Setembro, uma meia duzia de gotas de chuva caiam em plena avenida paulista, não estávamos a sós, estávamos tão juntos que quase podíamos nos tocar com os olhos, os seus ? Falavam comigo como naquela vez que te encontrei sentado em um banco de transporte publico as 7 horas da manhã. E como foi longa a nossa viagem, a nossa troca de olhares, porque foi ali que mergulhei em você pela primeira vez, e nem tinha certeza se poderia fazer isso outras vezes porque você desceu no ponto seguinte, então todos os dias naquele mesmo horário, mesmo banco, mesmo transporte eu te esperava, esperava ver você passar de um lado para o outro no vagão, olhando insistentemente o relógio a procura de algum refúgio para que não se sentisse tão patético por ter perdido o horário tocando violão até as 3 da manhã, e consequentemente perdido a hora, quando te encontrei de novo meus olhos sorriam como nunca, e enfeitavam a rua como aquela musica que dizia " se essa rua se essa rua fosse minha", mas seus olhos eram meus, todos os olhares eram meus e a sua existência ali era a poesia mais bonita que eu já tinha escrito, nas calçadas das ruas por onde eu passava, nos vidros do transportes, nos piches dos muros da cidade, você estava ali por toda parte, ou sera que era eu quem o via por toda parte?
Eu te vi mais algumas longas vezes, em dias de chuva, em dias ensolarados, sua pele brilhava, seus olhos sorriam e eu sentia a vibração do sangue que percorria as suas veias, naquele momento, você não partiu ali, não para um lugar tão longe, eu ainda conseguia te enxergar, mesmo quando nem você se enxergava no meio da multidão, eu te via, seu sorriso sempre brilhou mais do que as multidões do transporte as 7 da manhã, seus devaneios que te faziam pensar que tudo é loucura, mas você nunca foi alguém com tanta razão. Você volta pra casa todos os dias as 6, e o mundo olha atentamente teu cansaço segurando o casaco em uma das mãos e o seu livro preferido na outra, mudando a musica insistentemente no celular, seu lar.
Daqui eu consigo ver quando você vai partir, ou pelo menos tem que, quando olha de uma lado para o outro e não acha o mapa dos trilhos e desce correndo quando a porta abre, como se quisesse escapar ou pelo menos não se perder, a sua cor é escura como a cidade, seus olhos tem um universo em colapso dentro deles, e ninguém viu que ali em meio a tanta gente apressada o mundo nascia a cada piscada, a cada sorriso frouxo pra tela do celular, a cada passada de musica transformando você na pessoa que manda e desmanda na festa, fazendo você se entreter por si. Quando você partiu eu tinha dois olhos, e podia ver o mundo de todas as formas inclusive de ponta cabeça, e foi de ponta cabeça que você viu como tudo faz sentido, ou como pelo menos as flores que a Mercedes plantou na calçada fazia sentido também, para combinar com a sua cor preferida AMARELO e que sempre te adornou tão bem, as flores, as cores, os sabores, os amores, todos eles guardados na caixinha de segredos que não era segredo pra ninguém, e nem pra mim, nem mesmo aqueles que você queria esconder do mundo, eu sabia.
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Quando você voltar
RomanceQuando Você Voltar É uma coletânea se textos sobre amores que nos fazem existir, mesmo que partam, ou nos partam. Se lembra quando seu grande amor foi embora pela primeira vez ? não se lembra ? porque nunca teve ou porque ele nunca foi ? Por que s...