Refém

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Me lembro de todas as vezes que bati os pés no chão dizendo que dessa vez eu não seria refém do afeto, me lembro de quando você não sorriu, não com os olhos, e eu sempre gostei do sorriso que você me lançava com os olhos, como se esses quisessem me alcançar já que eu sempre estava prestes a despencar de um abismo. Cheguei a te olhar no fundo dos olhos pedindo socorro mas seu sorriso não estava lá, nada estava, estava vazio, obscuro e nebuloso. Me lembro de quando te pedi um favor, mas você foi, não me ouviu, e só. E desde então tentei achar dentro do peito qualquer ruído que pudesse te calar em mim de modo que não pudesse mais ouvir sobre seu nome, saber seu nome, que agora já era o maior perigo que o peito poderia enfrentar. Enquanto eu sentia a pele se rasgando inteira, o corpo pedindo socorro, os olhos, ah.

São sempre os olhos a falar primeiro, são sempre os olhos a falar por nós, e naquele momento sentir que quando me olhava nos olhos fazia minha alma refém da sua em um imenso vazio que era o misto de sentimentos de quando me tocava as costas e dizia "vai ficar tudo bem" sempre com o fundo dos olhos, porque os lábios só conseguiam dizer "como vai?" e o corpo pedia por abrigo, nos braços do desconhecido. E já que são sempre os olhos a falar primeiro, porque nunca me ouviu gritar por você ? enquanto meus sentimentos tremeluziam em cima da cabeça, e as mãos te tocavam de forma tão doce, porque enquanto te olhava nos olhos, presa, prometia mundos e fundos, mas será que alguma vez os seus olhos souberam me ler? será que alguma vez sentiu meu coração pulsar sobre sua presença e as pernas vacilarem ao seu olhar que de encontro ao meu me partem e me deixavam espalhada e infinita ?

Porque todos esses dias evitei te olhar nos olhos, mas uma vez refém dos seus, porque são sempre eles a me partir primeiro.

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