Quando você voltar

As Marcas da pele são suas

Esse lugar o qual te escrevo com o coração do lado de fora do peito é para dizer sobre as partidas, e antes que chegue a sua partida. Antes que você se vá, de fato, eu quero e espero que você me encontre nessas palavras, nessas páginas, em cada esquina, nas ruas do seu bairro e do meu, nos sambas de roda, nas paredes e no chão da sua casa, no gosto da sua cerveja e na ponta do seu baseado, nas páginas dos seus livros, nos seus discos, nos seus riscos.

Antes de você ir eu vou deixar a luz acessa e a mesa posta, vou fazer café e assar seu bolo preferido, vou dançar com você pelos corredores da casa, dentro do banheiro e pelos seus vícios, vou te ouvir cantar no escuro depois de uma transa, te ouvir falar das vidas e das dores do mundo, de suas perdas, ouvir falar de você, sentir sua gritaria mesmo quando você ficar mudo e com a cara fechada, marcar sua pele de canetinha, já que diferente de você eu não sou tão boa assim com linhas, e não vou deixar você esquecer que eu estive aqui, eu vou te pertencer.

Na noite em que te escrevo com a palma das mãos em carne viva, com o peito cheio de duvidas incertezas e malicias eu quero que você me veja,  quero que me olhe através da luz da manhã que ilumina o quarto no domingo, quero que me sinta, me toque e absorva de mim tudo o que puder sentir porque quando você partir eu vou ficar, vou ficar com seu cheiro agarrado na blusa e entre as mechas do meu cabelo, a força de seu toque marcado no meu corpo por entre as coxas, os braços e todo lugar em que seus dedos percorreram pra me achar, e os hematomas de uma intensidade de desejo  o qual não pude escapar, marcando minha epiderme como tinta de tatuagem só pra dizer que você esteve aqui, e ainda está. E que depois de todo esse tempo em que carreguei a paixão numa mala e o desejo no fundo da bolsa com todas as minhas bagunças, e que fui sua como sempre quis, até agora e nunca pude ser, e só.

Depois que você se for eu vou esperar você voltar, esperar que ainda que a distância nos deixe parados no meio da rua sem dizer uma palavra como completos desconhecidos, que a gente não se encontre pelas ruas da cidade, eu espero que você me sinta em cada centímetro da tua pele quando deslizar pelas partes onde minhas mãos passearam enquanto te banhava, que você deslize pelas minhas cicatrizes e se lembre de como tocá-las, e que você se lembre, finalmente que deslizei também pelas suas, e sei como fazer parar de doer, quero que se lembre de mim quando eu passear com os lábios molhados de desejo pelos poros da sua pele, pelas suas marcas, cores, linhas, eu quero que você saiba que eu estive aqui, e ainda estou, e só.