Talvez, e só talvez, eu chore...

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Eu queria que você soubesse que apesar de toda vontade de tirar o nó que sinto na garganta e no centro do peito, não consigo.


Eu queria saber o que dizer nas situações em que eu preciso dizer muito, e agora como eu preciso dizer muito.


Porque é sempre sobre sentir muito, e não conseguir guardar as palavras dentro de si, só que agora a essa altura, e já estamos a uma altura e tanto não me restam mais palavras, só me restam muitos silêncios, longos e tortuosos silêncios, incompletos sem ter muito o que dizer e porque dizer, e logo eu que nunca me faltaram palavras, você sabe.


Eu queria poder falar que tem muita coisa acontecendo aqui, dentro do peito, dentro do corpo, do lado de dentro, eu queria poder dizer tanta coisa que ficou entalada a medida que nos vimos, que nos tocamos, que nos sentimos inteiros, eu queria poder dizer que ainda estou inteira, e que é assim que me sentia quando levantava às 5 da manhã para o trabalho, quando colocava a roupa no corpo franzino, quando tomava a xícara de chá para enfrentar o mundo mais uma vez, mas ao que parece a cada dia fica mais difícil levantar inteira e sóbria, depois de você já não sei mais o que é ser sóbria, ou estar em paz, é que o depois é sempre o que nos acomete, a crise do depois, o tempo depois, o deixar para depois, e eu gostaria de poder dizer o que não sei como, não sei onde, não sei.


Mas depois que a ficha cair talvez eu chore um bocado, talvez eu chore pouco, ou talvez nem chore. Talvez eu inunde a sala de estar  de lagrimas incompreendidas e te veja escorrer pelos dedos entre um reflexo é outro dessa água salgada que escorre os olhos, talvez eu me rasteje aqueles míseros centímetros atrás da porta só pra parecer mais um drama daqueles filmes americanos de adolescente que costumávamos assistir juntos e rir da capacidade cognitiva dos personagens. Talvez eu me entregue total e absoluta ao sentir solto, amargo e rouco de que essa solidão e a ausência do teu ser me causou. Mas talvez eu não chore, talvez eu tenha palavras, e ainda assim talvez eu não as tenha, ou não as queira dizer de fato. Eu queria que você soubesse que depois de nós, apesar de todo nó que ainda sinto no peito e nos punhos ainda estou inteira, e o que eu queria que você soubesse é que apesar de você, o meu pesar é não ter sido você.

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