com toda a minha tentava expulsar essas ideias da minha cabeça.

Eu vou fazer tudo dar certo para ver o Jão. Eu posso ser meio ruim com direções e nunca ter viajado sozinha ( e nunca ter estado em São Paulo) mas vai dar tudo certo.

... né?

Sim, é claro que sim. Eu não ia me preocupar isso agora. A noite, quando meu pai voltasse do trabalho eu iria falar para ele e resolver isso.

Agora tinha que ir para a faculdade. Tenho que ir para a minha iniciação científica (IC para os mais íntimos).

Na minha IC eu trabalho em um laboratório de Modelagem Matemática de dinâmica dos fluidos fazendo simulações computacionais.

Ok. É agora que eu deixo você livre para tentar interpretar que raios é isso.

Brincadeira.

Eu vou tentar te explicar. Eu basicamente dígito uma série de códigos no computador e faço alguns moldes 3D de alguns objetos. Adiciono muitas equações para explicar pro computador o que eu quero que ele calcule.

Tem simulações que duram segundos para o computador chegar a um resultado. Tem algumas que levam meses (se um super PC leva meses, imagina se eu fosse resolver essas equações na mão)

E para que serve esse troço? Para prever (sem ter gastar dinheiro fabricando e testando) o que vai acontecer com carros na chuva, com prédios no vento, com navios no mar... E prever o que você quiser, na verdade.

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