Enquanto Me Beija

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Depois daquele episódio tenebroso na aula de química orgânica, o fim do semestre e as últimas provas passaram tranquilas.

Hoje eu estava ali em algum lugar qualquer de São Paulo, descendo do carro do namorado da amiga de uma amiga da minha prima.

Você nem precisa pensar muito no porque estou aqui: é uma festa e eles iam conseguir me fazer entrar.

E sabe quem vai estar na festa? O Jão.

Era a minha chance de redenção depois daquele encontro em Portugal.

Já era madrugada quando finalmente chegamos ali, a viagem tinha sido longa e cheia de engarrafamentos. Eu estava com medo que o Jão já tivesse ido embora, mas a festa ainda estava cheia.

Pessoas demais.

Bebidas demais.

Logo eu estava perdida naquela maré de gente.

Era sufocante e eu só tentava encontrar uma parede para ficar quietinha no meu canto e procurar por ele.

- Ei, você é a menina do refrigerante - alguém gritou no meu ouvido.

Me virei e fiquei frente a frente com ninguém menos do que o Jão.

Mas não era o Jão que eu esperava encontrar.

Era uma versão cheirando bebida barata.

Com os olhos quase fechados.

Ele estava completamente bêbado.

E ainda assim era o Jão.

Eu fico roxa. É disso que ele lembrava? Talvez não fosse o meu momento. Decido dar meia volta antes que eu me envergonhe mais ainda.

- Ei, espera, está tudo bem. Agora eu sei por quê eu gosto tanto de um refrigerante gelado - ele segurou o meu braço por um instante e eu parei para escutar.

- Você gosta de sofrer? - eu perguntei enquanto alguém me empurrava.

- É assim que as melhores músicas nascem - ele gritou enquanto abria os braços e recebia olhares feios das pessoas a sua volta.

- Ha! Quer dizer que a sua próxima música vai ser sobre refrigerantes? - no segundo em que eu gritei aquilo para ele me arrependi.

Ele começou a rir.

A rir.

E ele riu tanto que lágrimas saíram de seus olhos.

Eu devia estar mais que vermelha.

Nem tinha sido tão engraçado.

- Eu já tenho uma chamada álcool, não é mesmo?- ele falou finalmente encerrando sua sessão de risos.

- É um bom ponto de vista. Um álbum só sobre bebidas talvez seja uma boa. Eu gosto de chocolate quente - eu respondi.

Ele riu.

- Sim. Eu lembro de você no aeroporto- ele lembrava? De mim?

Fiquei vermelha pela terceira vez em menos de 5 minutos, devia ser um record. Era isso. A minha função neste mundo era passar vergonha. Só podia ser.

Eu desisti daquela conversa.

Virei se costa e comecei a correr (o que quer dizer que só sai empurrando várias pessoas enquanto tentava encontrar um lugar mais calmo).

Achei um lugar em que a música era mais baixa ao menos - a quantidade de pessoas era a mesma.

- Céus, essa festa está terrível - eu falei para ninguém especial.

-Já estive em piores - nem me dei o trabalho de me virar. Devia ser mais um bêbado qualquer da festa.

- Parece que ninguém teve física no colégio aqui - suspirei indignada- dois corpos não conseguem ocupar um mesmo espaço.

Risos.

Eu conhecia aquela risada.

Me virei e percebi que era o Jão.

O Jão.

Me ouvindo falar sobre física no meio da festa.

- Como assim? - ele perguntou. Ao menos ali não precisávamos gritar.

- É pouco espaço para tanta gente, foi isso que quis dizer - eu tentei corrigir.

E foi quando tudo aconteceu rápido demais.

Alguém me empurrou.

Ele quase tropeçou.

Eu me segurei nele.

E foi assim que em um piscar de olhos nossos lábios se tocaram.

Ou talvez fosse a minha imaginação.

Tinha sido tão rápido quanto o bater de asas de um beija-flor (você sabia que um beija flor pode bater as asas até 4800 vezes por minuto?)

Me afastei com a mesma rapidez e percebi que o Jão estava de olhos fechados.

Eu não podia deixar aquela chance escapar. Quando mais iria estar tão perto do Jão?

Avancei devagar e estava quase tocando os lábios dele quando ele começo a falar algo.

Parecia um nome.

Ele estava ssurrando um nome.

Cheguei ainda mais perto para ouvir.

Ele tinha dito Pedro?

Qual Pedro?

Quem era Pedro?

A minha cabeça já girava de curiosidade quando ele abriu os olhos e eu vi lágrimas ali. Dessa vez não pareciam ser de alegria.

Não pensei duas vezes antes de abraça-lo bem apertado.

Não pensei duas vezes antes de abraça-lo bem apertado

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Às vezes um abraço vale bem mais que mil palavras.

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Você já viu um beija-flor parado?
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