Sobre os Recomeços.

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Sobre alguns recomeços...

 Me doeu quando você foi embora, e sabe ?

Ainda me dói


Saiu batendo à porta, não disse tchau e sequer agradeceu pelo tempo vivido, não que quando alguém sai das nossas vidas deva agradecer copiosamente pelo que vivemos, mas se lembra como semana passada contávamos alguns causos na cama antes de dormir e você sorria e me dizia que tinha sorte em ter me encontrado? parece que a sorte simplesmente evaporou da noite para o dia, ou entre um sono e outro.


Você já não ocupava seu espaço na cama com tanto conforto como quando dormimos juntos pela primeira vez, mas seu desconforto em ocupar aquele espaço respirava pesado junto com você e todas as indagações que no fundo e sabia que você fazia todas as noites antes de se deitar.

 Me doeu quando não parecia mais ser nós os donos do nosso próprio destino, e sabe ainda mais ?

Me dói a lembrança do sorriso, da fala ácida, do toque quente na pele, de todas as vezes que me pegou no colo e me ajudou a limpar as feridas de fora e de dentro do corpo, de todo carinho dispersado entre os cômodos da casa, das mãos na minha nuca, do jeito que enrolava meu cabelo com os dedos e dizia que eles tinham sido projetados por deus porque você adorava como eles que crescendo sempre para o alto parecia sempre com uma coroa, do passeio que fazia pelo meu corpo no fim da noite, como se cada curva não parecesse perigosa, e no fim ser a estrada que só você dominava.


Me dói lembrar de quando éramos um casal como esses que a gente vê no metro como você mesmo costumava dizer depois de ouvir milhares de vezes a nossa música favorita tocar no rádio as seis.


Me dói olhar as lembranças, a aliança jogada em um canto da sala, as flores artificiais que você me deu de aniversário, lembra ?Me dói lembrar que algumas das vezes que eu estava prestes a despencar de um abismo era você que segurava minhas mãos e dizia "Não se preocupe, eu estou aqui com você, vai dar tudo certo."

E no final dava, sempre dava.

Os problemas sempre davam certo, e você sempre dava o seu jeito de me fazer existir, e me sentir imensa.

Menos a gente, isso não dava, não dava pé, não dava pano pra manga, Não dava continuidade Só dava fim, nem recomeço dava.

Porque tem coisas que não foram feitas pra dar certo em demasia.

Tem coisas que só ensinam. E ainda me dói lembrar que você era um bom professor. Que gostava de matemática e era absurdamente bom com os números, enquanto eu era demasiadamente boa com as letras.

Tem hora que dói, e dói tanto que parece que sufoca, a ferida ainda está aqui, não fechou, mas tem me mostrado que cada dia de dor a mais é um dia de cura a mais também. Ainda me dói. 

Hoje dói.

Amanhã dói.

Mas depois ? Ah o depois não me pertence, e um dia ?Uma dia a ferida fecha 

Seca Cicatriza

Um dia para de doer.

Quando você voltarOnde histórias criam vida. Descubra agora